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quarta-feira, 19 de maio de 2010

A revolução Slowfood contra as multinacionais




Com um "partido" assim, a esquerda (e não só) pode apenas sonhar. A 24 anos da primeira reunião em Serralunga d'Alba – quando foi fundada a Arcigola – o Slow Food conta com suas próprias forças, ressalta que são robustas e anuncia seu próprio programa.

"A partir de hoje a 2014 – diz o presidente nacional Roberto Burdese no VII Congresso –, o nosso primeiro objetivo deve ser um forte compromisso político". As "seções" já existem, e se chamam Convivium. São 300, presentes em quase todo o território italiano e "localmente devem ter um peso importante".

"Devemos aumentar também os inscritos, porque se um Convivium vai ao encontro de um prefeito ou de um ministro representando 100 inscritos, ele tem uma resposta. Se tiver mil, as coisas mudam". "Não devemos nos tornar um partido", diz o presidente, "porém, o papel político que o Slow Food conseguiu conquistar na sua história é bem conhecido".

A reportagem é de Jenner Meletti, publicada no jornal La Repubblica, 15-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os números da associação já são importantes: 40.000 sócios nas 300 condutas, 4.000 voluntários, 296 "hortas no convivium" nas escolas, 177 postos de produtos tutelados... Mas o que causa inveja aos partidos históricos é um outro aspecto do ex-Arcigola: a capacidade de discutir os objetivos, de renovar a classe dirigente sem rupturas com os "pais fundadores". É a capacidade de partir dos problemas concretos para propor uma estratégia que parta do campo dos fundos de casa e chega ao outro lado do mundo.

"Sempre fizemos política – diz Carlo Petrini, o fundador e agora presidente internacional –, mas hoje somos capazes de mobilizar a poderosa estrutura italiana. Pedimos aos nossos comitês, aos nossos convivium uma capacidade de confronto e de dialética, e também de choque, com as instituições de todos os níveis. Durante muitos anos, fomos uma outra coisa: um serviço para os nossos associados. Agora, crescemos. Hoje, o Slow Food está na primeira fila para defender o agroalimentar do ataque das multinacionais, realiza o Terra Madre, combate os transgênicos, quer uma nova linha de alimento que dê aos agricultores o retorno justo... É um sujeito político que faz política, porque entendeu que é a economia local que irá mudar a realidade dessa crise entrópica. Nós não disputamos papéis institucionais, estruturas políticas ou lobbies de poder. Queremos reforçar a política local e entendemos que só consideremos isso fazendo comunidade".

O congresso recém iniciou, mas o compromisso é específico: "Faremos ouvir a nossa voz – diz o presidente Roberto Burdese – todas as vezes que sejam tocados os valores dos quais somos portadores".

O passado não é renegado. "Continuamos sendo um movimento pela proteção e pelo direito do prazer, mesmo que tenhamos sido indicados como os 'bon vivant', os ricos, aqueles que podem se permitir produtos de luxo. A ideia de prazer está mais articulada do que há 20 anos. Cultivar uma horta é um prazer, fazer compras é um prazer, trabalhar pela própria soberania alimentar é um prazer". Estar juntos para criar comunidade.

"Mas para conseguir isso é preciso cortar o cordão umbilical com o mundo falso da TV, levar os nossos amigos, os nossos vizinhos para fora das casas". Falar com eles, recuperar a memória dos saberes e dos fazeres. "Melhor tornarmo-nos sócios de um agricultor do que investir na Bolsa. Segundo a Eurostat, na Itália, nos últimos 10 anos, os lucros da agricultura caíram 36%, e o emprego, 16%. Sem reagir, comeremos só o que for produzido e vendido pelas multinacionais".

Tantas comunidades locais, em todo o mundo, que devem – anuncia Carlo Petrini – "encher os celeiros da memória e dos saberes, contra a grande carestia que está chegando: a das ideias".
IHU

Agricultura familiar é hoje a maior categoria produtiva do Brasil


“O Brasil mudou muito. O setor que era desconsiderado antes, agora está fortalecido”, disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, na última quinta-feira (13/5), durante abertura da Feira Nacional de Agricultura e Reforma Agrária - Brasil Rural Contemporâneo. Mais do que dados frios, o desenvolvimento do setor é comprovado pela inserção da produção nos mercados e a criação de novos setores de atividade.

A agricultura familiar, nos últimos 10 anos, foi impulsionada por políticas públicas e atualmente vive um novo momento. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), 4,3 milhões de propriedades agrícolas familiares são responsáveis por 70% da produção de feijão e 34% do arroz - alimentos básicos da dieta dos brasileiros. Representa 11% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

No Rio Grande do Sul, os números também são significativos: 378,5 mil unidades familiares são responsáveis pela atividade de 81% dos trabalhadores rurais. O setor é responsável por 54% do valor bruto da produção gaúcha e representa 10% da produção nacional.

Segundo o professor do programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sérgio Schneider, o desenvolvimento do RS é mais rápido do que em outras regiões e isso acontece devido a qualificação dos produtores oriundos de países da Europa.

“Aqui, diferente do nordeste, por exemplo, há muita colonização. As famílias traziam a tecnologia e o conhecimento de fora, o que tornou mais qualificada a produção”, explica.

Schneider levanta um paradoxo sobre a agricultura familiar a e agricultura empresarial, que na verdade se complementam, já que as regiões têm características diferentes. Como exemplo, ele cita a monocultura e a baixa densidade demográfica que não permite a pluralidade da produção em determinados Estados.

“A forma de ocupação é mais densa aqui no RS. Isso gera maior consumo de insumos, maiores bens de consumo e a matéria-prima básica se torna barata”, argumenta. Ele comenta a evolução da agricultura familiar, que hoje tem capacidade de comercialização direta, não apenas de forma atesanal.

“Antes eles produziam para suas próprias famílias. Agora eles passaram a vender seu próprio produto, com o seu preço. É uma autonomia e uma inserção no mercado”, salienta. O Brasil Rural Contemporâneo é um evento do Governo Federal realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com patrocínio do Sebrae, do Banco do Brasil, do BNDES, do Banco do Nordeste, da Petrobras, da Itaipu Binacional, do Banco da Amazônia, da Eletrobrás, da Ubrabio, da Anfavea e da Itambé. E conta com apoio do Instituto Latinoamerica para o Desenvolvimento da Educação, Ciência, Arte e Cultura.

Mais investimentos

Na abertura da feira, o ministro Cassel anunciou o investimento de R$ 110 milhões do governo federal no Programa de Aquisição de Alimentos. O valor será para que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) adquira leite dos produtores brasileiros. Para os agricultores familiares dos Rio Grande do Sul serão R$ 40 milhões . O total de recursos disponíveis para o Programa este ano chega a R$ 720 milhões - o maior volume já disponibilizado desde que o PAA foi criado, em 2003. No ano passado, o programa beneficiou 160 mil famílias de agricultores familiares.

“É uma medida do Governo Federal em tempo hábil para recolher o leite e manter o preço. Entrar no mercado na hora certa, com preço justo, dá estabilidade para todo mundo: para quem produz e para quem consome”, completou.

No caso da cadeia do leite, o Programa de Aquisição de Alimentos também serve para colaborar na regulação de preço, ajudando a conter as quedas na cotação do produto, principalmente nos períodos de safra. Cada produtor gaúcho poderá comercializar até R$ 8 mil reais, por meio de suas cooperativas.

Segundo o ministro, o leite será destinado para os programas sociais do governo federal, como merenda escolar, presídios e populações em condições emergenciais.

(Reportagem socializada pelo Portal Vermelho e publicada pelo EcoDebate)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Glifosato: ‘todo veneno deveria ser proibido’. Entrevista especial com Rubens Nodari


Por Redação IHU

Um dos herbicidas que mais tem causado danos ao meio ambiente e também para o ser humano é o glifosato. Ele é uma molécula química sintetizada, desenvolvido para matar qualquer tipo de planta, principalmente perenes. É o ingrediente principal do Roundup, herbicida da Monsanto. Assim, muitas plantas culturais geneticamente modificadas são simplesmente alterações genéticas para resistir ao glifosato. “Em relação à saúde humana, ele mimetiza certos hormônios. Por exemplo, ele pode entrar no cordão umbilical durante a gestação e afetar o desenvolvimento do bebê. Além disso, ele é considerado um desruptor endócrino, ou seja, ele vai acionar genes errados, no momento errado, no órgão errado. Então, ele altera a situação de controle dos genes”, relatou o agrônomo Rubens Nodari durante a entrevista que concedeu à IHU On-Line, por telefone.

Nodari explicou o que é o glifosato e como ele age para que possa matar, de forma não seletiva, as plantas, o uso e o efeito desse herbicida, e, ainda, contou como esse veneno age quando os humanos e outros seres vivos entram em contato com ele. “Alguns organismos não são afetados pelo glifosato. Se se aplica muito glifosato, por exemplo, na água, alguns organismos vão ser beneficiados, e outros não, pois ele não se degrada tão rapidamente. Assim, se altera por completo a diversidade biológica que existe nesse ambiente”, afirmou.

Rubens Onofre Nodari é graduado em agronomia pela Universidade de Passo Fundo e mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Realizou o doutorado na University Of California At Davis. Atualmente, é professor na Universidade Federal de Santa Catarina.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que é o glifosato?

Rubens Nodari – O glifosato é uma molécula química que foi sintetizada e que tem a capacidade de produzir um caminho alternativo para as plantas que recebem esse produto. E esse caminho alternativo acaba sufocando a planta quando ocorre, portanto, a interrupção da produção de três aminoácidos. Com isso, as proteínas que são formadas são defeituosas, e as plantas acabam morrendo porque não conseguem sintetizar as proteínas adequadas.

IHU On-Line – Qual o uso que é dado a este químico?

Rubens Nodari – O destino do glifosato é para matar plantas que não são desejáveis num certo espaço.

IHU On-Line – Qual é a composição do Roundup e por que ele é considerado um dos agrotóxicos mais prejudiciais?

Rubens Nodari – O glifosato é uma molécula que causa diferentes tipos de problemas para a saúde humana e também para o meio ambiente. Em relação à saúde humana, ele mimetiza certos hormônios. Por exemplo, ele pode entrar no cordão umbilical durante a gestação e afetar o desenvolvimento do bebê. Além disso, ele é considerado um desruptor endócrino, ou seja, ele vai acionar genes errados, no momento errado, no órgão errado. Então, ele altera a situação de controle dos genes. O glifosato também causa, por exemplo, diminuição da produção de espermas, conforme vimos em experimentos feitos em ratos, ou produz espermas anormais. No caso do sistema endócrino, ele pode, por exemplo, inibir algumas enzimas. Ele vai alterar os hormônios que entram na regulação da expressão gênica.

Geralmente, ele atua na regulação de genes e na expressão de certas substâncias. Existem relatos bastante significativos de ocorrências que associam o câncer a pessoas que aplicam o glifosato. Um agricultor, por exemplo, não aparenta de imediato que vai adoecer, ter um câncer, pois o glifosato age dessa forma com exposições repetidas.

A maioria dos agrotóxicos vai envenenando aos poucos as pessoas e o meio ambiente. Às vezes, não são coisas perceptíveis. Obviamente, quando alguém é submetido a uma grande exposição ao glifosato, sente em seguida irritação nos olhos, na pele, algum sintoma no estômago. Quando as doses são pequenas, é impossível perceber que se está sendo intoxicado aos poucos.

No meio ambiente, ele é considerado mortal a alguns anfíbios e répteis. Ele também favorece algumas bactérias de solo e prejudica a outras. Ele altera a dinâmica da vida, da biota do solo.

IHU On-Line – É bastante difundido, especialmente pela indústria, que o glifosato é menos prejudicial que outros herbicidas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o classifica como Classe IV (faixa verde). Como o senhor vê essa questão?

Rubens Nodari – Na verdade, a classificação da Anvisa é muito antiga, e, à luz dos novos resultados, o entendimento que existe é diferente. Hoje, se fosse feita a reavaliação dos resultados do glifosato com os dados que foram obtidos a partir de 2005, talvez a Anvisa mudasse de classificação toxicológica.

IHU On-Line – Como o senhor analisa a pesquisa feita na Argentina que envolve o glifosato?

Rubens Nodari – A Argentina tem feito alguns estudos, inclusive associando o glifosato a consequências nos anfíbios, sobre o uso desse agrotóxico. Há um estudo no qual se percebeu que o glifosato inibe o desenvolvimento de embriões. O glifosato e outros produtos acabam afetando alguns sistemas do corpo humano, principalmente o cérebro, que deixam as pessoas com maior ansiedade. E é isso que faz com que as pessoas tomem decisões consideradas insensatas. Assim, o que se especula, por enquanto, é que as pessoas têm sua capacidade física limitada.

IHU On-Line – Quando o glifosato contamina o solo ou um rio, o que acontece?

Rubens Nodari – Alguns organismos não são afetados pelo glifosato. Se se aplica muito glifosato, por exemplo, na água, alguns organismos vão ser beneficiados, e outros não, pois ele não se degrada tão rapidamente. Assim, se altera por completo a diversidade biológica que existe nesse ambiente. Em relação à água, há menos estudos, mas, de qualquer maneira, já existem relatos de mortalidade de certos organismos que ali vivem. Quando a fonte de glifosato é aplicada repetidamente, o impacto é muito maior nessas comunidades aquáticas. Já existem muitos dados de mortalidade de certas espécies de anfíbios e répteis em função da aplicação do glifosato.

IHU On-Line – Acredita que deve se proibir o glifosato?

Rubens Nodari – Na verdade, todo veneno deveria ser proibido. Compostos que são desenvolvidos para matar não fazem parte da ética da vida. Quem defende a vida não pode ser favorável ao uso de sustâncias que a comprometem. Então, a humanidade só deveria usar em casos extremos esse tipo de produto, e não de forma corriqueira como hoje é usado. Existem outras formas de fazer agricultura em que não precisamos usar venenos. Temos sistemas agroecológicos que são perfeitamente passíveis de serem utilizados para produzir alimentos, fibras, óleos etc., sem necessidade de usar agrotóxico. Então, um produto como esse deveria ser, naturalmente, proibido em função dos danos e dos impactos que ele causa tanto na saúde humana quanto ao meio ambiente.

A impressão que tenho é que nós deveríamos recomendar aos agrônomos que evitem fazer o receituário desses produtos. E aos agricultores que tomem cuidado e não usem produtos como esse em larga escala porque os primeiros prejudicados serão os próprios agricultores.
(Envolverde/IHU-OnLine)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Agronegócio, ambiente e saúde

Realizado no último fim de semana pela Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva, o debate conseguiu pouca repercussão pelo país, mas tocou em pontos importantes das relações do agronegócio com saúde pública e meio ambiente.

Vicente Almeida (Embrapa) lembrou que as disputas por terras ligadas ao agronegócio geram concentração fundiária, fome, erosão genética e contaminação do solo, da água e perdas de biodiversidade. "O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. A agricultura promete geração de renda e emprego, mas o que vemos são trabalhadores e alimentos contaminados. É importante avançarmos na negação do modelo e incentivarmos uma transição agroecológica. É preciso analisar os custos que essa mudança traz e suas conseqüências para a população", disse.

Marcelo Porto (Escola Nacional de Saúde Pública/ENSP) foi radical e defendeu a formação de uma rede de pesquisadores das áreas econômica, de saúde, agronomia, política e afins, que lute contra o agronegócio, não só contra seus efeitos. "Grandes plantações são uma bomba ecológica, pois agridem a cultura local, geram disputa por território e trazem vários outros danos. Um exemplo é a soja. Ela é a expressão clara da expansão da monocultura e do agronegócio", comentou.

Wanderlei Pignatti (Universidade Federal de Mato Grosso) disse que a produção de soja, gado e madeira tem destruído o estado. Segundo ele, em 2007 o Brasil tinha 52 milhões de hectares com lavouras temporárias e usava uma média de dez quilos de agrotóxico por hectare. "Esse número revela uma média de 500 a 600 milhoes de quilos por ano no Brasil".

Conforme ele, venenos usados nas lavouras são absorvidos pela pele, pulmão e sistema gastrointestinal dos trabalhadores. Também comentou que até mesmo o "uso adequado" de agrotóxicos traz danos ambientais e à saúde. "Qualquer utilização traz danos ao ambiente e, consequentemente, à saúde. Outra falsa afirmação é a de que a falta de informação dos agricultores é a maior causa das contaminações ocupacionais e ambientais".
O ECO

sábado, 10 de outubro de 2009

”Proteger espécies agrícolas é tão importante quanto proteger a Amazônia”


Fabiano Ávila, CarbonoBrasil

A pesquisadora Juliana Santilli, autora do livro “Agrobiodiversidade e direito dos agricultores”, explica o que é a agrobiodiversidade, e quais políticas devem ser adotadas para proteger as variedades agrícolas e os agricultores, contribuindo para a defesa ambiental e para a segurança alimentar.

A reportagem e a entrevista é de Bruno Calixto e publicada por Amazonia.org.br, 08-10-2009.

Os defensores do meio ambiente costumam dar grande destaque para a questão da biodiversidade, alertando para os riscos da extinção de espécies. Entretanto, a biodiversidade agrícola, de espécies cultivadas como o arroz, o feijão, o milho, é geralmente negligenciada.

Para entender melhor esse conceito de agrobiodiversidade, o site Amazonia.org.br conversou com a pesquisadora e doutora em direito ambiental Juliana Santilli, que lançou recentemente o livro “Agrobiodiversidade e direitos dos agricultores” (Ed. Peirópolis, 514 págs.).

Juliana explica que, segundo estudos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 95% das espécies agrícolas desapareceram nos últimos cem anos. Com a modernização da agricultura e ênfase na monocultura, muitas outras espécies estão ameaçadas, colocando em risco nossa segurança alimentar.

Além disso, a autora fala da importância de políticas para a agricultura familiar, no âmbito do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), e sobre os direitos dos agricultores. “O reconhecimento dos direitos dos agricultores é uma parte chave de qualquer política de reconhecimento e valorização da agrobiodiversidade”.Eis a entrevista
Fonte: Mercado Ético
Foto: Raiz CulturaBlog

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Agricultores em guerra com a Coca-Cola


Ranjit Devraj, da IPS

Em meio à pior seca da Índia em quatro décadas, agrava-se uma disputa pelos recursos hídricos entre os agricultores de Kala Dera, no Estado de Rajastão, e na engarrafadora local da Coca-Cola. Os agricultores e ativistas de Kala Dera que pedem o fechamento da unidade da multinacional afirmam que se não conseguirem fechá-la este ano, tão açoitado pela seca, provavelmente nunca o farão. Kala Dera fica a 40 quilômetros de Jaipur, capital do árido Estado de Rajastão, que tem entre suas principais atrações o deserto de Thar, considerado o sétimo maior do mundo e o terceiro da Ásia.

“As pessoas que administram a fábrica da Coca-Cola são muito influentes e contam com o apoio de políticos do governante Partido do Congresso e do opositor Partido Bharatiya Janada”, disse o ativista e agricultor Rameshwar Prasad Kudi à IPS por telefone desde Kala Dera. “Mas nós temos o povo do nosso lado e continuaremos pressionando para que a fábrica seja fechada”, acrescentou. Kudi, integrante da organização local Kala Dera Sangharsh Samiti, disse que foram violadas várias regras e normas quando da autorização para instalar uma engarrafadora de bebidas em uma área com tradicional escassez de água. E o “obsceno” da coisa é que continua funcionando como de costume em meio a uma severa seca.
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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Compras para a alimentação escolar e a promoção da agricultura familiar

Renato S. Maluf/Carta Maior

A Lei nº 11.947/2009 pode se constituir num marco na história da alimentação escolar no Brasil, desde logo, por conferir densidade institucional a um programa que, embora antigo, carecia de definições em termos de diretrizes e obrigações dos gestores e entes federados envolvidos.

Em artigo anterior, apresentei a concepção e principais diretrizes do novo formato do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), estabelecido pela recém sancionada Lei nº 11.947/2009. Abordo agora uma importante novidade introduzida pela referida lei quanto à utilização dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a Estados e municípios para a compra de alimentos para o programa. O artigo 14 obriga que se utilize no mínimo 30% do total dos recursos na aquisição de gêneros alimentícios originados diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações.

Prioridade é conferida aos assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. Para o fornecimento de cerca de 47 milhões de refeições diárias, o FNDE previu repassar, em 2009, R$ 2 bilhões. Estima-se que o aporte adicional de Estados e municípios para a compra de alimentos chegue a 25% do total federal, isto é, mais R$ 500 milhões sobre os quais, porém, não pesa a referida obrigatoriedade.
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