segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Índios, ribeirinhos e pesquisadores se reúnem para pensar novas formas de proteger o Xingu


Exposição "Xingu+, Diversidade Socioambiental no Coração do Brasil"

O Encontro Xingu + Diversidade Socioambiental no coração do Brasil aconteceu entre 27 e 29/9, em Altamira (PA). O objetivo foi compartilhar informações sobre a diversidade dos povos do Xingu e da biodiversidade da região, as ameaças que pesam sobre as Áreas Protegidas e refletir sobre estratégias de valorização do corredor de diversidade socioambiental da Bacia do Xingu ao longo dos 27 milhões de ha, um dos maiores do mundo, formado por Terras Indígenas e Unidades de Conservação.
A abertura do evento contou com uma exposição fotográfica retratando os 25 povos indígenas que vivem no Xingu. Veja aqui algumas imagens que fizeram parte da exposição.

 Índios, ribeirinhos e pesquisadores se reúnem para pensar novas formas de proteger o Xingu

Esta notícia está associada ao Programa: 
Ameaças como desmatamento, estradas, hidrovias e hidrelétricas no Rio Xingu e articulações para proteção do patrimônio socioambiental da bacia foram temas debatidos no encontro realizado em Altamira (PA) entre 27 e 29/9
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O Encontro Xingu + Diversidade Socioambiental no coração do Brasil teve como objetivo compartilhar informações sobre a diversidade dos povos do Xingu e da biodiversidade da região, as ameaças que pesam sobre as Áreas Protegidas e refletir sobre estratégias de valorização do corredor de diversidade socioambiental da Bacia do Xingu ao longo dos 27 milhões de ha, um dos maiores do mundo, formado por Terras Indígenas e Unidades de Conservação.

Cacique Sadea Juruna, Aritana Yawalapiti, Eduardo Viveiros de Castro (Museu Nacional), Philip Fearnside (Inpa), Michael Heckenberg (Universidade da Flórida) e Antonio Guerreiro (Unicamp)

Organizado pelo ISA, entre 27 e 29/9, em Altamira (PA), a abertura do evento contou com uma exposição fotográfica retratando os 25 povos indígenas que vivem no Xingu, e teve a participação de aproximadamente 120 pessoas, entre lideranças indígenas, extrativistas, especialistas, representantes de organizações da sociedade civil e governo federal. Cacique Raoni observa as fotos históricas de seu povo Mebengokrê
Veja aqui a galeria de fotos da exposição.
“Pela primeira vez temos a oportunidade de pensar todo o rio e todos os povos que habitam o Xingu como uma unidade ligada por este rio. A diversidade tem que ser transformada em uma grande unidade. O desafio está em unir os diferentes povos”, disse o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, sócio-fundador do ISA, no início do encontro.
André Villas Bôas, secretário executivo do ISA, abriu o encontro lembrando que também estava se iniciando a Mobilização Nacional Indígena que reuniu povos indígenas de todo o país. “Nós estamos aqui para fortalecer a luta do Xingu sem perder de vista a luta do Brasil”, disse.
Durante três dias os participantes, que participaram de quatro rodas de conversa, falaram sobre o que existe e como se deve cuidar da “Casa Grande do Xingu”, definição usada pelo cacique xinguano Aritana Yawalapiti ao falar da Bacia do Xingu, onde vivem cerca de 600 mil pessoas.
Participantes do encontro abrem faixa em apoio à mobilização nacional indígena
Os participantes falaram sobre o patrimônio a ser protegido, as ameaças de desmatamento, projetos de estradas, ferrovias, hidrovias e hidrelétricas que pretendem cortar a Bacia do Xingu para gerar energia e escoar a produção de grãos. Falaram também sobre as possíveis articulações entre os povos e instituições para fortalecer o patrimônio socioambiental da bacia.

O antropólogo Mauro Almeida, que ao lado do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988, e de outros líderes seringueiros, ajudou a criar e consolidar as primeiras Reservas Extrativistas do Brasil, falou sobre os desafios de integrar a gestão dos territórios indígenas e outras Unidades de Conservação, sobretudo com as Reservas Extrativistas, áreas dos seringueiros.

Mauro, que é sócio do ISA, acredita que é preciso criar uma nova organização política entre os povos na gestão da Bacia do Xingu. “Nos Estados Unidos eles chamam de Shadow Government, ou governo sombra. Aqui eu acredito que poderia funcionar um conselho entre os povos que pudesse falar, opinar e trazer uma unidade de discurso que fortaleça a organização política entre índios e seringueiros (extrativistas) de todo o Xingu”. Benki Pianko Ashaninka, liderança do povo indígena Ashaninka, do Acre, lembrou da experiência da Aliança dos Povos da Floresta formada na época de Chico Mendes entre seringueiros e indígenas.

O presidente da Associação Terra Indígena Xingu (Atix), Winti Kisêdjê ressaltou a importância de proteger o Xingu. “É preciso criar esta linha entre todos os povos do Xingu para continuar este diálogo sobre uma rede de informação e proteção sobre o nosso território, muitos povos não estão aqui, precisa organizar outro encontro com mais povos, principalmente os da região [de Altamira]”.

Obras de infraestrutura

Um diagnóstico preciso e alarmante sobre as ameaças à bacia foi debatido. Segundo a advogada do ISA, Biviany Rojas, neste momento, estão em trâmite projetos de construção e pavimentação de mais de dois mil km de rodovias, uma delas cortando a Bacia do Xingu. Trata-se da antiga BR-080, hoje MT-322, principal estrada do projeto Mato Grosso Integrado.

Felício Pontes (MPF), André Villas Bôas (ISA), Antônia Mello (Movimento Xingu Vivo), Juan Doblas (ISA) e Biviany Rojas (ISA)
Já Juan Doblas, especialista em geoprocessamento do ISA, alertou para a chegada de grandes projetos de mineração na Amazônia. Citou a empresa canadense Belo Sun, que aguarda licença ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Pará (Sema-PA) para iniciar o maior projeto de mineração a céu aberto do país, distante cerca de 10 km da barragem principal da usina de Belo Monte e a 9,5 km da Terra Indígena Paquisamba.

“A pressão sobre a floresta da Bacia do Xingu está aumentando em diferentes formas e por diferentes motivos, com a aprovação do novo Código Florestal, a política governamental e alta de preço das commodities. Além do aumento do desmatamento, crescem os ramais na floresta para retirada ilegal de madeira, proliferam garimpos ilegais e o fogo”.

Em relação à usina de Belo Monte, o cientista Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) afirmou que não será a única hidrelétrica do Xingu. “Durante quatro meses do ano Belo Monte vai ficar sem girar uma turbina sequer. As turbinas representam a parte mais cara na construção de uma usina hidrelétrica. Porque governo e empresas privadas iriam investir tanto dinheiro em turbinas?”. Fearnside acredita que o governo deverá construir ao menos mais uma hidrelétrica acima de Belo Monte para compensar o tamanho do reservatório da usina.

Reservas Extrativista na Terra do Meio

Os extrativistas também deram seu depoimento. Raimundo Belmiro, presidente da Associação de Moradores da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio (Amora), falou em nome dos mais de mil extrativistas que vivem na região Terra do Meio, centro do Pará, trabalhando na comercialização de produtos não madeireiros.

“O governo criou as unidades e foi embora”, desabafou Belmiro. O extrativista passou mais de um ano sob escolta da Força Nacional, depois de receber inúmeras ameaças de morte de grileiros e pistoleiros da região. As Resex do Riozinho do Anfrísio e do Iriri foram decretadas, entre 2004 e 2006, como parte de um grande pacote ambiental que serviu como resposta do governo federal à série de assassinatos, principalmente à morte da irmã Dorothy Stang. [A missionária Dorothy Stang foi assassinada em Anapu (PA), em 2005, quando caminhava para o trabalho em um assentamento do Incra]. (saiba mais)

Hoje, apenas três funcionários do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), são responsáveis pela proteção, fiscalização e desenvolvimento social de populações que vivem em de mais de oito milhões de hectares de Áreas Protegidas na Bacia do Xingu.
“Enquanto bilhões são investidos em hidrelétricas, mineradoras, asfaltamento de estradas, incentivos para a soja e gado, os recursos investidos nas Áreas Protegidas não garantem o mínimo necessário para o desenvolvimento das populações e valorização da diversidade socioambiental que existe no Xingu”, analisou Marcelo Salazar, coordenador adjunto do Programa Xingu do ISA.

ICMBio planeja ações na Terra do Meio
 

O presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Roberto Vizentin, admitiu empenho do órgão na criação de um mosaico de Áreas Protegidas no Xingu. “Temos um foco de criar um mosaico de conservação na região da Terra do Meio, onde se concentram as Terras Indígenas e Unidades de Conservação, para que lideranças, gestores da Funai e do ICMBio participem juntos de um planejamento e definição do que fazer, onde fazer e como fazer ações neste mosaico Terra do Meio”.

O cacique kayapó Raoni Metuktire, que aos 84 anos ainda lidera com muita disposição a luta dos povos indígenas do Xingu por seus direitos, encerrou o encontro com um recado ao povo Juruna, uma das principais etnias atingidas pela construção de Belo Monte “Eu quero estar com vocês, mas vocês vão apanhar e vão ter que se unir pra se defender”. Em seguida, Raoni chamou a jovem Juma Xipaya, liderança indígena da região, para dividir com ela o discurso final.

“Nós aqui em cima não temos uma associação como a dos Kayapó, nós não temos uma organização como os índios do Parque (Parque Indígena do Xingu), como a Associação Kabu, nós estamos perdidos. Por isso este encontro tem que acontecer ano que vem e quantas vezes forem possíveis”, disse Juma.
 
Uma carta assinada por povos indígenas, comunidades tradicionais, cientistas e pesquisadores que atuam na Bacia do Xingu, foi divulgada no final do evento, exigindo o fim da destruição da Bacia do Xingu, da PEC 215, do PLP 227 e da Portaria 303 da AGU. (leia aqui a íntegra da carta).
e da Portaria 303 da AGU. (leia aqui a íntegra da carta).
Leticia Leite ISA 

sábado, 26 de outubro de 2013

Boaventura: "Dilma tem grande insensibilidade social", diz guru da esquerda

RICARDO MENDONÇA
DE SÃO PAULO

Referência de militantes de esquerda em todo o mundo, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos diz que há retrocessos em segmentos dos direitos humanos no Brasil e critica a presidente Dilma por demonstrar "insensibilidade social".

Segundo ele, isso fica "ainda mais evidente por conta [...] do estilo Lula, que era de muito mais aproximação com os movimentos sociais".
Para Boaventura, no entanto, Marina Silva (PSB) não representa uma alternativa para a esquerda. Ele diz que sua eleição fortaleceria correntes religiosas conservadoras. Além disso, entende que, na economia, Marina seria um retorno ao que havia antes de de Lula. "Ela é uma cara nova para a direita", afirma.

Boaventura veio ao Brasil para o lançamento de dois livros: "Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos" e "Direitos Humanos, democracia e desenvolvimento", o segundo em coautoria com a filósofa Marilena Chaui.

Folha - "Se Deus fosse um ativista dos Direitos Humanos" é um título provocador. Sugere que o senhor acredita em Deus. E sugere que Deus poderia dar mais importância para os direitos humanos. É isso?
Boaventura de Sousa Santos - De fato, não. O título é provocador. Eu não me comprometo com a existência de Deus. Sou como Pascal [filósofo francês, 1623-1662]: diria que não temos meios racionais para poder afirmar com segurança se Deus existe ou não. O que podemos é fazer uma aposta: apostar se existe ou se não existe. Como sociólogo, o que penso é que há muita gente que aposta na existência de Deus e que organiza sua vida ao redor disso.
Estamos num momento de fortes movimentos sociais em todo o mundo, com protestos, muita indignação, muita revolta. Alguns desses movimentos trazem no seu interior pessoas e grupos que seguem diferentes religiões. Ou que transformam a religião e a existência de Deus no motivo da ação ou num impulso para a ação. Portanto, eu tive curiosidade de analisar. Esse fenômeno é extremamente ambíguo.

Fabio Braga/Folhapress
Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, em entrevista à Folha
Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, em entrevista à Folha
 
Quando surgiu a curiosidade?
Eu já tinha notado desde o Fórum Social Mundial de 2001, onde vi que havia movimentos sociais e organizações de diferentes partes do mundo com vivências religiosas, como a Teologia da Libertação e outros. Tinham uma dinâmica de grupo onde o elemento religioso, espiritual, era forte. Havia movimentos indígenas, para quem o elemento da religiosidade é sempre forte. Essa dimensão do transcendente é que me fascinou, pois eu venho de uma cultura eurocêntrica, que há muito tempo tenho criticado, mas sou filho dela, por assim dizer. Essa cultura tinha resolvido o problema através do que chamamos de secularismo, que é expulsar a religião do espaço público.

A presença da religião na política está crescendo?
A religião nunca saiu verdadeiramente da política. Temos sociedades que são laicas, mas cujos estados não são. É o caso da Inglaterra, por exemplo. E temos sociedades onde a convivência é mais laica do que outras. Tanto assim que hoje a gente faz distinção entre o secularismo e a secularidade. Secularismo é uma atitude mais radical, de deixar que a religião fique exclusivamente no espaço privado, na família, na vida. Secularidade é aquela que permite que haja expressões [religiosas] no espaço público como afirmação da própria liberdade de todos os cidadãos.
Mas é evidente, a gente sabe, a maneira com que a Europa resolveu a questão da separação da igreja e do Estado no século 17, depois de uma guerra enorme, nunca foi uma separação total. A igreja continuou a ter uma grande influência. Foi assim no esforço da colonização. Continuou com grande influência, ainda tem, nas agendas que o papa Francisco disse recentemente que são as agendas da cintura para baixo (risos), acerca das orientações sexuais, aborto, divórcio. Obviamente são questões de interesse público.
O que parece é que a crise do Estado secular trouxe uma maior presença da religião no espaço público. No mundo árabe, no mundo indiano e também no mundo ocidental. Começou a emergir nas televisões religiosas, cada vez mais e sobretudo com as correntes evangélicas e pentecostais. É uma presença pública muito mais forte, mas também um interesse em influenciar a vida pública, a vida dos Congressos, dos parlamentos. É o que acontece hoje no Brasil.

No Brasil isso parece mais evidente a partir da eleição de 2010, quando o assunto chegou a dominar o debate eleitoral. Como tem sido no resto do mundo?
Na Europa não é tão forte quanto aqui ou nos Estados Unidos. Mas encontramos no próprio mundo islâmico, por outro lado, diferentes formas de afirmação religiosa que não são todas fundamentalistas. Algumas são bastante moderadas. Mas que também se recusam a pensar que sua dimensão espiritual e religiosa não têm nada a ver com suas lutas.
Então o mundo hoje é mais diverso, e dessa diversidade, no meu entender, faz parte uma maneira muito diversa de ver a religião na vida pública. Isso está surgindo por todo lado, com formações bem distintas.
Algumas continuam na base da sociedade, como acontecia com a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base. Mas temos nos últimos anos, no Brasil muito claramente, a influência [religiosa] na própria cúpula do Estado, na estrutura política do Estado. Isso é novo.
Era uma corrente que já vinha dos anos 80 dos Estados Unidos. Uma corrente muito conservadora. Um dos grandes líderes dessa corrente nos Estados Unidos fez uma previsão que praticamente se confirmou. Ele disse assim: "quando um dia não houver uma grande diferença entre democratas e republicanos, e se forem todos mais ou menos conservadores, podemos começar a jogar golfe tranquilamente, pois significa que cumprimos a nossa missão".

E a esquerda com isso? Seu livro é uma espécie de ajuste?
O pensamento crítico da esquerda, de uma sociologia crítica, sempre foi muito renitente em analisar o fenômeno religioso. Pois qualquer análise que não seja simplesmente dizer que religião é o ópio do povo fica como suspeita.
Minha experiência no Fórum Social Mundial fez-me crer que, se eu mantivesse essa atitude pouco complexa, eu deixaria fora da minha análise muita gente que genuinamente luta contra a desigualdade, a injustiça, a discriminação, a opressão. Não é gente alienada. É gente que realmente luta por um mundo melhor e que, no entanto, tem uma referência religiosa. Eu não posso considerar que isso é alienante. Então escrevi esse livro também para fazer as contas comigo mesmo.
Qual é a sua conclusão?

Termino dizendo que não há um Deus. Há dois: o Deus dos oprimidos e o Deus dos opressores. Enquanto a sociedade for dividida e houver tanta desigualdade social, penso que o Deus que estiver do lado dos oprimidos não se reconhece num Deus que esteja do lado dos opressores.

O outro livro é sobre direitos humanos, que parece refluir na medida em que aumenta a influência religiosa. Alguns políticos têm como principal plataforma o ataque aos direitos humanos. Quais são as relações entre as duas coisas?
É obviamente uma estratégia religiosa. É uma dimensão de todas as correntes conservadoras, de direita, que existiram ao longo do tempo. Houve, de fato, uma igreja progressista, de esquerda, que achou que sua missão era a missão evangélica do sermão da montanha, de estar com os pobres. Os pobres não estão no parlamento, estão nos bairros, nas favelas. E é para aí que os missionários devem ir. Mas há toda uma outra corrente que nunca aceitou que igreja ficasse fora do governo. Alguns deles entendem que a Bíblia, literalmente, dita o direito para os Estados e que, portanto, os direitos humanos não pertencem a esse direito bíblico. É como no mundo islâmico, onde há conceitos muito hostis aos direitos humanos.
Então, de vários lados, estamos a assistir a um ataque aos direitos humanos. Esse é o tema do meu outro livro, escrito por um sociólogo que se considera um cidadão ativista dos direitos humanos.
Eu também faço uma crítica aos direitos humanos. Mas uma crítica progressista: os direitos humanos são pouco. Então eles são criticados por mim por serem poucos. E a direita critica por serem muito. Eu digo pouco porque acho que a grande maioria dos cidadãos do mundo não são sujeitos de direitos humanos, são objeto de discurso de direitos humanos. São violados constantemente.
Agora, sobretudo após a queda do Muro de Berlim, em que as narrativas socialistas caíram em desuso, pelo menos até agora, o que ficou de luta por uma sociedade melhor foram os direitos humanos. Se o socialismo estivesse na agenda política, eu tenho certeza que essa direita religiosa incidiria completamente contra o socialismo.

Nessa questão dos direitos humanos, em que posição o senhor situa o Brasil hoje?
É uma leitura muito complexa. Há áreas e domínios dos direitos humanos em que tivemos conquistas extraordinárias desde o governo Lula. Eu considero [positiva] toda política de ações afirmativas, do reconhecimento de que há racismo na sociedade brasileira e de que é preciso tomar medidas para que afrodescendentes e indígenas possam ter acesso à educação, numa tradição que vinha desde há muito tempo com Abadias do Nascimento, mas que nunca teve êxito. Também o fato de criar um Brasil mais inclusivo, mais diverso, mais colorido, com mais consciência de sua diversidade étnico cultural. Penso que tudo isso foi um grande avanço.
Onde eu vejo que há retrocesso é em toda a área dos direitos humanos que trouxeram também no seu bojo aquilo que, para um desenvolvimentista, pode ser considerado um obstáculo.
Os direitos humanos trouxeram consigo o reconhecimento dos direitos coletivos. E os direitos coletivos do povos indígenas estão protegidos, internacionalmente, por convenções, aliás, que o Brasil assinou, sobretudo o convênio 169 [da Organização Internacional do Trabalho], que obriga consulta prévia, livre, informada e de boa fé. E de boa fé! E que, hoje em dia, depois da declaração das Nações Unidas de 2007 sobre os direitos dos povos indígenas, firma-se na jurisprudência da Corte Internacional de Direitos Humanos que sempre que estejam em causa a própria sobrevivência de um povo, seja uma barragem, seja um projeto de mineração, a consulta deve ser vinculante. Bem, nesse caso, eu tenho que dizer que tem havido retrocesso.
Não é só na demarcação de terras. Tem ainda a questão de saber se a concessão de novas terras são atribuição do parlamento e não do Executivo, o que seria a mesma coisa que dizer que nunca mais haverá qualquer concessão.
Então eu acho que a presidente Dilma está a perder uma batalha, está realmente com uma grande insensibilidade ao movimento indígena camponês, que foi uma grande forma de transformação em toda América Latina.
O senhor considera o governo Dilma de direita?

Eu venho da Bolívia, estive no Equador, conheço os outros países [da região]. Alguns deles são muito mais à direita no governo, é o caso do México. E lá estamos assistindo a uma grande vitória de um povo indígena que lutou contra uma barragem, La Parota, e conseguiu efetivamente parar essa barragem.
Eu colocaria a presidente Dilma no mesmo pé em que coloco o presidente da Bolívia [Evo Morales] e o governo do Equador. São governos que eu considero progressistas. Não os considero de direita. Eles, de alguma maneira, fazem muito do que sempre fez a direita: têm o mesmo modelo de acumulação, o mesmo modelo capitalista, o mesmo neoliberalismo, aproveitaram a mesma onda de extrativismo, com a reprimarização da economia.
Mas o que esses governos fazem e que a direita nunca fez na América Latina foi redistribuir esses rendimentos de alguma maneira. Distribuem muito mais que os outros governos. Para muitos grupos sociais, isso não é suficiente. Até porque essa forma de redistribuição é relativamente precária, não é com direitos universais, é algo que pode parar de um momento para outro. Mas há problemas. Os ambientais são extraordinários.
Qual o senhor citaria?

É certo que o Congresso é outra coisa. Mas eu fico espantado como é que é possível, estando a frente do país alguém como Dilma Rousseff, como é possível abrir uma discussão sobre a semente Terminator no Congresso. É a semente que fica estéril, a suicida. Isso está suspenso. É ilegal para o mundo inteiro. É um escândalo, se aprovar. Ela foi suspensa no âmbito da convenção de biodiversidade exatamente porque coloca os camponeses nas mãos da Monsanto e das outras três ou quatro empresas que têm a patente. Isso é o fim da agricultura camponesa.
Em muitos países é a agricultura camponesa que alimenta as populações, pois a grande indústria produz soja e outros produtos de exportação. A diversidade da produção agrícola é feita por pequenas propriedades, a agricultura familiar, a camponesa. Portanto isso significa arrogância dessas empresas transnacionais que têm acesso ao parlamento para ditar sua lei. E se você olhar bem, há uma aliança entre os religiosos evangélicos e os ruralistas. Então aqui há uma convergência de forças, uns que vêm da tradição ruralista, outros que vêm de uma tradição religiosa de direita, que se armou contra o comunismo e contra a revolução na América Latina.
Então não considero a presidente Dilma um governo de direita por sua capacidade de distribuição, agora há uma grande insensibilidade, que não vem de agora.
Onde mais há problemas?

Basta ver quantas vezes foram recebidas a CUT e outras entidades antes desses protestos: zero. Portanto significa que a presidente Dilma tem uma grande insensibilidade social, que se tornou ainda mais evidente por conta da posição do Lula, ao estilo Lula, que era de muito mais aproximação com os movimentos sociais. Isso perdeu-se. Eu considero uma perda muito grave.

A ex-ministra Marina Silva tem um discurso mais próximo desses segmentos que o senhor mencionou, meio ambiente, indígenas. Ela serve para a esquerda?
Eu penso que não. Sou amigo da Marina Silva, estive em vários painéis com ela e comungo com ela muitas causas ambientalistas. Mas acho que não porque a influência religiosa no país iria nitidamente continuar a desequilibrar. A dimensão religiosa que está por trás dela é uma dimensão que, no meu entender, tem mais um potencial conservador do que um potencial da Teologia da Libertação. Portanto é um potencializador de uma interferência conservadora na sociedade.
Isso pode ter outras dimensões para os direitos das mulheres, dos homossexuais, para as diversidades sexuais.
Por outro lado, sua política econômica, por aquilo que tenho visto e pelos apoios que ela recorre, é realmente uma tentativa de, com uma cara nova, uma mulher, repor o sistema que estava antes. Seria desacelerar ainda mais as políticas de redistribuição social que foram aquelas que, no meu entender, mais caracterizaram o período Lula.
Não penso que a Marina Silva esteja muito sensível a isso tudo. Então eu penso que ela é uma cara nova para a direita. Não é uma cara para a esquerda, no meu entender.

Milhares de pessoas foram às ruas no Brasil para protestar por diversas causas. Tudo muito rápido e inédito. O senhor tem alguma reflexão sobre o que ocorreu no país?
Analiso os diversos movimentos que surgiram no mundo desde 2011: a primavera árabe, o ocuppy [Wall Street, nos EUA], o dos indignados no sul da Europa e na Grécia, o movimento "Yo soy 132", que é contra a fraude eleitoral no México, o movimento estudantil do Chile em 2012 e também os protestos no Brasil.
Considero que 2011-2013 é um daqueles momentos no mundo como nós tivemos em 1968, 1917, 1848. São momentos de movimentos revolucionários.
O que os caracterizam fundamentalmente hoje? São sinais de que, em muitos países, estamos a entrar num processo de guerra civil de baixa intensidade: uma grande agitação social porque as instituições não funcionam propriamente. Na Europa, a rua é o único espaço público que não está colonizado pelo capital financeiro. Nos EUA, a mesma coisa. Há uma deterioração das instituições, uma ideia de que a democracia foi derrotada pelo capitalismo. No sul da Europa isso parece muito claro, e as ruas e as praças são os únicos espaços onde o cidadão pode se manifestar.

Quem é esse cidadão?
É um cidadão diferente dos [cidadãos dos] processos anteriores. Um erro do pensamento político foi pensar em cidadãos organizados que fazem essas revoltas. De fato, não é assim. Essas revoltas são feitas, normalmente, por jovens que nunca participaram de movimento social, de partidos, que nunca votaram, nunca estiveram em nenhuma ONG. E de repente estão na rua. Isso não foi só aqui. Foi no Egito, na Europa, nos EUA. São movimentos que surgem a partir de momentos em que as instituições parecem não dar respostas às aspirações populares. Obviamente são diferentes. Não se pode pôr a primavera árabe ao lado do Brasil ou do occupy. São coisas distintas.
O movimento do Brasil tem uma genealogia, uma história, semelhante ao movimento dos indignados de Portugal, da Espanha e da Grécia. São jovens democracias onde houve uma expectativa de uma social-democracia, uma democracia com fortes direitos sociais, de educação, saúde, transporte. Havia uma expectativa de uma sociedade mais inclusiva. Essa era a promessa. A democracia não é simplesmente mero voto e a representação política, mas se traduz em direitos sociais e econômicos. Portanto nesses casos [Brasil e indignados], os movimentos surgem da ruína dessas aspirações. Democracias suficientemente jovens para ainda acreditar que eles têm esses direitos.
Os occupy já nem têm sequer essa ilusão, pois a democracia americana é cada vez mais restringida e eu nem acho mais que é uma democracia a sério nos EUA; eu vivo lá metade do ano, como você sabe, e conheço o país.

Uma crise da democracia?
Aqui [no Brasil], a juventude se dá conta que aquela democracia que ela acreditou não funciona, está sendo derrotada pelo capitalismo. Os países dão mais atenção aos mercados internacionais, aos grandes grupos transnacionais, do que dão aos seus cidadãos. Na Europa isso é muito claro. O meu governo [Portugal] está mais atento à agência de classificação Standard & Poor's, sobre o que ela dirá amanhã sobre a taxa de rating do crédito português, do que as demandas dos portugueses, as reivindicações. E quanto mais as pessoas vão para as ruas, mais abaixa a nota do crédito internacional. Ou seja: a democracia está sendo usada contra os cidadãos. A democracia é exercida hoje contra o bem estar. Tinha-se a ideia que caminhávamos para um estado de bem estar. De alguma maneira, hoje, o Estado é um Estado de mal estar. O que aconteceu no Brasil, no meu entender, é essa frustração.
Compartilha com os outros movimentos essa espontaneidade. E o fato de não ser ideologicamente unitária, é o mais diverso possível. E com demandas contraditórias. E com uma característica também comum em todos eles: prevalece o negativo sobre o positivo. Esses grupos, que eu nem chamo de movimentos sociais, chamo de presenças coletivas, sabem o que não querer, mas não sabem bem o que querem. Podem ter uma demanda, como foi o caso do Movimento Passe Livre, mas essa é uma demanda que rapidamente pode ser superada por grandes demandas de superação do Estado. Como aconteceu na Tunísia. O moço que se imolou na Tunísia queria apenas que legalizassem o seu comércio de rua, e de repente aquilo era uma luta contra a ditadura.
O que todos estão a dizer? Estão a dizer que o mundo está escandalosamente desigual. Essa não é uma questão da pobreza. É que nos países, internamente, a diferença entre ricos e pobres nunca foi tão grande. Em meio aos maiores sacrifícios da sociedade portuguesa, com cerca de 50% dos jovens até 25 anos sem emprego, o número de ricos aumentou em Portugal nos últimos anos. E os ricos ficaram ainda mais ricos.

Essa descrição não coincide exatamente com o que ocorreu no Brasil. A distribuição de renda brasileira medida pelo índice Gini ainda é uma das piores do mundo, mas melhorou.
Sim, está reduzindo [a desigualdade de renda], nunca tinha acontecido antes, isso é preciso reconhecer. O que nós temos que ver, isso é minha leitura, é que as políticas que foram criadas para essa redução ocorrer --e por isso que eu digo que [Dilma] não é um governo de direita-- são as que eu chamo de políticas de primeira geração. A segunda geração é que essa gente que agora come bem, agora que tem algum apoio, quer evoluir, quer ir para a universidade, quer outra qualidade dos serviços públicos. E aí estancou.

O senhor disse que esses grupos sabem dizer o que não querem, mas não sabem dizer bem o que querem. No Brasil, entre as coisas que eles diziam não querer estavam os partidos políticos. Teve até hostilidade, violência. O senhor vê isso com preocupação?
Sim, evidentemente. Mas ao mesmo tempo compreendo o que está ocorrendo. É aquilo que eu disse, que a democracia representativa liberal foi dominada e vencida pelo capitalismo, pela corrupção, pela presença do dinheiro nas eleições, nas campanhas eleitorais. Isso faz com que os representantes estejam cada vez mais distantes dos representados. É aquilo que a gente chama de patologia da representação: os representados não se sentem representados por seus representantes.
É um processo conhecido, pois há anos discute-se no Brasil a necessidade de se fazer uma reforma política, uma reforma do sistema eleitoral, do financiamento dos partidos. E todas essas reformas têm sido bloqueadas. Então essa negação não é propriamente a negação da democracia representativa. São duas ligações importantes: esta democracia participativa não serve, o dinheiro não pode ter o poder que tem hoje nas eleições; e a democracia representativa nas sociedades complexas não chega, ela precisa ser complementada pela democracia participativa.
Eu acho extraordinário que, no caso da primavera árabe --jovens de vários países que não tiveram democracia propriamente-- a grande bandeira é a democracia real. Portanto quando dizem que há luta contra os partidos, não é que eles estejam dizendo que, em princípio, eles não têm nenhuma validade. É esta forma de democracia, a do poder do dinheiro, que está derrotada. E se ela não se alterar, temos altos riscos para a sociedade. É por isso que eu digo, escrevi dois artigos sobre isso, que há uma grande oportunidade: a oportunidade de uma reforma política. Esse é grande tema com o qual o PT chegou ao poder, não podemos esquecer.

Mas nos protestos ninguém levantou uma plaquinha sequer pedindo reforma política.
(risos) É por isso que eu digo: as pessoas não sabem o que querem, sabem o que não querem. Como é que se faz formulação política? Para sair daquilo que elas não querem, é preciso uma reforma política. Obviamente. E é por isso que temos partidos.
Eu acho que cabe à classe política encontrar as soluções. Os jovens não têm que saber [como fazer]. Nem dá para exigir que eles saibam. Como é que vai fazer um serviço unificado de saúde suficientemente robusto? Não têm que saber. Há técnicos e há políticos que vão fazer isso. A reforma política é a mesma coisa. E a presidente Dilma deu uma certa esperança quando falou nas cinco medidas que seriam tomadas e incluiu a reforma política, mas, infelizmente, os poderes conservadores do Congresso...

Foi nesse contexto que surgiram os grupos "black blocs", com a tática de causar danos materiais para fazer suas denúncias. Eles aparecem em tudo, da greve de professores à ação para libertar cachorros de um laboratório de pesquisa médica. Qual é a opinião do senhor sobre esses grupos?
Esses grupos nasceram nos anos 70 na Alemanha, na luta contra a energia nuclear. Na década de 80, adquiriram uma ideologia autonomista. A ideia de que "temos que criar na sociedade espaços de autonomia que não dependem do capitalismo e que, portanto, podem oferecer outra maneira de viver". Tiveram muita repercussão.
No momento em que começam os protestos contra a globalização, Seatle (EUA) é o marco, eles começaram a assumir duas características de sua tática: de um lado a ideia de violência contra propriedades símbolos do capitalismo, que pode ser um McDonald's, um banco; de outro lado, a defesa dos manifestantes. Eles assumiram isso. Em muitas mobilizações, foram eles que, diante da violência policial, defenderam mais eficazmente os manifestantes pacíficos. Então a violência policial, no meu entender, é uma das grandes responsáveis pelo protagonismo "black bloc". Eles enfrentavam. E a notícia muitas vezes passava a ser o enfrentamento entre os "black blocs" e da polícia.
Um terceiro fator que complica, principalmente a partir do ano 2000, isso está documentado, é que a polícia infiltra o "black bloc" para depois justificar sua violência. Isso está demonstrado em vários países. E este é o contexto em que nós estamos.

Mas como entender o "black bloc"?
Não são grupos de extrema-direita. Eu penso que, acima de tudo, temos que entender por que surgem esses movimentos. E encontrarmos, através do diálogo, formas de ver se estas são as melhores formas de luta. No meu entendimento, como já disse, estamos num momento político daquilo que chamo de guerra civil de baixa intensidade. Numa guerra assim, queremos que cada vez mais gente venha para a rua. No meu entender, para fazer pressão pacífica sobre os Estados.
Quando o capital financeiro será cada vez mais influentes, quando as Monsantos conseguem pôr no Congresso a [semente] Terminator, quando os evangélicos dominam a agenda política, quando os ruralistas dominam a agenda política, os governos, mesmo que tenham uma orientação de esquerda, precisam ser pressionados de baixo. A partir de baixo. E essa pressão tem de ser pacífica. E tem de ser inclusiva. E para ser inclusiva tem de trazer para a rua as pessoas que nunca foram para a rua, os chamados despolitizados, as avós, os netos.
Ora bem, se é esse o objetivo, o "black bloc" é uma força contraproducente. As pessoas querem ir para a manifestação, mas com medo que haja violência, com medo da brutalidade e violência policial, dizem ao final "não vamos". Penso, portanto, que o "black bloc" deve analisar em que contexto nós estamos.

O ex-presidente Lula fez uma crítica direta ao uso das máscaras. Disse que participou de muita manifestação de rua, mas que nunca usou máscara porque não tinha vergonha do que fazia.
Eu acho que é uma posição legítima, mas não sei se é a única resposta que se pode dar. As pessoas têm suas formas de representação. Exemplo disso é o governo do Peña Nieto, o [partido] PRI, no México, que eu considero de direita. Nas últimas manifestações, o protesto de professores no México, teve a presença dos "black blocs" com as máscaras negras. E chegou ao ponto também em que o governo está para promulgar uma lei que proíbe as máscaras. Sabe qual foi a reação? Os homossexuais começaram a usar máscaras pink. Foram para os protestos com máscaras cor-de-rosa, máscara homossexual. Então a polícia vai prender? Eles não praticam nenhuma violência, usam máscara agora para afirmar a diversidade sexual.
Isso é para ver como a coisa é complicada. Criou-se uma solidariedade entre os homossexuais e o "black bloc". Então, por vezes, as autoridades se excedem na forma. Eu penso que essa não é a forma. Penso que a forma é de dialogar, de trazer para uma mesa de conversa. Obviamente é uma discussão muito difícil, mas é uma discussão que é preciso ter.
 Fonte: Folha de São Paulo.


Conferência e manifesto por uma educação inovadora



 

“Trata-se de um movimento articulado pela sociedade civil. Queremos com o encontro, trocar conhecimentos e congregar uma força mais consistente em prol da inovação da educação no país. Nossa intenção prática é começarmos uma conversa com o Ministério da Educação com vistas a efetivar mudanças na educação pública. Por isso, que destacaremos casos consistentes que podem servir de inspiração para esse movimento de mudanças que defendemos”, afirma Talita Porto, do coletivo Gaia Brasília, e uma das organizadoras do Conane.

Para garantir a presença do ministro da educação Aloisio Mercadante, a comitiva do Conante, incluindo o educador José Pacheco, conseguiu se reunir na última semana com Mercadante. Na ocasião, segundo os organizadores, o ministro se prontificou a participar da solenidade de abertura do encontro. Lá, eles esperam que o ministro dê uma indicação sobre alguma ação concreta que o MEC pode fazer no sentido de estimular a adoção dessas novas práticas inovadoras no âmbito das escolas formais. Como o evento não contará com transmissão on-line das palestras, é preciso ir pessoalmente conferir os debates. A boa notícia é que ainda existem vagas abertas. Para participar, é preciso pagar R$ 100. O valor não inclui hospedagem nem alimentação. (veja a programação completa)

Ainda durante o I Conane, está previsto o lançamento do documentário Quando sinto que já sei, realizado com recursos arrecadados via crowndfundingGlossário compartilhado de termos de inovação em educação . O doc questiona a educação formal tradicional e traz uma série de entrevistas com educadores que propõem uma abordagem mais inovadora nas práticas de ensino e aprendizagem. Assista ao teaser feito pelos realizadores Antonio Lovato, Raul Perez e Anderson Lima:

Manifesto
Elaborado de forma colaborativa durante cinco anos de discussões virtuais e presenciais, o manifesto pela educação intitulado Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País teve a contribuição de cerca de 2 mil pessoas que compõe o grupo Românticos Conspiradores além de outros participantes. Depois da triagem de sugestões, o grupo conseguiu condensar os desejos dos militantes em oito páginas. Todo o documento está disponível para consulta pública desde o final de setembro. Simpatizantes à causa ainda podem apoiar virtualmente o movimento, assinando a petição on-line a favor do manifesto através da comunidade do Avaaz.

Buscando detalhar todos os pontos que são levantados pelo documento que propõe colocar em prática mudanças significativas na educação brasileira, o Porvir repassa um resumo dos 19 pontos levantados pelo manifesto. Confira, reflita e deixe o seu comentário:
Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País
1. Políticas Públicas em Educação previamente discutidas, aprovadas e supervisionadas pela comunidade;
2. Assegurar às escolas a dignidade de um estatuto de autonomia;
3. Revisão do tipo de gestão das escolas, passando de uma tradição hierárquica e burocrática para decisões colegiadas, coletivas, colaborativas e horizontais, envolvendo a participação da comunidade;
4. Implantação de comunidades de aprendizagem concebidas por um projeto educativo coletivo, baseado num projeto local de desenvolvimento, consubstanciado numa lógica comunitária;
5. Uma educação integral em tempo integral para todos os estudantes;
6. Que a instituição escolar ressignifique seu papel, passando a atuar como locus de construção de conhecimentos e vivências;
7. Que se garanta aos profissionais da Educação, que assim o desejem, prevenção, assistência e apoio terapêutico, gratuito e constante;
8. A formação de uma rede colaborativa de comunicação, onde participem família, educadores, educandos, membros de comunidades de aprendizagem, mídia, etc;
9. Considerar que não se pode ser desconsiderado o desenvolvimento afetivo e emocional do educando;
10. A universalização do ensino e a garantia da matrícula em todos os níveis da educação;
11. Que a universidade se distancie de práticas de formação incompatíveis com necessidades educacionais do nosso século;
12. Reelaboração da cultura pessoal e profissional do educador através da vivência de práticas inovadoras em educação;
13. Reconhecimento público aos profissionais da educação, traduzido também em salários dignos;
14. Fim do desperdício decorrente de más políticas públicas em educação;
15. Erradicação da evasão escolar;
16. Implantação efetiva de uma política da juventude que contemple o espírito empreendedor, o protagonismo juvenil e o desenvolvimento dos valores humanos;
17. Que a educação domiciliar e outros modos de desenvolver aprendizagem sejam permitidos às famílias que assim o desejarem, desde que garantida a coerência e a qualidade dos percursos de aprendizagem do educando à luz de um projeto educativo;
18. Substituição de reprovação, da aprovação automática e da recuperação, paralela ou ao final de um período, pela prática de uma avaliação formativa, contínua e sistemática capaz de permitir que o aprendizado caminhe junto com o desenvolvimento do pensar;
19. Ampliação do uso da mediação escolar, da justiça restaurativa e de técnicas similares, para que os conflitos sejam resolvidos pela própria escola dentro da proposta de Cultura de Paz (Unesco).
Foto: shaiith / Fotolia.com
Confira o documento na íntegra.
* Publicado originalmente no site O Porvir.
                   

Jornal argentino diz o que aqui não querem ver: Libra é o Brasil se afastando dos EUA


Graças à dica no comentário do “Companheiro Luís”, aqui no blog, posso trazer a matéria publicada hoje pelo jornal argentino Pagina 12, assinada por Dario Pignotti, que diz aquilo que a mídia brasileira está vendo também, mas não tem coragem, por seu subalternismo, de publicar.
Diz que, amanhã, o noticiário eletrônico do Wall Street Journal e do Financial Times terão um dia agitado com as notícias sobre o leilão de Libra.

“Mas, debaixo das notícias em tempo real que nos sufocarão nesta segunda-feira, à base de índices de ações e de corretores com seus pontos de vista de curto prazo , encontra-se uma história se passou nos últimos anos , cujo recordar ajuda entender o que está em jogo : um rearranjo de forças na geopolítica do petróleo”.
E qual é a história que Pignotti narra?
Conta que, em julho de 2008, Celso Amorim, nosso ministro das Relações Exteriores,  recebeu um telefonema da chefe do Departamento de Estado dos EUA,  Condoleezza Rice, pedindo que fosse recebida sem preocupações a notícia da reativação da Quarta Frota e sua passagem pelo Atlântico Sul.  Fazia poucos meses da descoberta, em 2007, de grandes reservas de petróleo nas bacias de Campos e Santos, localizadas nas costas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

“Nem o chanceler Amorim, nem seu chefe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acreditaram na retórica suave do George W. Bush. Muito pelo contrário , houve alarme no Palácio do Planalto. Lula , Amorim  e a então ministra Dilma Rousseff , que estava emergindo como um candidata presidencial, perceberam que a passagem da Marinha os EUA pela costa carioca seria uma demonstração de poderio militar sobre os mais de 50 bilhões de barris de óleo de boa qualidade guardados a mais de cinco mil metros de  profundidade, numa área geológica conhecida como pré- sal”.

Além de ir aos fóruns internacionais, diz o jornal argentino, era pouco o que o Brasil poderia fazer para, de imediato,  ”enfrentar a supremacia militar dos Estados Unidos e sua decisão que a Quarta Frota , o braço armado das petroleiras de  Exxon e  Chevron , apontasse sua proa para o Sul.

“Lula e sua conselheira para Energia, Dilma , foram confrontados com um dilema: ou adotar uma saída mexicana  - como o atual presidente Enrique Peña Nieto , que mostrou uma vontade de privatizar a Pemex , embora o termo usado seja “modernização” –  ou injetar dinheiro para fortalecer a mística nacionalista Petrobras, para tê-la como vetor de uma estratégia para salvaguardar a soberania energética. Finalmente, o governo do Partido dos Trabalhadores ( PT) escolheu o segundo caminho e implementado um conjunto de medidas abrangentes”.

Quais?
“Capitalizou Petrobras para reverter o esvaziamento econômico herdado de (…)Fernando Henrique Cardoso e conseguiu aprovar, no final de 2010 una lei de petróleo “estatizante e intervencionista”,segundo a interpretação dada por políticos  neoliberais e o  lobby britânico-estadounidense, opinião amplificada por las empresas de noticias locais”.

Além disso, prossegue o Pagina 12, reativou os planos de construção, com os franceses, de um submarino nuclear (“que avançou menos que o previsto”) e pleiteou nas organizações internacionais a extensão da plataforma offshore , a fim de que não se dispute a posse das bacias de petróleo, “além de promover a criação do Conselho de Defesa da Unasul , apoiado pela Argentina e Venezuela e sob a indiferença da Colômbia”. Firmou, também, contratos de financiamento com a China para a Petrobras.

Diz o jornal que, enquanto isso era feito, a National Security Agency americana “roubava  informações estratégicas do Ministério de Minas e Energia e diplomatas (dos EUA) em Brasília enviavam telegramas secretos a Washington classificando o chanceler Amorim como diplomata “antiamericano”.

Garante o Pagina 12 que  até três meses atrás,surgiram as primeiras notícias das manobras da NSA , a presidente queria evitar a ” radicalização ” da situação , “porque eu acreditava em uma reconciliação com os Estados Unidos, onde ele planejou viajar para uma visita oficial em 23 de outubro” . Mas a posição de Dilma “tornou-se irredutível em setembro ao saber que os espiões haviam violado as comunicações da Petrobras”.

Apenas transcrevo o final da reportagem:
“A decisão de suspender a visita a Washington, apesar de Barack Obama ter renovado pessoalmente seu convite, não não deve ser entendida como um simples gesto , porque suas consequências afetaram  decisões vitais.
O fato e não haver petroleiras norte-americana amanhã, no leilão do megacampo de Libra e sim de três poderosas companhias chinesas , dos quais dois são estatais, indica que a colisão diplomática teve um impacto prático.
Fontes próximas ao governo terem deixado conhecer a formação de um consórcio entre a Petrobras e alguma empresa chinesa, revela que a geopolítica petroleira de Brasília se inclina em direção a Pequim, que é também o seu maior parceiro comercial.
E se isso não fosse o suficiente para descrever a distância estratégica entre o Planalto e a Casa Branca, na semana passada indigesto ( para Washington ), ministro Celso Amorim, agora no comando da Defesa, iniciou conversações com a Rússia para discutir a compra de caças Sukhoi.
Foi apenas uma sondagem , mas se essa compra é formalizada será um revés considerável para a corporação militar – industrial dos EUA imaginado vender caças SuperHornet ao Brasil, durante a visita que Dilma não vai fazer.”
Que povo imaginativo, o argentino, não é?
Por: Fernando Brito
Fonte: Tijolaço.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Água radioativa de Fukushima está sistematicamente envenenando o Oceano Pacífico inteiro


O site tem tradução para o português, caso prefira:http://www.thesleuthjournal.com/radioactive-water-from-fukushima-is-systematically-poisoning-the-entire-pacific-ocean/#
 
mapa água radioativa
Right now, a massive amount of highly radioactive water is escaping into the Pacific Ocean from the ruins of the destroyed Fukushima nuclear facility in Japan. Neste momento, uma enorme quantidade de água altamente radioativo está escapando para o Oceano Pacífico a partir das ruínas da instalação nuclear de Fukushima, no Japão destruído. This has been going on all day, every day for more than two years . Isso vem acontecendo em todo o dia, todos os dias por mais de dois anos. The enormous amounts of tritium, cesium and strontium that are being released are being carried by wind, rain and ocean currents all over the northern Hemisphere. As enormes quantidades de trítio, césio e estrôncio que estão sendo liberados estão sendo transportados pelo vento, chuva e correntes oceânicas em todo o hemisfério norte. And of course the west coast of the United States is being hit particularly hard. E, claro, a costa oeste dos Estados Unidos está sendo particularmente atingida. When you drink water or eat seafood that has been contaminated with these radioactive particles, they can stick around for a very long time. Quando você beber água ou comer frutos do mar que tenha sido contaminado com estas partículas radioativas, eles podem ficar por um tempo muito longo. Over the coming years, this ongoing disaster could potentially affect the health of millions upon millions of people living in the northern hemisphere, and the sad thing is that a lot of those people will never even know the true cause of their health problems. Nos próximos anos, este desastre em curso poderia afetar a saúde de milhões e milhões de pessoas que vivem no hemisfério norte, eo triste é que muitas dessas pessoas nunca vai saber a verdadeira causa de seus problemas de saúde.
For a long time, the Japanese government has been trusting Tepco to handle this crisis, but now it has become abundantly clear that Tepco has no idea what they are doing. Durante muito tempo, o governo japonês foi confiando Tepco para lidar com esta crise, mas agora tornou-se claro que a Tepco não tem idéia do que estão fazendo. In fact, the flow of radioactive water has gotten so bad that authorities in Japan are now calling it an “emergency” Na verdade, o fluxo de água radioativa ficou tão ruim que as autoridades do Japão estão agora chamando-o de uma "emergência" ...
Highly radioactive water seeping into the ocean from Japan's crippled Fukushima nuclear plant is creating an “emergency” that the operator is struggling to contain, an official from the country's nuclear watchdog said on Monday. Vazando água altamente radioativa para o oceano a partir do Japão aleijado Fukushima usina nuclear é a criação de uma "emergência" que o operador está lutando para conter, um funcionário da agência nuclear do país, disse na segunda-feira.
This contaminated groundwater has breached an underground barrier, is rising toward the surface and is exceeding legal limits of radioactive discharge, Shinji Kinjo, head of a Nuclear Regulatory Authority (NRA) task force, told Reuters. Esta água subterrânea contaminada violou uma barreira subterrânea, está subindo em direção à superfície e está excedendo os limites legais de descarga radioativa, Shinji Kinjo, chefe de uma Autoridade Reguladora Nuclear (ARN), força-tarefa, à Reuters.
The amount of water that we are talking about is absolutely enormous. A quantidade de água que estamos a falar é absolutamente enorme. According to Yahoo , 400 metric tons of water is being pumped into the basements of destroyed buildings at Fukushima every single day… De acordo com o Yahoo , a 400 toneladas métricas de água está sendo bombeada para as caves de edifícios destruídos em Fukushima a cada dia ...
The utility pumps out some 400 metric tons a day of groundwater flowing from the hills above the Fukushima Daiichi nuclear plant into the basements of the destroyed buildings, which mixes with highly irradiated water that is used to cool the reactors in a stable state below 100 degrees Celsius. As bombas de utilidade fora cerca de 400 toneladas por dia de água subterrânea que flui das colinas acima da usina nuclear de Fukushima Daiichi nas caves dos edifícios destruídos, que mistura com água altamente irradiada que é usado para resfriar os reatores em um estado estável abaixo de 100 graus Celsius.
Tepco is trying to prevent groundwater from reaching the plant by building a “bypass” but recent spikes of radioactive elements in sea water has prompted the utility to reverse months of denials and finally admit that tainted water is reaching the sea. Tepco está tentando impedir que as águas subterrâneas de atingir a planta através da construção de um "desvio", mas picos recentes de elementos radioativos na água do mar fez com que o utilitário para reverter meses de desmentidos e, finalmente, admitir que a água contaminada está a atingir o mar.
And of course all of that water has to go somewhere. E, claro, tudo isso a água tem que ir para algum lugar. For a long time Tepco tried to deny that it was getting into the ocean, but now they are finally admitting that it is Durante muito tempo, a Tepco tentou negar que estava ficando para o oceano, mas agora eles estão finalmente admitir que é ...
Tepco said on Friday that a cumulative 20 trillion to 40 trillion becquerels of radioactive tritium had probably leaked into the sea since the disaster. Tepco disse nesta sexta-feira que um acumulado 20000000000000-40000000000000 becquerels de trítio radioativo provavelmente tinha vazado no mar desde o desastre. The company said this was within legal limits. A empresa disse que isso era dentro dos limites legais.
Tritium is far less harmful than cesium and strontium, which have also been released from the plant. O trítio é muito menos prejudicial do que o césio e estrôncio, que também foram liberados a partir da planta. Tepco is scheduled to test strontium levels next. Tepco está programado para testar os níveis de estrôncio seguinte.
40 trillion becquerels of radioactive tritium have gotten into the Pacific Ocean? 40 trilhões de becquerels de trítio radioativo ter começado no Oceano Pacífico?
And that is what they are publicly admitting. E isso é o que eles estão admitindo publicamente. The reality is probably far worse. A realidade é provavelmente muito pior.
And all of that tritium is going to be around for a very long time. E tudo isso trítio vai ser em torno de um tempo muito longo. You see, the truth is that tritium has a half-life of about 12 years. Você vê, a verdade é que o trítio possui uma meia-vida de cerca de 12 anos.
But strontium is even worse. Mas estrôncio é ainda pior. Strontium can cause bone cancer and it has a half-life of close to 29 years. Estrôncio pode causar cancro do osso e tem uma semi-vida de cerca de 29 anos.
And now Tepco is admitting that extremely dangerous levels of strontium have been escaping from Fukushima and getting into the underground water. E agora Tepco está admitindo que níveis extremamente perigosos de estrôncio foram escapando de Fukushima e entrar na água subterrânea. And of course the underground water flows out into the Pacific Ocean… E, claro, a água subterrânea flui para o Oceano Pacífico ...
Tepco said in late June that it had detected the highly toxic strontium-90, a by-product of nuclear fission that can cause bone cancer if ingested, at levels 30 times the permitted rate. Tepco disse que no final de junho que tinha detectado o estrôncio-90 é altamente tóxico, um subproduto da fissão nuclear, que pode causar câncer ósseo se ingerido, em níveis 30 vezes a taxa permitida.
The substances, which were released by the meltdowns of reactors at the plant in the aftermath of the huge tsunami of March 2011, were not absorbed by soil and have made their way into underground water. As substâncias, que foram liberados pelos colapsos de reatores na usina, no rescaldo da enorme tsunami de março de 2011, não foram absorvidos pelo solo e fizeram seu caminho para a água subterrânea.
Subsoil water usually flows out to sea, meaning these two substances could normally make their way into the ocean, possibly affecting marine life and ultimately impacting humans who eat sea creatures. Água do subsolo geralmente flui para o mar, ou seja, essas duas substâncias poderiam normalmente fazem o seu caminho para o oceano, possivelmente afetando a vida marinha e, finalmente, afetar os seres humanos que comem criaturas do mar.
Cesium has an even longer half-life than strontium does. Césio tem uma meia-vida ainda mais do que o estrôncio faz. It has a half life of about 30 years, and according to samples that were taken about a month ago levels of cesium at Fukushima have been spiking dramatically… Ele tem uma meia-vida de cerca de 30 anos, e de acordo com as amostras que foram tiradas cerca de um mês atrás níveis de césio em Fukushima foram spiking dramaticamente ...
Samples taken on Monday showed levels of possibly cancer-causing caesium-134 were more than 90 times higher than they were on Friday, at 9000 becquerels per litre, Tokyo Electric Power (Tepco) revealed. Amostras colhidas na segunda-feira mostrou níveis de possivelmente cancerígeno césio-134 foram mais de 90 vezes maiores do que eram na sexta-feira, em 9.000 becquerels por litro, Tokyo Electric Power (Tepco) revelou.
Levels of caesium-137 stood at 18 000 becquerels per litre, 86 times higher than at the end of last week, the utility said. Os níveis de césio-137 era de 18 000 becquerel por litro, 86 vezes maior do que no final da semana passada, disse que o utilitário.
“We still don't know why the level of radiation surged, but we are continuing efforts to avert further expansion of contamination,” a Tepco spokesperson stated. "Nós ainda não sabemos por que o nível de radiação aumentou, mas vamos continuar os esforços para evitar a expansão da contaminação", disse um porta-voz da Tepco afirmou.
When cesium gets into your body, it can do a tremendous amount of damage. Quando césio recebe em seu corpo, ele pode fazer uma enorme quantidade de danos. The following is an excerpt from a NewScientist article that described what happens when cesium and iodine enter the human body… O seguinte é um excerto de um artigo NewScientist que descreveu o que acontece quando césio e iodo entrar no corpo humano ...
Moreover the human body absorbs iodine and caesium readily. Além disso, o corpo humano absorve iodo e césio prontamente. “Essentially all the iodine or caesium inhaled or swallowed crosses into the blood,” says Keith Baverstock , former head of radiation protection for the World Health Organization's European office, who has studied Chernobyl's health effects. "Essencialmente, todo o iodo ou césio inalado ou ingerido cruzes no sangue", diz Keith Baverstock , ex-chefe da protecção contra as radiações para o escritório europeu da Organização Mundial de Saúde, que tem estudado os efeitos na saúde de Chernobyl.
Iodine is rapidly absorbed by the thyroid, and leaves only as it decays radioactively, with a half-life of eight days. O iodo é rapidamente absorvido pela tiróide, e deixa apenas como decai radioactivamente, com uma semi-vida de oito dias. Caesium is absorbed by muscles, where its half-life of 30 years means that it remains until it is excreted by the body. O césio é absorvida pelos músculos, onde a sua meia-vida de 30 anos significa que ele continua até que seja excretada pelo organismo. It takes between 10 and 100 days to excrete half of what has been consumed. Leva entre 10 e 100 dias de excretar a metade do que foi consumido.
And it is important to keep in mind that it has been estimated that each spent fuel pool at the Fukushima nuclear complex could have 24,000 times the amount of cesium that was produced by the nuclear bomb that the US dropped on Hiroshima at the end of World War 2. E é importante ter em mente que, estima-se que cada piscina de combustível gasto no complexo nuclear de Fukushima pode ter 24 mil vezes a quantidade de césio, que foi produzido pela bomba atômica que os EUA lançaram sobre Hiroshima no final da Segunda Guerra Mundial 2.
Overall, the Fukushima nuclear facility originally contained a whopping 1760 tons of nuclear material . Em geral, a instalação nuclear de Fukushima originalmente continha um colossal 1.760 toneladas de material nuclear .
That is a massive amount of nuclear material. Isso é uma enorme quantidade de material nuclear. Chernobyl only contained 180 tons. Chernobyl continha apenas 180 toneladas.
And of course the crisis at Fukushima could be made even worse at any moment by a major earthquake. E, claro, a crise em Fukushima poderia ser ainda pior a qualquer momento por um grande terremoto. In fact, a magnitude 6.0 earthquake hit northern Japan on Sunday. Na verdade, um terremoto de magnitude 6,0 atingiu o norte do Japão neste domingo.
This is a nightmare that has no end. Isto é um pesadelo que não tem fim. Every single day, massive amounts of highly radioactive water from Fukushima is systematically poisoning the entire Pacific Ocean. A cada dia, enormes quantidades de água altamente radioativa de Fukushima está envenenando sistematicamente todo o Oceano Pacífico. The damage that is being done is absolutely incalculable. O dano que está sendo feito é absolutamente incalculável.
Please share this article with as many people as you can. Por favor, compartilhe este artigo com tantas pessoas quanto possível. The mainstream media does not seem to want to talk about this, but it is a matter that is extremely important to every man, woman and child living in the northern hemisphere of our planet. A grande mídia não parece querer falar sobre isso, mas é um assunto que é extremamente importante para cada homem, mulher e criança que vive no hemisfério norte do nosso planeta.
Michael T. Snyder is a graduate of the McIntire School of Commerce at the University of Virginia and has a law degree and an LLM from the University of Florida Law School. Michael T. Snyder é um graduado da McIntire School of Commerce da University of Virginia e tem uma licenciatura em Direito e um LLM pela University of Florida Law School. He is an attorney that has worked for some of the largest and most prominent law firms in Washington DC and who now spends his time researching and writing and trying to wake the American people up. Ele é um advogado que trabalhou para algumas das maiores e mais proeminentes escritórios de advocacia em Washington DC e que agora passa seu tempo pesquisando e escrevendo e tentando acordar o povo americano se. You can follow his work on The Economic Collapse blog , End of the American Dream and The Truth Wins . Você pode acompanhar seu trabalho em O blog colapso econômico , fim do sonho americano e as vitórias Verdade . His new novel entitled “ The Beginning Of The End ” is now available on Amazon.com . Seu novo romance, intitulado " The Beginning Of The End "já está disponível no Amazon.com .

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Os limites da Terra e os desafios financeiros e ambientais

planeta 300x195 Os limites da Terra e os desafios financeiros e ambientaispor José Eustáquio Diniz Alves*
 


Os problemas ambientais do mundo já ultrapassaram os limites da Terra e a possível continuidade da melhora dos indicadores sociais estão ameaçados pela crise financeira. Nos últimos duzentos anos, o ser humano tem retirado recursos ambientais da Terra, transformando as riquezas naturais em artigos de luxo e devolvido tudo em
                  
forma de lixo, para a tristeza do Planeta. Há quem diga que os seres humanos são os vândalos do meio ambiente.
 
A metodologia da Pegada Ecológica mostra que a humanidade já superou em 50% o uso sustentável da biocapacidade. A metodologia das Fronteiras Planetárias mostra que estamos ultrapassando os limites seguros para a vida na Terra. O IPCC mostra que o aquecimento global é provocado pelas atividades antrópicas e atingiu os maiores níveis nos últimos 12 mil anos. Em todos os cenários, o quadro é de insustentabilidade do modelo de crescimento da produção e consumo, em um quadro de uma população e renda per capita em expansão.
 
Em pouco mais de dois séculos, a humanidade teve um impacto maior sobre a biosfera do que nos 200 mil anos anteriores da história do homo sapiens. Entramos na Era do Antropoceno, isto é, da dominação humana sobre a Terra e sobre as demais espécies animais e florestais. Mas ao mesmo tempo os ganhos de escala da economia estão virando deseconomias de escala e a sinergia virando entropia. As mudanças climáticas têm provocado diversos desastres naturais e têm aumentado o sofrimento dos refugiados do clima.
 
Levantamento da FAO mostra que 200 quilômetros quadrados de florestas foram dizimadas por dia no mundo, entre 2000 e 2005, com perda de 7,3 milhões de hectares. Somente o Brasil destruiu 3,1 milhões de hectares de florestas nesse período de 5 anos. Entre 2000 e 2010 aproximadamente 13 milhões de hectares de florestas foram convertidos para outros usos ou perdidos. Aliás, o Brasil já destruiu 93% da Mata Atlântica, mais de 50% do Cerrado e a Amazônia está sendo saqueada de suas madeiras de lei e invadida pela pecuária, as plantações de soja e agora o Congresso permite a plantação de cana-de-açúcar na região. Os ecossistemas brasileiros estão sendo depredados e destruídos.
 
Segundo o relatório Povos resilientes, Planeta resiliente: “a sobrepesca fez com que 85% de todos os estoques de peixes fossem atualmente classificados como sobre-explorados, esgotados, em recuperação ou totalmente explorados, uma situação substancialmente pior do que há duas décadas. Enquanto isto, os escoamentos agrícolas significam que os níveis de nitrogênio e fósforo nos oceanos triplicaram desde a época pré-industrial, levando a aumentos maciços das zonas mortas costeiras. Os oceanos do mundo também estão se tornando mais ácidos em consequência da absorção de 26% do dióxido de carbono emitido na atmosfera, afetando tanto as cadeias alimentares marinhas quanto a resiliência dos recifes de corais. Se a acidificação dos oceanos continuar, é provável que haja alterações nas cadeias alimentares bem como impactos diretos e indiretos sobre diversas espécies, com consequente risco para a segurança alimentar, afetando as dietas baseadas em alimentos marinhos de bilhões de pessoas em todo o mundo” (p. 30).
 
Diversos rios e lagos do globo estão sendo destruídos, contaminados ou desviados para diversos usos. O rio Colorado nos Estados Unidos não chega mais ao mar. Os rios da China estão sendo represados e poluídos, gerando conflitos hidropolíticos. Nas grandes cidades brasileiras a transformação de rios em canais de esgoto segue a ritmo acelerado, como nos casos do rio Arrudas em Belo Horizonte, do rio Carioca no Rio de Janeiro e do rio Tietê em São Paulo. Por tudo isto, cresce a luta pelo “Direito das águas”.
 
A dependência do petróleo, de produtos químicos e o uso de métodos não-orgânicos na agricultura tem gerado agressões ao meio ambiente, provando erosão, infertilidade, desertificação, contaminação dos solos, das águas, dos animais e dos seres humanos. A pecuária não tem causado menos danos, além de acelerar o desmatamento e elevar a emissão de gás metano. A acidificação do solo e dos oceanos reduz a fertilidade em geral e ameaça a biodiversidade.
 
O apetite humano tem provocado o sofrimento e o desaparecimento de outras espécies de seres vivos e animais sencientes. Segundo a FAO, cerca de 60 bilhões de animais são mortos todos os anos para enriquecer a dieta dos 7,1 bilhões de habitantes do mundo. Cerca de 30 mil espécies são extintas a cada ano. A perda de biodiversidade prossegue de maneira assustadora, mostrando a gravidade dos problemas ambientais.
 
O Parque Nacional do Iguaçu, considerado por biólogos um dos locais com as melhores condições de abrigar uma grande população de onças-pintadas no pouco que resta da Mata Atlântica no Brasil, sofreu uma redução de mais de 80% no número de indivíduos do final dos anos 1990 para cá. De uma média de cem onças estimadas em estudo naquele período, hoje se acredita que só restem 18, de acordo com reportagem do jornal o Estado de São Paulo.
 
Segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), dos Estados Unidos, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera saltaram 2,67 partes por milhão (ppm) chegando ao montante recorde de 395 ppm, em 2012. O registro do ano passado só ficou atrás do aumento de 2,93 ppm ocorrido em 1998. Sem surpresas, em maio de 2013, os níveis de CO2 chegaram ao limite crítico de 400 ppm. Controlar o aquecimento global nos limites dos 2 graus está ficando cada vez mais difícil.
 
Para agravar tudo isto, os governos continuam emitindo moeda e se endividando para elevar a “demanda agregada” (os níveis de investimento e consumo), com a boa intenção de reduzir o desemprego. Mas gerar crédito fictício pode minorar os problemas do curto prazo, mas não vai resolver os problemas de longo prazo da economia. Os Estados Unidos, por exemplo, estão paralisados pelo debate interminável sobre o teto da dívida pública (a dívida está em US$ 16,7 trilhões atualmente, mas crescendo).
 
Tanto as economias desenvolvidas quanto as chamadas economia emergentes estão passando por grandes incertezas e redução do crescimento. Enquanto o clima esquenta, a economia esfria. Nunca o mundo se viu diante de tão graves problemas ambientais e financeiros. Não vai ser fácil resolver esta dupla crise.
foto: reprodução Internet.
Referências:
TVERBERG, Gail. Oil Limits and Climate Change. Posted on May 23, 2013
TVERBERG, Gail. Oil Prices Lead to Hard Financial Limits, Posted on August 28, 2013
Kate Raworth. Um espaço seguro e justo para a humanidade: Podemos viver dentro de um “Donut”? Textos para Discussão da Oxfam, 2012
WWF. Relatório Planeta Vivo 2012
ALVES, JED. A destruição dos ecossistemas brasileiros, EcoDebate, Rio de Janeiro, 07/03/2013
ALVES, JED. O Decrescimento Demo-Econômico e a Sustentabilidade Ambiental. XI ENABER – XI Encontro da Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos, Foz do Iguaçu, 02 a 04/10/2013
 
* José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
** Publicado originalmente no EcoDebate e retirado do site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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