sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Comunidades dão exemplo no manejo florestal

Paula Scheidt, CarbonoBrasil




A proteção das florestas é um dos temas centrais em jogo nas discussões internacionais sobre um novo acordo climático mundial, porém como isto funciona na prática? Projetos de manejo florestal comunitário no Brasil e no Nepal dão bons exemplos do que pode ser feito para garantir que as matas conservem a biodiversidade local ao mesmo tempo em que gerem benefícios econômicos e sociais para pessoas.

No oeste do Pará, famílias integrantes da Cooperativa Mista Flona Tapajós Verde (Coomflora) vivem hoje da extração sustentável da madeira de uma área de 32 mil hectares, que é manejada por eles desde 2005. “Nos primeiros anos tivemos dificuldade para vender a madeira, pois compradores queriam só alguns tipos. Mas neste ano, vendemos 20 mil metros cúbicos, valendo 197 reais cada, o que nos rendeu R$ 3,9 milhões”, comemora o presidente da Coomflora, Sérgio Pimenta Vieira.

A iniciativa partiu da própria comunidade, em 1991, que começou a discutir com o governo como colocar em prática a idéia. Em 2000 começaram a desenvolver o plano de manejo. O apoio financeiro inicial do Banco de Desenvolvimento Alemão (KWF) na capacitação técnica, para derrubar as árvores sem danificar outras ao redor ou abrir estradas com menor impacto possível, foi fundamental.

“Se quiser a floresta em pé, o governo tem que assumir e oferecer a comunidade assistência técnica e apoio gratuitos”, sugere o diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Antonio Carlos Hummel. Para ele, este ainda é um gargalo importante a ser resolvido para desenvolver bons projetos, assim como o capital de giro inicial.

Hummel diz que esta experiência foi bem pensada e planejada, o que também foi uma peça-chave para o seu sucesso. Agora, a comunidade colhe os bons frutos do esforço. A Coomflora tem hoje um escritório, caminhão, 14 motoserras, energia elétrica vinda do uso de painéis solares, cinco computadores e outros bens. Muito mais que isso, os benefícios podem ser visto na qualidade de vida das famílias. “A gente vê claramente como mudou a vida das pessoas. Nós que vivemos na floresta sabemos como é importante que ela esteja sempre verde para nós e para as futuras gerações”, afirma Vieira.



Foram criadas 15 mil florestas manejadas pelas comunidades, representando 1,3 milhões de hectares ou 23% do total de Florestas. “Com isto, conseguimos transformar nossas montanhas cinzas, em montanhas verdes”, diz o chefe da Federação de Usuários de Manejo Florestal Comunitário do Nepal, Ghan Shyam Pandey.

Seguros do direito sobre as terras florestais e sobre seu papel na sua conservação, as comunidades encontraram motivação para trabalhar em conjunto. “Temos uma relação histórica com a floresta. Ela é nosso guia espiritual”, comenta Pandey.

“Se as comunidades locais não tiverem controle sobre as florestas, não funcionará”, afirma Duncan Mcqueen, do Grupo de Recursos Florestais Naturais do Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED).
Mcqueen ressalta que, nas discussões sobre mudanças climáticas o dinheiro não é o problema para iniciativas na área florestal, uma vez que ele existe na comunidade internacional. A grande questão é justamente, quem será pago para prevenir o desmatamento. Por esta razão, é preciso mostrar confiança da efetividade na proteção das matas que, como demonstram dois projetos distintos e distantes, é algo viável de ser alcançado.

(CarbonoBrasil)

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