quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ane Brun - The Puzzle

A mágica redução dos gases de efeito estufa

Foi sancionada nesta segunda-feira (28/12), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a lei que estabelece a Política Nacional de Mudanças Climáticas. Só não sabemos qual vai ser a mágica que o governo fará para alcançar a meta de redução das emissões nacionais de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020, uma vez que foram feitos três vetos importantes ao texto da lei.

Vejam os pontos que foram vetados segundo a Agência Brasil: "Um dos pontos vetados é o que proíbe o contingenciamento de recursos com ações de enfrentamento das alterações climáticas."

"Também foi vetado, a pedido do Ministério de Minas e Energia, o item que trata do estímulo ao desenvolvimento e ao uso de tecnologias limpas e ao paulatino abandono do uso de fontes energéticas que utilizem combustíveis fósseis". "O terceiro veto recai sobre o Artigo 10, que trata da substituição gradativa dos combustíveis fósseis e estabelece as formas como seria feita essa substituição."

A lei sancionada pelo presidente resultará em um decreto que deverá estabelecer metas para vários setores. Em janeiro "serão realizadas reuniões com governos, acadêmicos e empresários de áreas como construção civil, mineração, setor agropecuário, indústria de bens de consumo, de serviços de saúde e transporte público para discutir as metas que constarão no decreto presidencial." A informação é da Agência Brasil. Resta saber quem vai sair perdendo nesta quebra de braço, desconfio que todos nós, pois nada ficou acordado em Copenhague quanto a cobranças de metas e resta a nós, sociedade civil, nos organizarmos para fazer valer o que foi estabelecido e que ainda é muito pouco.

Minha casa Meu mundo com informações da Agência Brasil.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Petição em favor de um animal

Estou encaminhando esta petição em defesa de um animal. Por favor, assinem!

Foi iniciada hoje uma petição para ser entregue ao Ministério Público,
exigindo rigor na punição do crime ocorrido em Ribeirão Pires, de
estupro e maus-tratos da cadelinha batizada de Vida pela promotora de Meio Ambiente, Dra.
Thelma, que é quem está custeando todo o seu tratamento. Por favor, assinem
e peçam aos amigos e parentes para assinarem também, pois quanto mais
assinaturas colhermos, maior será a pressão para que haja uma punição
exemplar.Assine aqui

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um Natal de mais amor e paz para todos!

Blairo Maggi dá aval para duplicação de estrada sem licença ambiental


Trecho afeta pelo menos três unidades de conservação. Instituto Chico Mendes para obra já iniciada.
Andreia Fanzeres

Dizem que são nas pequenas atitudes que conhecemos as pessoas. Talvez isso valha para a administração pública por trás de discursos cada vez mais verdes. O governo de Mato Grosso nos presenteia neste Natal com um típico exemplo. Antes de mostrar programas e projetos estaduais na Conferência do Clima, em Copenhague, o governador Blairo Maggi determinou o início das obras de duplicação da estrada MT-251, que liga Cuiabá ao destino turístico mais procurado pelos moradores da capital, Chapada dos Guimarães.

Com todo apoio popular de uma obra de infra-estrutura para a região sediar a Copa do Mundo de 2014, no dia 11 de novembro de 2009 Maggi assinou uma ordem de serviço dando aval para a empresa Cavalca Constutora e Mineração começar a obra, depois de ter vencido a licitação. No dia seguinte, os caminhões já circulavam pela estrada, revolvendo terra e derrubando árvores de Cerrado numa área perigosamente próxima a duas unidades de conservação estaduais, uma federal e uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN). A opinião pública, é claro, apoia o empreendimento que facilitará o acesso à Chapada dos Guimarães, e que supostamente diminuirá os constantes acidentes de trânsito quase sempre motivados, segundo a Polícia Militar, por pura imprudência dos motoristas. A essas alturas, ninguém se preocupou em verificar se a obra tem licença ambiental. Não tem.

Depois de um mês e meio, e nenhuma atitude por parte da Secretaria de Meio Ambiente do estado para garantir que o empreendimento respeite a legislação ambiental, o Instituto Chico Mendes (ICMBio) embargou as obras e multou a empresa responsável em dois milhões de reais. A ação teve apoio do Ibama. Além de não apresentar uma licença válida ao órgão federal, conforme previamente solicitado, o empreendedor sequer havia pedido autorização do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães para executar obras no entorno de 10 quilômetros da unidade de conservação.

“Mais do que suspender a obra, queremos trazer ao zero a discussão sobre esta estrada. Antes que qualquer licença seja concedida, é preciso discutir alternativas locacionais e compensações ambientais, o que não foi feito. Ainda mais por se tratar de impactos diretos a uma unidade de conservação de proteção integral”, justifica Eduardo Barcellos, coordenador da Coordenação Regional 10 do ICMBio em Chapada dos Guimarães.

Interromper a obra sem licença neste ponto também foi uma ação preventiva, uma vez que alguns quilômetros adiante os tratores ameaçariam diretamente, além da vegetação de dentro do parque nacional, nascentes e paredões rochosos extremamente frágeis, que requereriam estudos aprofundados para que uma obra dessas seja ambientalmente viável. “Isso representaria um grande passo para a extinção de fauna de grande porte do parque. Hoje o índice de atropelamentos é alto, imagine com mais três pistas de rolamento para cada sentido da estrada sem as devidas mitigações, como limitação de peso, horários específicos para tráfego de alguns tipos de veículos”, acrescenta Barcellos.

Derrubando barreiras

Coincidência ou não, uma coisa o governo fez antes de autorizar o roncar dos tratores. Em agosto, o secretário de Meio Ambiente Luis Henrique Daldegan tratou de revogar o macrozoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada dos Guimarães, único instrumento de gestão da unidade de conservação estadual que serve de zona tampão para o parque. O documento, elaborado há mais de dez anos, servia de diretriz para o manejo da área, muito próxima do local onde foram iniciadas as obras da estrada.

O governo não apresentou justificativa plausível para a revogação, mas a coordenação de unidades de conservação da Secretaria de Meio Ambiente ainda acredita que o documento tenha algum valor jurídico. Procurada pela reportagem, a Secretaria do Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema), responsável pelo licenciamento ambiental da obra, se limitou a informar que o processo está sendo conduzido em nome da Secretaria de Infra-estrutura do estado (Sinfra) e se encontra “em análise”. E se recusou a dar mais detalhes. “Não é possível falar sobre isso neste momento”, respondeu a assessoria de comunicação do órgão.

No site oficial da Sema, que abriga um sistema de consultas que teoricamente dá transparência às ações de licenciamento do estado, não existe nenhuma menção às obras de duplicação da estrada, nem à etapa de licenciamento ambiental em que ela está.

O projeto

A duplicação da estrada Cuiabá-Chapada dos Guimarães foi dividida em três etapas. A primeira, que efetivamente começou, compreende 17 dos 60 quilômetros da rodovia. Esta fase, conforme o estado, custará 17 milhões de reais, pagos com recursos do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) e do Fundo de Desenvolvimento do Estado Mato Grosso (Fundesmat). O governo de Mato Grosso anuncia que a obra ficará pronta em 2011 e, diante da imprensa, sempre garantiu que há licença. Já na primeira fase, a duplicação abarca o entorno do parque nacional e o início do trecho reconhecido como estrada-parque, categoria de unidade de conservação estadual.

Apesar de se tratar de uma estrada-parque, servidores da coordenação de unidades de conservação desconhecem qualquer preocupação no projeto com travessia de animais ou criação de pontos específicos para apreciação da beleza cênica, por exemplo. O segundo trecho da obra compreende a estrada-parque, cruza o interior do parque nacional e abrange parcialmente a APA estadual. E a terceira etapa está totalmente incluída nas três unidades de conservação.

Até o dia 8 de dezembro, praticamente um mês após o início das obras, o processo ainda não havia chegado à superintendência de biodiversidade da própria Sema para análise.

Ao longo deste mês foram organizadas reuniões entre a Sinfra, o ICMBio, e a coordenação de unidades de conservação da Sema para discussão do projeto. “Aparentemente tem bastante gente preocupada com o assunto, isso é bom. Assim o processo tem a chance de ser discutido e readequado dentro das limitações de uso das três UCs que serão afetadas diretamente pelo empreendimento”, disse Alexandre Batistella, coordenador de unidades de conservação da Sema, ainda esperançoso.

Infelizmente, só conversas não têm bastado. Esse tipo de “esquecimento” é reincidente em Mato Grosso. Há pouco mais de um mês, no dia 19 de novembro, a Sinfra foi multada pelo Ibama pelo mesmo motivo: obras de pavimentação de estrada no município de Santo Antônio do Leverger, no Pantanal, sem licença ambiental. Em vez do documento, a Secretaria de Infra-estrutura apresentou apenas uma ordem de serviço e um pedido de licença para a Sema, ainda não aprovado. Resultado: multa de dois milhões de reais.

De acordo com o ICMBio, os ministérios públicos federal e estadual serão informados oficialmente sobre a recorrência desta situação, para que sejam tomadas providências. “Percebemos que este acaba sendo um procedimento padrão no estado. Nossa intenção não é bloquear obra alguma, mas que consigamos fazer uma correção para evitar que outras áreas sofram impactos sem levar em consideração a legislação ambiental”, diz o coordenador Barcellos.
Fonte: O ECO

Com 3ºC a mais, o planeta estará à beira da catástrofe


Um planeta que, na segunda metade do século, se encontrará à beira da catástrofe, com uma população próxima dos nove bilhões de seres humanos e com os ecossistemas de joelho, incapaz de fornecer água, alimento e energia suficientes.

É o cenário pós-Copenhague: um mundo sufocado pelos gases do efeito estufa, três graus mais quente.

A reportagem é de Antonio Cianciullo, publicada no jornal La Repubblica, 21-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Enquanto as delegações dos 192 países que participaram da conferência sobre o clima sobem aos aviões levando para casa um miniacordo teórico, sem os alvos para os cortes das emissões de gás carbônico, foi preparada uma primeira análise que projeta em nível global as consequências do fracasso da cúpula da ONU.

A análise foi preparada pelo Greenpeace para mostrar as consequências da rendição diante da ameaça climática. Eis o que aconteceria se, continuando a queimar petróleo e carbono e a cortar florestas, permitíssemos que o aquecimento global aumentasse fora do controle.

Chuvas

O ritmo das chuvas mudará, os furacões se tornarão mais intensos e mais frequentes, o nível do mares crescerá destruindo dezenas de cidades costeiras e ilhas (os arquipélagos que se opuseram até o último momento, em Copenhague, ao pacto por baixo entre Estados Unidos e China, rejeitando-se a assinar o entendimento). As áreas áridas e semiáridas na África irão se expandir pelo menos 5% a 8%, se perderá 80% da floresta pluvial amazônica. A taiga chinesa, a tundra siberiana e a tundra canadense serão seriamente atingidas.

Geleiras

O Polo Norte irá se tornar em breve navegável no verão. Uma elevação de três graus da temperatura média destruiria um terço das geleiras tibetanas em 40 anos. A população mundial submetida a um crescente estresse hídrico passaria do um bilhão atual a 3,2 bilhões. E outros 200-600 milhões de pessoas se somariam ao elenco daqueles que não têm comida suficiente para sobreviver.

As espécies em risco

Significativas extinções estão previstas em todo o planeta: um terço das espécies estarão em risco. Desapareceram 15-40% das espécies endêmicas nos "hot spot" da biodiversidade mundial. Na América Latina, 25% das espécies arbóreas da savana correm risco de extinção.

Saúde

A onda de choque sobre a qualidade e a duração da vida seria devastadora. "Com um aumento de três graus, 3,5 bilhões de pessoas no mundo estarão em risco de contrair a dengue, e dois bilhões, em risco de contrair malária, uma doença que hoje já mata um milhão de pessoas por ano", indica Roberto Bertollini, responsável pelo setor de mudanças climáticas da Organização Mundial da Saúde.

"Além disso, por causa da falta de água, aumentarão as vítimas da diarreia, que mata 2,2 milhões de pessoas por ano, e da seca, que multiplicará por seis o seu impacto. Na América do Norte, prevê-se 70% de crescimento dos dias com alto risco de concentração de ozônio. A União Europeia estima que, no continente europeu, haverá 86 mil mortos a mais por ano: serão frequentes as ondas de calor que provocaram 70 mil mortos a mais no verão europeu de 2003".

A Itália

Na Itália, o impacto também se anuncia pesado. "Se o nível do mar subisse um metro até 2100, a Itália teria que proteger boa parte das suas costas", calcula Angelo Bonelli, presidente do Partido Verde. "Um estudo que pedimos a um grupo de pesquisadores informa que na Itália 22,8% das costas está sujeito à erosão: são 1.733 quilômetros".

Em risco também ficarão as costas do alto Adriático, de Veneza até Grado, rumo ao sul, desde Rimini, enquanto para o interior a água poderia chegar até Ferrara. Na Toscana, estariam em perigo as costas próximas de Livorno e, rumo ao norte, aquelas de Tombolo até Arno: o mar chegaria à periferia de Pisa. No Lácio, Latina seria submersa e, para o sul, o Tirreno roubaria grande parte das costas próximas do Golfo de Gaeta. Do lado oposto, a Puglia veria Manfredonia e as costas que se desdobram rumo a Barletta submergirem, enquanto a Sardenha poderia dar tchau às costas do Golpe de Oristano, além da península do Sinis e do Stagno di Cagliari. O aumento do nível do Mediterrâneo provocaria ainda um outro problema: a infiltração salina nas camadas aquíferas, o que comprometeria uma parte importante dos recursos hídricos, principalmente na Puglia e na Sicília.

A esperança

"Os poderosos da Terra fizeram falir o objetivo de impedir mudanças climáticas desastrosas: o único resultado concerto é a prisão de quatro de nossos ativistas, presos por ter protestado contra o despreparo dos governos", acusa Kumi Naidoo, diretor do Greenpeace International.

"Mas não acaba aí. Os cidadãos de todo o mundo pediam um verdadeiro acordo, antes que a cúpula iniciasse, e continuam pedindo. Devemos obter dos governos, em todos os níveis, ações concretas que permitam salvar centenas de milhões de pessoas das devastações produzidas por um planeta sempre mais quente".

Se houver uma forte reação da opinião pública, calcula o Greenpeace, evitaremos o cenário marcado por uma freada muito lenta na emissão dos gases do efeito estufa: é preciso um último esforço que permita fechar até 2010 um acordo baseado em cortes rápidos, consistentes e vinculantes.

(Envolverde/IHU-OnLine)

A lógica do sistema capitalista é contrária ao uso racional dos recursos naturais

A afirmação é da economista Leda Paulani em entrevista especial ao IHU On-line


A professora analisa o desenvolvimento da economia brasileira nos últimos anos, trazendo dados importantes como a passagem do primeiro para o segundo mandato de Lula, a crise econômica, as perspectivas para 2010 e a atual taxa cambial brasileira. “Dada a forma que a sociedade se organiza hoje, se simplesmente desacelerar o crescimento no mundo todo, se joga bilhões de pessoas na miséria. É uma contradição enorme. Como vai se defender, num país como o Brasil, que o país não cresça mais?”, disse ela na entrevista que concedeu por telefone.

Leda Paulani é doutora em Teoria Econômica pelo Instituto de Pesquisas Econômicas da universidade de São Paulo. Em 2004, recebeu o título de Livre-docência da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, onde, atualmente, é professora. É presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política e pesquisadora Sênior da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Escreveu Lições da Década de Oitenta (Sao Paulo: EDUSP, 1995), A Nova Contabilidade Social (São Paulo: Editora Saraiva, 2000), Modernidade e Discurso Econômico (São Paulo: Boitempo Editorial, 2005) e Brasil Delivery: Servidão financeira e estado de emergência econômico (São Paulo: Boitempo Editorial, 2008).
Confira a entrevista

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Glenn - O guardador de águas

É com profundo pesar que estou aqui para prestar uma homenagem ao meu amigo Glenn Switkes, que tão inesperadamente nos deixou. Tomo de Manoel, emprestado, este poema para falar dele, que era um verdadeiro guardador de águas e que tanto lutou para manter elas, fluindo livremente até o mar, sem as interrupções das absurdas barragens e suas hidrelétricas. Que sua luta não tenha sido em vão e os rios possam fluir límpidos e livres por esta terra que ele amou. Beijos de saudades...

O guardador de águas

O aparelho de ser inútil estava jogado no chão, quase
coberto de limos -
Entram coaxos por ele dentro.
Crescem jacintos sobre palavras.
(O rio funciona atrás de um jacinto.)
Correm águas agradecidas sobre latas...
O som do novilúnio sobre as latas será plano.
E o cheiro azul do escaravelho, tátil.
De pulo em pulo um ente abeira as pedras.
Tem um cago de ave no chapéu.
Seria um idiota de estrada?
Urubus se ajoelham pra ele.
Luar tem gula de seus trapos.

Esse é Bernardo. Bernardo da Mata. Apresento.
Ele faz encurtamento de águas.
Apanha um pouco de rio com as mãos e espreme nos vidros
Até que as águas se ajoelhem
Do tamanho de uma lagarta nos vidros.

No falar com as águas rás o
exercitam.
Tentou encolher o horizonte
No olho de um inseto - e obteve!
Prende o silêncio com fivela.
Até os caranguejos querem ele para chão.
Viu as formigas carreando na estrada 2 pernas de ocaso
para dentro de um oco... E deixou.
Essas formigas pensavam em seu olho.
É homem percorrido de existências.
Estão favoráveis a ele os camaleões.
Espraiado na tarde -
Como a foz de um rio - Bernardo se inventa...
Lugarejos cobertos de limo o imitam.
Passarinhos aveludam seus cantos quando o vêem.

Manoel de Barros


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sem acordo real e sem saída


Por Stephen Leahy*
Copenhague, 21 de dezembro (IPS/TerraViva).- A mudança climática já está aqui. O demorado fim da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que se prolongou até o dia 19, apresentou um resultado decepcionante. As futuras gerações podem encontrar um planeta radicalmente transformado, com grandes áreas cujas temperaturas estarão entre sete e 14 graus mais quentes e, portanto, inabitáveis.

Nesse mundo em chamas, a elevação do nível do mar entre um e dois metros até 2100 deixará centenas de milhões de pessoas sem casa, segundo os últimos dados científicos apresentados, em setembro, na Conferência Internacional da Ciência Climática Quatro Graus e Mais Além, realizada na Universidade de Oxford. Esta realidade científica é a que afeta, enquanto os resultados da conferência de Copenhague, que aconteceu de 7 a 18 deste mês, oferecem poucos avanços.

“Nossos líderes não captam a escala do problema nem a velocidade das mudanças. Não se dão conta de que devem agir agora”, disse o especialista em clima Andrew Weaver, da canadense Universidade da Columbia Britânica e principal autor dos informes do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC). “Agora” significa que as emissões globais de dióxido de carbono deveriam chegar ao seu ponto máximo em cinco anos e em seguida começar a baixar para chegar a quase zero em 2050, segundo o informe “O diagnóstico de Copenhague 2009: Atualizando o mundo sobre a recente ciência climática”. Divulgado uma semana antes de começar a COP-15, o informe reúne as últimas descobertas científicas dos principais pesquisadores da área, entre eles Weaver.

“Metas mais modestas e alcançáveis no curto prazo colocarão o planeta no caminho correto”, é a afirmação habitual do primeiro-ministro canadense, Stephen Harper. Suas “modestas” metas são uma redução de 3% das emissões de gases-estufa entre 1990 e 2020. As metas dos Estados Unidos são um tanto melhores. Segundo a evidência científica, os mais brilhantes pesquisadores concluíram que o Canadá e outras nações industrializadas devem reduzir suas emissões entre 25% e 40% até 2020, em relação a 1990, para que haja alguma esperança de que a temperatura não aumente mais de dois graus.

“Dois graus será muito difícil de a sociedade moderna conseguir”, alertou Pal Prestrud, pesquisador do Ártico e diretor do Center for International Climate and Environmental Research, com sede na Noruega. Mesmo que todas as emissões fossem eliminadas hoje, as temperaturas globais baixariam muito lentamente, em um período de mil anos. “Se esperarmos muito, será muito tarde”, disse Prestrud ao TerraViva. Nenhum cientista acredita que estabilizar o clima em dois graus no máximo colocará o planeta “no caminho correto”. O Ártico está derretendo com o atual aumento de 0,8 grau. O gelo do Polo Norte pode desaparecer no verão em apenas cinco ou dez anos.

O que acontece quando o extremo frio do planeta, que determina o sistema climático mundial, esquenta? Os padrões de chuvas e temperaturas na Europa e na América do Norte mudarão, afetando a agricultura, o reflorestamento e o fornecimento de água, diz o informe “Arctic Climate Feedbacks: Global Implications”, publicado em setembro pelo WWF. Um Ártico mais quente emitirá grandes volumes de dióxido de carbono e metano, que hoje estão presos nos gelados solos do permafrost. Uma vez que o processo comece, será impossível deter o aquecimento.

Com dois graus a mais, a maioria dos corais morrerá por uma combinação de calor e acidificação das águas oceânicas. Os arrecifes coralinos são os criadouros de grande parte dos peixes, dos quais dependem centenas de milhões de pessoas. A elevação do nível do mar deslocará outros muitos milhões. Por fim, dois graus a mais é apenas uma média mundial. Isso significa que as temperaturas subirão entre um e cinco graus, dependendo das regiões. E também haverá pelo menos um metro de elevação do mar até 2100.

Os humanos gozaram de dez mil anos de estabilidade climática, quando a temperatura média variou em menos de um grau, afirma Robert Corell, diretor do Programa Mudança Global do Centro H. John Heinz III de Ciências, Economia e Meio Ambiente, com sede em Washington. As emissões globais nos últimos cinco anos estiveram acima do pior cenário apresentado pelo IPCC e no caminho de um aumento de cinco a seis graus das temperaturas até 2100, disse Corell ao TerraViva.

Os sistemas naturais de absorção de carbono, oceanos e florestas, estão reduzindo sua capacidade, o que significa que o efeito estufa aumentará mais rapidamente. Os compromissos de reduções apresentados em Copenhague significam um aumento de 3,8 graus, acrescentou. “O governo do Canadá não tem uma maldita ideia do que significa aumento de dois graus”, afirmou o canadense Weaver.

“O que fazem os políticos é apenas perfumaria, suas propostas soam bem, mas são um engano, para eles próprios e para nós”, afirmou o respeitado especialista James Hansen em um artigo publicado no dia 29 de novembro no Observer. “Nos colocaremos de pé e daremos uma bofetada na cara dos políticos do mundo para que vejam a realidade?”, perguntou Hansen, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa. “Será necessário que muitos de nós saiamos às ruas. Ou deixaremos que continuem brincando entre eles e conosco, traindo nossos filhos e nossos netos?”.
Envolverde/Terramérica
* O autor é correspondente da IPS.
Crédito da imagem: Ana Libisch/IPS
Legenda: Jornalistas observam o final das conversações da COP-15.

É a treva: rumo ao desastre


Leonardo Boff*

Uma jovem e talentosa atriz de uma novela muito popular, Beatriz Drumond, sempre que fracassam seus planos, usa o bordão:”É a treva”. Não me vem à mente outra expressão ao assistir o melancólico desfecho da COP 15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague: é a treva! Sim, a humanidade penetrou numa zona de treva e de horror. Estamos indo ao encontro do desastre. Anos de preparação, dez dias de discussão, a presença dos principais líderes políticos do mundo não foram suficientes para espancar a treva mediante um acordo consensuado de redução de gases de efeito estufa que impedisse chegar a dois graus Celsius.

ltrapassado esse nível e beirando os três graus, o clima não seria mais controlável e estaríamos entregues à lógica do caos destrutivo, ameaçando a biodiversidade e dizimando milhões e milhões de pessoas.

O Presidente Lula, em sua intervenção no dia mesmo do encerramento, 18 de dezembro, foi a único a dizer a verdade:”faltou-nos inteligência” porque os poderosos preferiram barganhar vantagens a salvar a vida da Terra e os seres humanos.

Duas lições se podem tirar do fracasso em Copenhague: a primeira é a consciência coletiva de que o aquecimento é um fato irreversível, do qual todos somos responsáveis, mas principalmente os paises ricos. E que agora somos também responsáveis, cada um em sua medida, do controle do aquecimento para que não seja catastrófico para a natureza e para a humanidade. A consciência da humanidade nunca mais será a mesma depois de Copenhague. Se houve essa consciência coletiva, por que não se chegou a nenhum consenso acerca das medidas de controle das mudanças climáticas?

Aqui surge a segunda lição que importa tirar da COP 15 de Copenhague: o grande vilão é o sistema do capital com sua correspondente cultura consumista. Enquanto mantivermos o sistema capitalista mundialmente articulado será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra e se tomar medidas para preservá-las. Para ele centralidade possui o lucro, a acumulação privada e o aumento de poder de competição. Há muito tempo que distorceu a natureza da economia como técnica e arte de produção dos bens necessários à vida. Ele a transformou numa brutal técnica de criação de riqueza por si mesma sem qualquer outra consideração. Essa riqueza nem sequer é para ser desfrutada mas para produzir mais riqueza ainda, numa lógica obsessiva e sem freios.

Por isso que ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível.O discurso ecológico procura o equilíbrio de todos os fatores, a sinergia com a natureza e o espírito de cooperação. O capitalismo rompe com o equilíbrio ao sobrepor-se à natureza, estabelece uma competição feroz entre todos e pretende tirar tudo da Terra, até que ela não consiga se reproduzir. Se ele assume o discurso ecológico é para ter ganhos com ele.

Ademais, o capitalismo é incompatível com a vida. A vida pede cuidado e cooperação. O capitalismo sacrifica vidas, cria trabalhadores que são verdadeiros escravos “pro tempore” e pratica trabalho infantil em vários paises.

Os negociadores e os lideres políticos em Copenhague ficaram reféns deste sistema. Esse barganha, quer ter lucros, não hesita em pôr em risco o futuro da vida. Sua tendência é autosuicidária. Que acordo poderá haver entre os lobos e os cordeiros, quer dizer, entre a natureza que grita por respeito e os que a devastam sem piedade?

Por isso, quem entende a lógica do capital, não se surpreende com o fracasso da COP 15 em Copenhague. O único que ergueu a voz, solitária, como um “louco” numa sociedade de “sábios”, foi o presidente Evo Morales: “Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra”.

Gostemos ou não gostemos, esta é a pura verdade. Copenhague tirou a máscara do capitalismo, incapaz de fazer consensos porque pouco lhe importa a vida e a Terra mas antes as vantagens e os lucros materiais
Mercado Ético/Ecodebate

Mundo em transe: os desafios do ecodesenvolvimento

Em meio aos debates em Copenhague, na Convenção do Clima, a IHU On-Line entrevistou, por telefone, o professor José Eli da Veiga, que aproveitou a oportunidade da realização do evento na Dinamarca para lançar seu livro Mundo em transe. Do aquecimento global ao ecodesenvolvimento (Cidade: Autores Associados, 2009).

Ao discutir os principais elementos trazidos na obra, Eli da Veiga afirma que “é absolutamente falsa a ideia que predomina no noticiário e na atuação de muitas ONGs, de que, na verdade, os países estão em Copenhague movidos por algum tipo de altruísmo em relação às gerações futuras, e isso é que fará com que eles façam um acordo A ou B”. Para ele, “os últimos trinta ou quarenta anos forneceram muitos fatos para percebermos que é muito difícil, hoje, dizer como o modo de produção capitalista será superado. O que sabemos, com certeza, é que um dia - se a humanidade não se liquidar usando armas atômicas, ou deixando o aquecimento global sem controle, se o progresso social continuar - o capitalismo será superado”.

Eli da Veiga critica a discussão sobre se será a sustentabilidade ambiental que vai colocar em cheque o capitalismo ou não. “O que temos certeza é que é um modo de produção passageiro como foram os anteriores, mas é impossível saber como vai terminar. E esse dilema do crescimento é um dos dilemas do capitalismo, não é o único, estamos cansados de saber. Basta voltar à questão da desigualdade que a sociedade capitalista tem”.

José Eli da Veiga é professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde coordena o Núcleo de Economia Socioambiental (NESA). Além do livro que é tema desta entrevista, publicou outros, entre os quais: A Emergência Socioambiental (São Paulo: Ed. Senac, 2007); Meio Ambiente & Desenvolvimento (São Paulo: Ed. Senac, 2006); e Desenvolvimento Sustentável - O desafio do século XXI (Rio de Janeiro: Garamond, 2005). É colaborador da do jornal Valor Econômico. Para ver sua página pessoal na Internet clique aqui.
Leia a entrevista
Mercado Ético/IHU On-Line

A escolha é nossa



O Centro Hadley de Meteorologia do Reino Unido montou animações com dois cenários possíveis de aumento de temperatura no planeta. O primeiro com emissões crescendo ao longo do século, revelando uma temperatura 4.4oC mais elevada -- o que trará consequências irreversíveis para a vida na Terra, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). A outra animação cria uma situação hipotética de declínio de emissões até 2100, resultando em uma temperatura um pouco superior a 2oC, limite sugerido pelos países ricos, mas que não atende às necessidades imediatas de sobrevivência de países ilhas, por exemplo. Conforme frisou o dr. Rajendra Pachauri, chefe do IPCC, em Copenhague, para que esses 2oC sejam de fato atingidos, as emissões globais precisam começar a declinar a partir de 2015, o que, de acordo com a disposição dos países mais poluidores do planeta, não será alcançado. A comparação dos dois cenários é impressionante.
O ECO

domingo, 20 de dezembro de 2009

Garimpeiros encapuzados atuam no rio Boia, no Amazonas


Balsas foram encontradas pela expedição Vale do Javari, da Funai; garimpo nessas condições é crime ambiental
Roberto Almeida

Cinco grandes balsas de garimpo de ouro estão trabalhando a todo vapor no rio Boia, afluente do rio Jutaí, no sudoeste do Amazonas. São dragas mecanizadas, operadas por pelo menos cinco funcionários cada, que puxam o cascalho do leito do rio e jogam em esteiras, criando enormes bancos de areia e desmatando suas margens. O garimpo nessas condições é crime ambiental.

As balsas foram encontradas neste domingo, 20, pela expedição da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, e acompanhada pelo jornal O Estado de S.Paulo. Cerca de 30 funcionários, não identificados, estavam encapuzados dentro das balsas. O uso do mercúrio, altamente tóxico, é comum para finalizar o processo de extração do ouro.

Os primeiros indícios da operação de balsas de garimpo no rio Boia foram encontrados a 405 quilômetros ao sul da cidade de Jutaí (AM) no dia 11 de dezembro. Bancos de areia recém-formados indicavam que o leito do rio havia sido revolvido pelas dragas. Uma primeira balsa, mais simples, foi encontrada por funcionários da Funai escondida em um igarapé.

Subindo o rio em direção à sua nascente, porém, a situação é alarmante. A cerca de 500 quilômetros de Jutaí, balsas com pelo menos 25 metros de comprimento, dois andares, equipadas com braços mecanizados estão desmatando as margens e destruindo o leito do Boia. Nenhuma das lanchas de apoio tem nome registrado, fugindo à regulamentação da Capitania dos Portos.

O estrago feito pelas balsas é visível do espaço. Imagem de satélite feita há um ano pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já mostrava a aparição dos bancos de areia. Com a constatação da expedição da Frente Etnoambiental, ficou confirmado que os bancos são subproduto do garimpo ilegal.

Até mesmo as águas do rio, escuras, mudaram de tonalidade por conta da operação das dragas. No trecho em que há garimpo, a água é marrom e carrega garrafas plásticas jogadas pelos garimpeiros.

A Marinha, a Polícia Federal e o Ibama já foram informados pelo indigenista Rieli Franciscato, chefe da expedição, do garimpo na região. As três instituições estudam realizar uma operação conjunta para a retirada das balsas, mas não há previsão de início dos trabalhos.

Para avisar

Quando funcionários da primeira balsa avistaram o barco da expedição da Funai, por volta das 15h, desligaram o equipamento. Em seguida, dois deles partiram em disparada em uma voadeira, encapuzados. Subiram o rio Boia em direção às outras balsas para avisar. Na passagem pelas demais dragas, todas estavam desligadas e todos os funcionários encapuzados.

A quinta e última balsa encontrada pela expedição estava sendo rebocada no exato momento da passagem do barco da Funai. O rebocador não tinha identificação e a balsa, com quatro funcionários também encapuzados, desceu o rio em direção à cidade de Jutaí.
Fonte: Estadão

sábado, 19 de dezembro de 2009

Lokua Kanza—Le Bonheur

Mudanças Limáticas: sem acordo real, e sem saída


"No moriremos en silencio". Activistas protestando en Copenhague
Crédito: Nasseem Ackbarally/IPS
Por Stephen Leahy

COPENHAGUE, 18 dic (IPS/TerraViva) - El techo de la casa se quema, pero los gobernantes, el sistema económico y la humanidad misma ignoran la alarma y siguen echando leña al fuego. La casa no tiene salidas de emergencia, no hay a donde escapar.

El cambio climático ya está aquí.

El fin de la 15 Conferencia de las Partes de la Convención Marco de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático (COP-15) arrojó un resultado decepcionante, con detalles todavía no del todo claros.

Un "Acuerdo de Copenhague" fue forjado por Estados Unidos, China, India y Sudáfrica el viernes por la noche, pero no estaba claro si los demás países lo aceptarían. Las conversaciones continuarían hasta el sábado.

Las futuras generaciones podrían encontrar un planeta radicalmente transformado, con grandes zonas cuyas temperaturas serán entre siete y 14 grados más calientes y por tanto inhabitables.

En ese mundo en llamas, la elevación del nivel del mar entre uno y dos metros hacia 2100 dejará cientos de millones de personas sin hogar, según los últimos datos científicos presentados en septiembre en la "Conferencia Internacional de la Ciencia Climática Cuatro Grados y más allá", celebrada en la Universidad de Oxford.

Esta realidad científica es la que golpea, mientras los resultados de la conferencia de Copenhague, que se celebró entre el 7 de diciembre y este viernes, ofrecen pocos avances.

"Nuestros líderes no captan la escala del problema ni la velocidad de los cambios. No se dan cuenta de que deben actuar ahora", dijo el climatólogo Andrew Weaver, de la canadiense University of British Columbia, y autor principal de los informes del Grupo Intergubernamental de Expertos sobre el Cambio Climático (IPCC).

"Ahora" significa que las emisiones globales de dióxido de carbono deberían llegar a su punto máximo en cinco años y empezar a declinar enseguida para llegar casi a cero en 2050, según un informe que reúne los últimos hallazgos científicos de los principales investigadores del área, entre ellos Weaver.

"El diagnóstico de Copenhague 2009: Actualizando al mundo en la última ciencia del cambio climático" fue publicado una semana antes de que empezara la COP-15.

"Metas más modestas y alcanzables a corto plazo pondrán al planeta en la senda correcta", es la afirmación habitual del primer ministro de Canadá, Stephen Harper. Sus "modestas" metas son una reducción de tres por ciento de las emisiones de gases invernadero entre 1990 y 2020. Las metas de Estados Unidos son algo mejores.

Según la evidencia científica, los más brillantes investigadores concluyeron que Canadá y otras naciones industriales deben reducir sus emisiones entre 25 y 40 por ciento para 2020, respecto de 1990, para que haya alguna esperanza de que la temperatura no aumente más de dos grados.

"Dos grados será muy difícil de lograr para la sociedad moderna", advirtió Pål Prestrud, investigador del Ártico y director del Center for International Climate and Environmental Research, con sede en Noruega.

Incluso si todas las emisiones se eliminaran hoy, las temperaturas globales declinarían muy lentamente, en un período de mil años. "Si esperamos mucho, será muy tarde", dijo Presetrud a TerraViva.

Ningún científico cree que estabilizar el clima en dos grados más pondrá al planeta en "la senda correcta". El Ártico se está derritiendo con el actual aumento de 0,8 grado. El hielo del polo Norte podría desaparecer en el verano en sólo cinco o 10 años.

¿Qué pasa cuando el extremo frío del planeta, que determina el sistema climático mundial, se calienta? Los patrones de lluvias y temperaturas en Europa y América del Norte cambiarán, afectando la agricultura, la forestación y el suministro de agua, sostiene el informe "Arctic Climate Feedbacks: Global Implications", publicado en septiembre.

Un Ártico más caliente emitirá grandes volúmenes de dióxido de carbono y de metano, hoy encerrados en los helados suelos del permafrost. Una vez que el proceso se desate, el calentamiento sería imparable.

Con dos grados más, la mayoría de los corales morirán por una combinación de calor y acidificación de las aguas oceánicas. Los arrecifes coralinos son los criaderos de gran parte de los peces, de los que dependen cientos de millones de personas. La elevación del nivel del mar desplazará a otros muchos millones.

Por último, dos grados más es sólo un promedio mundial. Eso significa que las temperaturas subirán entre uno y cinco grados dependiendo las regiones. Y también al menos un metro de elevación del mar para 2100.

Los humanos han gozado de 10.000 años de estabilidad climática, cuando la temperatura media varió en menos de un grado, afirma Robert Corell, director del Programa Cambio Global del Centro H. John Heinz III para la Ciencia, la Economía y el Ambiente, con sede en Washington.

Las emisiones globales en los últimos cinco años han estado por encima del peor escenario planteado por el IPCC y en la senda de un aumento de cinco a seis grados de las temperaturas para 2100, dijo Corell a TerraViva.

Los sistemas naturales de absorción de carbono, océanos y bosques, están reduciendo su capacidad, lo que significa que el efecto invernadero se incrementará más rápidamente.

Los compromisos de reducciones planteados en Copenhague significan un aumento de 3,8 grados, agregó.

"El gobierno de Canadá no tiene una maldita idea de lo que quiere decir un aumento de dos grados", afirmó el canadiense Weaver.

"Lo que hacen los políticos es una lavada de cara, sus propuestas suenan bien, pero son un engaño, a sí mismos y a nosotros", sostuvo el respetado especialista James Hansen en un artículo publicado el 29 de noviembre en Observer.

"¿Nos pondremos de pie y daremos una bofetada en la cara a los políticos del mundo para que vean la realidad?", cuestionó Hansen, director del Institudo Goddard para Estudios Espaciales de la NASA.

"Se necesitará mucho de nosotros, probablemente que tomemos las calles. ¿O los dejaremos que sigan jugando entre ellos y con nosotros, traicionando a nuestros hijos y a nuestros nietos?". (FIN/2009)
Fonte: IPS

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Caíram todos como patinhos ou o drible de Lula na opinião pública mundial

Fiscais protestam em Brasília contra lei que anistia desmatadores. (Foto: Ibama/DF)

Reproduzo, aqui, artigo das jornalistas do ECO, Andreia Fanzeres e Cristiane Prizibisczki , sobre o contraditório papel que o presidente Lula desempenhou em Copenhague e a real posição de seu governo diante das questões ambientais, motivo pelo qual, aliás, a ministra Marina Silva deixou o seu governo.Enquanto ele posava de grande defensor das reduções das emissões dos gases do efeito estufa, à sombra da COP 15, aprovava a anistia dos desmatadores. Obviamente que ele não deseja monitoramento dos países desenvolvidos, como propôs Obama, pois afirmar que fará reduções das emissões é uma coisa, e instituir e praticar políticas que levem a isso é outra bem diferente, a não ser que ele conte com a ajuda de algum santo que vai promover este milagre. Ou será que ele pensa que é Deus? Em verdade estamos acostumados com esse famoso jeitinho de ir levando, driblando a todos, como se estivesse jogando uma pelada. O problema é que a bola desta vez é o planeta terra e esta, só tem uma.Leiam a matéria que relata o que qualquer cego pode enxergar....
Leiam também artigo de Helena Alves nesta mesma página sobre o mesmo assunto.

A farra da anistia

Andreia Fanzeres e Cristiane Prizibisczki

Enquanto no Brasil grupos ambientalistas permanecem indignados com a aprovação do decreto suspendendo multas previamente dadas a quem desmatou, e impedindo que os órgãos de fiscalização federais apliquem novos autos de infração por crimes cometidos nessa área até o dia 9 de dezembro de 2009, na Conferência do Clima em Copenhague a confiança depositada nos compromissos ambientais do país continua inabalável.

O receio de agentes ambientais federais – que já estavam ameaçados a não conseguir exercer seu papel propriamente em Mato Grosso após a regulamentação do programa MT Legal, calcado nas mesmas bases – finalmente se confirmou com a extensão da proposta agora em nível nacional. O governo deu três anos para quem cometeu desmates ilegais se cadastrar e se comprometer a recuperar a área degradada, sem pagamento de multas, através de um termo de adesão e compromisso.

“Não faz qualquer sentido perdoar a multa de quem desmatou ilegalmente há uma semana. Essa pessoa que desmatou sabia que não podia fazê-lo e o fez deliberadamente. Não precisa de ajuda para se regularizar, mas de punição exemplar para evitar que outros façam o mesmo”, comentou o advogado Raul Silva Telles do Vale, do Instituto Socioambiental (ISA), em artigo recentemente publicado sobre o assunto.

Segundo Roberto Smeraldi, da organização Amigos da Terra – que há poucos dias esteve em Copenhague para mostrar que o desmatamento para conversão de florestas em pastagens no Brasil é responsável por metade das emissões de gases estufa nacionais – a medida vai gerar ainda mais impunidade. “Isso contribui para desmoralizar qualquer ação do poder público”, opinou. Para que alguma credibilidade seja dada a ações de comando e controle, o governo deveria remar em outro sentido. “O Ibama teria que aumentar expressivamente a efetiva cobrança das infrações, chegando a pelo menos 20 a 30% do total, o que ainda seria pouco, mas pelo menos sinalizaria o fim da impunidade generalizada e estrutural”, sugere Smeraldi.

Funcionários do Ibama organizaram uma manifestação para esta sexta-feira na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em repúdio ao decreto que, segundo os servidores, deixa a fiscalização federal de mãos atadas. Isso depois dos cofres públicos terem bancado investimentos de cerca de 500 milhões de reais nos últimos cinco anos para manter o sistema de fiscalização, de acordo com o órgão. “Não vejo por esse lado. O Ibama não é uma caixa registradora, o objetivo principal do órgão é trabalhar para mudar comportamentos. Esta é a primeira vez que se cria uma lei que oferece mecanismos e meios técnicos de os proprietários de terra regularizarem sua situação”, defende o ministro do meio ambiente, Carlos Minc, que comentou com O Eco que a lei não anistia coisa alguma. Quem está multado e não regularizar continua com a multa. Só vão ser liberados da multa aqueles que se regularizarem”, disse.

Por fora bela viola

Nada disso, no entanto, deve respingar na confiança que o Brasil construiu na esfera internacional, ainda mais nos últimos momentos da convenção do clima e depois do elogiado discurso de Lula sobre a posição de liderança que o país busca na área ambiental. “Sempre cobramos do Brasil coerência nas suas ações. Na esfera internacional, o Brasil construiu uma imagem positiva dando passos importantes como o estabelecimento de um plano de redução de emissões e metas de diminuição do desmatamento, mas uma atitude como essa vai contra qualquer coerência”, opina Carlos Rittl, que acompanha de perto as negociações envolvendo florestas na COP15 pela WWF. “Este tipo de ação coloca em risco a credibilidade do Brasil com seus compromissos em relação ao combate ao desmatamento. Mas como aqui no nível internacional todos estão preocupados com os processos macros, não está havendo impacto entre os chefes de estado”, completa.

Mas Carlos Minc não vê a coisa por este ângulo. “Acho o contrário. A lei acaba com a dicotomia que existe sobre o assunto. Acaba com a briga dos ruralistas, que dizem que têm que extinguir a lei [de penalização pelo crime ambiental], já que 90% das multas não foram pagas, e com a de certos ambientalistas que querem resolver o assunto de forma simplista”, rebate o ministro. Ele chamou de deformada a maneira como a aprovação do decreto foi divulgada pela mídia nacional. “Precisamos diminuir a demagogia na forma de falar sobre isso. Noventa por cento das multas ambientais no Brasil não foram pagas. Trabalhamos muito nos últimos anos e conseguimos a menor taxa de desmatamento da História. Só para fazer uma comparação, na gestão da Marina Silva, que foi uma ótima ministra, a taxa foi de 27 mil km² de desmatamento. Este ano conseguimos chegar a 7 mil [km²]”, argumentou.

Para Paulo Adário, do Greenpeace, a imprensa internacional ainda não acordou para esses temas de política ambiental interna no Brasil, por isso falta pressão de fora para forçar uma repercussão em esferas como as daqui de Copenhague. “As pessoas estão discutindo o que é floresta e não o que é árvore, vendo tudo em outra escala. Esse decreto deveria ter impactado a todos, mas não impactou”, constatou.

O jornalista francês David Sólon, e o britânico John Pickrell, alguns dos mais de 3.400 jornalistas que dividem a sala de imprensa na cobertura da COP15, confirmam que sequer têm notícia do processo de enfraquecimento da legislação ambiental no Brasil. “Estamos na França cobrindo mais a questão florestal no Brasil muito em função da boa imagem que o Lula tem no nosso país e dos acordos entre Brasil, França e países africanos. Mas na maioria das vezes não investigamos os assuntos de forma mais profunda do que isso”, admitiu Sólon.

Leia o decreto

Reduções propostas levarão a aquecimento de 3º


Nota divulgada pelo WWF informa que uma análise confidencial da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas confirma que as atuais promessas de redução de emissões nas economias desenvolvidas e algumas das emergentes colocam o mundo, na melhor das hipóteses, no rumo de três graus centígrados de aquecimento - provavelmente mais do que isso.

“A dura mensagem que chegou aos líderes mundiais reunidos em Copenhague é de que as propostas em discussão – especialmente aquelas feitas pelos países industrializados – estão bem aquém daquilo que o mundo precisa”, disse Keith Allott, coordenador de mudanças climáticas do WWF-Reino Unido.

“Essa avaliação, que data de apenas três dias atrás, está baseada na visão muito otimista contida nas promessas de redução de emissões. Essa visão supõe que os imensos furos por onde escapam as emissões ainda estão longe e que todos os compromissos voluntários de redução serão cumpridos”, disse Allot. “Precisamos de ações urgentes para fazer com que as emissões mundiais tomem um rumo capaz de manter o aquecimento bem abaixo do limiar aceito de dois graus centígrados, de forma a evitar os riscos inaceitáveis de mudanças climáticas catastróficas”, completou.

“É uma questão de matemática simples: precisamos de metas muito ambiciosas para os países desenvolvidos e de novos apoios financeiros para ajudar os países desenvolvidos a terem um crescimento com baixo carbono, bem como de ações para fechar os vários escapes de emissões que tornam os atuais compromissos de redução ainda mais frágeis do que eles parecem à primeira vista.”

(Envolverde/WWF-Brasil)

Uma opinião que compartilhamos

Estou publicando um artigo de uma colega blogueira de Portugal porque reflete uma contrariedade -que também é nossa-com os rumos que mundo vem tomando; com a falta de responsabilidade e bom senso dos nossos líderes mundias, reunidos em Copenhague.Leiam:

Vamos oferecer um presente
às gerações futuras, a Vida


Neste tempo natalício as populações, que podem dar-se a esse luxo, andam afadigadas com as festas natalícias, num vaivém de compras de presentes e numa euforia consumista desvairada. Entretanto, em Copenhaga os governantes de todo o Mundo decidem da forma que querem e que mais lhes convém, o futuro do Planeta, ou será o deles?. O problema é que se estão a decidir algo que diz respeito a todos, não o estarão a fazer da forma mais digna, para com algo que não admite brincadeiras, atrasos e jogos de poder: A TERRA.

Por Helena Alves

Independentemente das teorias do aquecimento global e do oposto, os cépticos climáticos, os líderes com toda a certeza, o que vão tentar é uma forma de terem mais poder económico e consequentemente bélico.

Começa logo porque ninguém se entende naquela cimeira.... ninguém está disposto a retroceder ou a ceder, especialmente o País considerado o maior poluidor mundial e a quem o Instituto Nobel entregou de uma forma despudorada, inconsequnte e desprestigiante, o Nobel da Paz ao seu Presidente Obama!

Apesar das preocupações mundiais, daqueles que já se não encontram anestesiados pelo bem estar e também daqueles que sabem que tem de se gerir recursos/superpopulação, os "líderes" andam a enganar tudo e todos, porque a ganância é cega, o poder corrompe e o ego é míope.

Porque é que eu afirmo isto?! Muito simples, foi dado o alerta pela GREENPEACE Brazil, que enquanto andam todos preocupados, ou distraídos com Copenhaga, a estrela do momento, o Presidente do Brazil, Lula da Silva, vai levar a votação o projeto lei 6424, que prevê a amnistia dos atentados ambientais na AMAZÓNIA e a redução da área de floresta em MAIS 20%!!!

Ou seja, a área de desflorestação passa a ter mais 150 mil km2, uma área três vezes superior ao Estado do Rio de Janeiro! A área protegida, passa a ser reduzida também de 80% para 50% com este projecto lei!

Lula da Silva acha-se no direito de levar um projecto destes a votação?!

Lula da Silva esqueceu-se que a AMAZÓNIA é o pulmão da Terra?! Esqueceu-se que já foi dizimada o bastante por desmatadores criminosos e que estes têm de ser castigados pelos crimes, ou quer o Presidente Lula tornar-se um criminoso, pior do que qualquer um, se a lei for aprovada?!

As espécies, todas, inclusive nós iremos sofrer consequências apocalíticas, se a MÃE TERRA perder este seu órgão fundamental à vida terrestre! A AMAZÓNIA é por esse facto património mundial, pertence a todos e todos devemos defender o que nos dá a vida, que já tão dizimada foi nas mãos dos capitalistas!

Mas, o que nós cidadãos comuns estamos á espera, é que se decida uma mudança de paradigma, que venha contrariar as más políticas económicas e ambientais, por consequência, para que as populações do Planeta tenham futuro e para que as outras espécies, que dependem dos actos humanos não passem à extinção e não sejam vítimas de um tratamento sórdido e desumano a que estão sujeitas.

Queremos que os Países mais pobres sejam ajudados, apoiados, estruturados e desenvolvidos.

Mantendo as mesmas políticas económicas, todos sabemos que os recursos não vão durar muito mais tempo.

Deixo aqui um apelo deveras constrangedor e digno de reflexão, escrito pelo jornalista Carlos Narciso, no seu blogue "Escrita em Dia":

«Se não foram diminuídas as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, o aquecimento global irá provocar alterações climáticas de consequências catastróficas para a vida na Terra. Isto parece ser uma certeza, a acreditar em algumas teorias científicas. Mas como o desastre não está marcado para amanhã, os políticos tentam ganhar tempo e adiam consecutivamente as decisões. Como se aquilo que não vai acontecer no nosso tempo de vida, não tivesse de ser acautelado aqui e agora. Ora, se os políticos sabem quais as decisões que têm de tomar e não as tomam, por alguma razão será. Na verdade, a capacidade de executar as decisões que deveriam ser tomadas não está nas mãos dos políticos. Está nas mãos dos capitalistas. São eles quem decidem se as industrias continuam a poluir (porque lhes sai mais barato), são eles que decidem que os hidrocarbonetos continuarão a ser queimados para que as maquinarias não parem, são eles quem decidem quanto e quando se investe na investigação de energias alternativas e renováveis. E enquanto não lhes der jeito alterar o paradigma do “negócio”, nada irá mudar. É por isso que os governos de todo o Mundo não fazem nada para impedir o aquecimento global . Não está nas mãos deles.»

A classe política não pode esquecer um factor determinante nas nossas sociedades, sem Povo não há Estado, e é em prol do Povo que o Estado tem de decidir.

Divulguemos, unamo-nos e digamos NÃO!!...

Desejo-vos um Feliz Natal e Bom Ano Novo, meditando nestas palavras como um apelo a toda a Humanidade... o Seu Futuro!

A Mãe Terra tem capacidade de se auto regenerar, mas só depois de se ver livre da doença que a assola, nós!
Artigo originalmente publicado no Notícias Lusófonas

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TicTac-Brasil divulga nota pedindo que Lula quebre unidade do G77


A coordenação da Campanha TicTacTicTac no Brasil divulgou na tarde desta quarta-feira (16/12) uma nota alertando para a necessidade de um posicionamento do presidente Lula na COP-15. A Campanha considera que o prestígio do presidente do Brasil pode “desencadear um efeito dominó positivo, contribuindo positivamente para destravar as negociações”. A nota defende ainda que o Brasil contribua com o fundo de adapatação “com vários bilhões, para romper com a unidade do G77, pressionando a China e outros países emergentes a seguirem o mesmo caminho”. Veja abaixo a integra do documento.

"Lula: é hora de agir pelo clima!

Há pouco mais de dois dias do final da COP-15, a pressão cresce, os ânimos se acirram e os impasses se amontoam. Ao mesmo tempo, com a chegada dos ministros e chefes de estado, começa a fase mais decisiva da Conferência. Nesse momento, a atuação de Lula e seus ministros terá peso decisivo.

Não é ufanismo: o Brasil pode mesmo fazer a diferença neste momento crítico da COP-15. O prestígio de Lula e o peso político de nosso país podem desencadear um “efeito dominó” positivo, contribuindo decisivamente para destravar as negociações. A chave está em nossa contribuição para o fundo de adaptação às mudanças climáticas.

Em sua primeira fala sobre o tema, Dilma manteve um discurso desenvolvimentista e terceiro-mundista à moda antiga. Insistindo que o Brasil só pode avançar no combate às mudanças climáticas se tiver ajuda externa, Dilma mostra um Brasil focado no próprio umbigo, e não nas necessidades globais, comprovadas pela ciência e pela economia. A ministra se coloca no lamentável papel de porta-voz dos ruralistas e de outros setores nacionais apegados aos ganhos de curto-prazo e a um modelo de enriquecimento predatório e insustentável.

O Brasil PRECISA tomar a iniciativa de colocar no Fundo de adaptação não um bilhão de dólares (que "não faz nem cosquinha", segundo Dilma), mas sim vários bilhões, destinados aos países realmente pobres, que quase ou nada emitem e que precisam mesmo de auxílio externo para adaptar-se às mudanças climáticas. Fazendo isso como uma contribuição voluntária o Brasil não romperia a unidade do G77 (mantém a divisão de países conforme está no Protocolo de Quioto) e, ao mesmo tempo, pressionaria China e outros países emergentes a seguirem pelo mesmo caminho ou, pelo menos, a apresentarem propostas concretas em prol do interesse global, como abrir mão dos recursos desse fundo.

Isso acontecendo, cai o argumento dos EUA para não contribuir com este Fundo ("não daremos dinheiro do contribuinte americano para a China", disseram os americanos). Movendo-se os EUA, ficam enfraquecidos também os argumentos da União Européia, do Japão e de outros, que não querem contribuir, se os EUA não fizerem o mesmo. Havendo clareza na constituição do fundo, abre-se o caminho para restabelecimento da confiança dos países africanos e insulares, que com veemência e razão vêm reclamando da falta de compromissos sérios dos países ricos.

Isso ainda credencia o Brasil a manter-se firme nas suas demandas quanto às contribuições de países do Anexo 1 para os demais – inclusive os grandes emergentes - no que tange a recursos de mitigação e transferência de tecnologia.

É um efeito dominó positivo que o Brasil pode e deve causar. É isso que Lula precisa fazer já!

Respaldado pela decisão acima, o Brasil aumenta seu cacife para atuar em outros pontos para os quais já tem excelentes credenciais, no cenário da COP-15:

- Cobrança firme de metas ambiciosas de redução de emissões pelos países ricos: os países em desenvolvimento surpreenderam positivamente ao apresentar suas metas. Frente a um gesto de grandeza do Brasil (“olhar para o mundo e não para seu próprio umbigo”), ficará ainda mais insustentável o jogo fechado e egoísta adotado pelos EUA e outros: serão eles os responsáveis por um fracasso em Copenhague, e isso nenhum político quer em sua biografia.

- Formato legal do documento a ser assinado: por inúmeras razões, vários atores trabalham aberta ou ocultamente para liquidar o Protocolo de Quioto. Por mais falhas que tenha, é o único documento internacional legalmente vinculante em vigor no campo das mudanças climáticas, e não pode ser perdido. Princípios basilares como o das responsabilidades comuns, porém diferenciadas; da responsabilidade histórica pelas emissões pré Convenção do Clima não podem ser rebaixados a meras intenções ou compromissos “politicamente vinculantes”. A diplomacia brasileira tem um brilhante histórico nessa área e - estando respaldada por uma posição de liderança real do Brasil ao nível de chefes de estado - poderá zelar para que as soluções negociadas sejam adequadas.

- Garantir um processo transparente e evitar o “greenwashing: independentemente da recém ocorrida mudança na presidência da CoP15 (sai Connie Hedegaard, entra o primeiro-ministro Lars Rasmussen) ser ou não um passo já programado, o fato é que isso representa uma ENORME mudança no que acontece em Copenhague. Saímos de uma conferência das Nações Unidas (notórias por seus processos democráticos, mas também por sua demora e incapacidade decisória) e entramos numa reunião de cúpula com mais de 100 chefes de estado (possivelmente mais ágil e firme em suas decisões, mas certamente muito mais problemáticas em termos de democracia interna e transparência). Isso pode ser bom, para avançarmos rapidamente. Mas existem inúmeros motivos para nos preocuparmos com o desvirtuamento desse processo, que corre o risco de transformar-se num vergonhoso jogo de aparências, com o único objetivo de iludir a opinião pública e salvar a cara dos chefes de estado presentes. São indícios disso os evidentes cerceamentos à imprensa e à sociedade civil no recinto da conferência, e os repetidos rumores sobre negociações paralelas e documentos vindos não se sabe de onde.

É nessa hora decisiva que Lula, Dilma, Minc e os outros negociadores brasileiros com voz ativa nessa fase do processo podem, de novo, fazer a diferença, zelando para que as metas indicadas pela ciência e os princípios da justiça climática prevaleçam. Serão eles os nossos olhos e nossas vozes nas negociações de cúpula que encerrarão a CoP 15. Que façam jus ao crédito que de nós receberam.

Rubens Harry Born, coordenador geral, e Aron Belinky, coordenador executivo, da Campanha Global de Ações pelo Clima-Brasil (TicTacTicTac/TckTckTck)"
(Envolverde/TicTac-Brasil)

O crepúsculo da superpotência

Por Mark Sommer*

Arcata, Califórnia, dezembro/2009 – Há poucas semanas, o vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim fez os norte-americanos recordarem o quanto se sentiram orgulhosos quando um triunfante Estados Unidos colocaram canga sobre um império soviético que desmoronava. Duas décadas depois, os norte-americanos se encontram desconcertados, perplexos e ressentidos pela situação de sua nação, embora na realidade a decadência de sua supremacia mundial já venha de muito tempo.

Inclusive na cúpula do poder dos Estados Unidos, certas tendências cruciais estavam minando a saúde futura da sociedade norte-americana. Uma derrota humilhante no Vietnã, uma extenuante guerra no Iraque, uma classe política cada vez mais dependente dos cofres das grandes corporações, o desmoronamento dos setores da educação, saúde e de infraestruturas públicas, uma economia imersa na dívida e dominada por perigosas especulações financeiras à custa da atividade produtiva, e muitas coisas mais enfraqueceram as fontes essenciais da fortaleza nacional.

Agora, na medida em que os norte-americanos contemplam as ruínas de seus sonhos, suas respostas são marcadamente diversas e até contraditórias. O colapso financeiro de 2008/2009 deixou a maioria sem ânimo e despojada de boa parte do que tinham antes. Alguns se inclinam a simplificar suas vidas e muitos estão dispostos, inclusive, a aceitar uma mudança que inclua o retorno aos simples ritmos de outros tempos e a saborear os prazeres íntimos da família, dos amigos e da natureza em lugar de entrar em uma louca corrida para o consumismo.

Os ricos, apesar do desafio ético que devem enfrentar, não puseram fim aos seus desperdícios, mas o escândalo público causado pelas gratificações recordes concedidas aos bancos resgatados com o dinheiro dos contribuintes os coloca diante de um delicado problema de relações públicas, obrigando-os a calar seus impulsos de alardear sua riqueza por medo de provocar a ira pública e gerar a aprovação de medidas de regulamentação de suas atividades.

O colapso financeiro ocorreu bem a tempo de deixar uma bomba relógio para Barack Obama. Documentos divulgados recentemente revelam que o desastre já estava em curso durante os últimos dias do governo de George W. Bush e que tudo estava pronto para dar aos bancos e às firmas de investimento norte-americanas um cheque em branco para cobrir seus desmandos e saírem da situação não apenas ilesos, como também com um papel ainda mais dominante na economia do país. Foi passado ao governo Obama um cálice com veneno e o obrigaram a bebê-lo.

E Obama agravou a situação com notórios erros próprios que deixaram seus partidários profundamente desanimados. Em lugar de defender os norte-americanos comuns dos estragos de um desavergonhado setor financeiro, passou o timão aos banqueiros. Por sua vez, os amargos republicanos destes dias alimentam de cólera e ressentimento os remanescentes da cultura “rebelde”, dos que foram os confederados sulinos, para os quais a Guerra Civil ainda continua hoje em dia. Eles praticam a estratégia de terra arrasada para negar a Obama, e ao país, todo recurso essencial para o sucesso.

O resultado disso é que quase um ano depois de uma maré de esperança progressista, o “momento liberal” já está desaparecendo. Em seu lugar emerge um populismo muito mais ameaçador que explora habilmente os temores dos que foram deixados para trás pela nova economia e atiça medos e ódios com venenosas afirmações lançadas por incendiários apresentadores de programas de televisão.

Esse populismo retrógrado se orgulha de sua própria ignorância. Durante as últimas décadas, os republicanos encontraram uma fórmula ganhadora ao apresentar candidatos presidenciais manifestamente sem a classificação necessária para o cargo, como maneira de atrair um apoio significativo da população que não se sente cômoda quando quem os dirige sabe mais do que eles. Como Sarah Palin, a encarnação e a quintessência da “esperteza” e da ignorância carismáticas, que disse, com uma linguagem cuidadosamente cifrada, sobre o de pele morena e educado em Harvard Barack Obama: “Ele não é um dos nossos”.

O populismo de extrema direita é alimentado por fantasias sobre conspirações e o mau-humorado desdém pelos fatos e pelo debate bem argumentado. Como um vírus político letal, habitualmente irrompe durante os períodos de dificuldades econômicas e de transtornos sociais.

Tudo isso soa familiar, com evocadores ecos da ascensão do fascismo na Europa duas gerações atrás. A acelerada decadência do poder dos Estados Unidos, depois de décadas de práticas equivocadas e mau governo, coloca a questão de como seus cidadãos verão o fato de seu país não ser mais o Número Um no mundo. Os opostos populismos de direita e de esquerda proporcionam respostas radicalmente diferentes. Na esquerda está emergindo em movimentos pós-políticos um novo localismo que busca a autossuficiência, a simplicidade e um renovado espírito de comunidade interdependente. Muitos desejam que seu país seja liberado das cargas do império, bem como seja dada ênfase na reconstrução de um “sonho americano” mais equitativo e sustentável.

Enfrentando as mesmas inquietantes tendências, o retropopulismo compartilha o impulso de retornar à família e à comunidade. Por outro lado, expressa em seu aborrecido rechaço aos imigrantes, às minorias e às elites culturais, por considerar que minam os valores tradicionais norte-americanos. E, com toda energia, rejeita a perspectiva de um futuro em que os Estados Unidos não sejam vistos como “a maior nação da Terra”.

Os progressistas há tempos estão advertindo para o perigo de um fascismo norte-americano. Porém, a natureza de autoequilíbrio de seu governo e o lastro de sua sociedade de classe média sempre evitaram que o país caísse em seus piores excessos. Contudo, agora, a decadência de seu status de superpotência, sua maciça insegurança econômica, sua orquestrada cólera e seu pobremente informado e instruído público poderiam se combinar com os efeitos amplificadores das mídias partidárias para transtornar a história norte-americana. IPS/Envolverde

(*) Mark Sommer é jornalista e colunista norte-americano, dirige o programa de rádio internacional A World of Possibilities. (www.aworldofpossibilities.com).
(IPS/Envolverde)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Urgente - Crise em Copenhague

Com apenas três dias para terminar, a Conferência de Copenhague está falhando.

Amanhã, os líderes globais irão chegar para um encontro inédito de 60 horas diretas de negociações. Os especialistas concordam que sem a pressão da opinião pública global por um acordo forte, o encontro não conseguirá impedir o aquecimento global catastrófico de 2 graus.

Clique abaixo para assinar a petição por um Acordo pra Valer - a campanha já conta com um número surpreendente de 11 milhões de apoiadores - vamos transformá-la na maior petição da história nas próximas 72 horas! Os nomes serão lidos diretamente na Conferência de Copenhague - assine no link abaixo e envie este alerta para todos os seus contatos!

http://www.avaaz.org/po/save_copenhagen

A equipe da Avaaz está se reunindo diariamente com os negociadores em Copenhague e iremos providenciar uma entrega espetacular da petição aos líderes a medida que eles forem chegando. Os nomes serão colocados em um muro gigante de caixas e serão lidos um a um. Com a maior petição da história, os chefes de estado não terão dúvida de que o mundo inteiro está atento ao que está acontecendo.

Milhões de pessoas assistiram pela televisão a vigília da Avaaz dentro do encontro, onde o Arcebispo Desmond Tutu disse a centenas de delegados e crianças reunidas:
"Marchamos em Berlim e o muro caiu.
"Marchamos pela África do Sul e o apartheid caiu.
"Marchamos em Copenhague - e vamos conseguir um Acordo pra Valer."
Copenhague busca o maior mandato da história para deter a maior ameaça que a humanidade já enfrentou. A história será escrita nos próximos dias. Como nossos filhos vão se lembrar deste momento? Vamos lhes dizer que fizemos tudo o que podíamos .
http://www.avaaz.org/po/save_copenhagen

Com esperança,

Ricken, Alice, Ben, Paul, Luis, Iain, Veronique, Graziela, Pascal, Paula, Benjamin, Raj, Raluca, Taren, David, Josh e toda a equipe Avaaz.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ongs divulgam nota contra decreto que anistia desmatadores

Organizações da sociedade civil divulgam nota em repúdio ao Decreto nº 7.029, de 10 de dezembro de 2009, que institui o Programa Federal de Apoio à Regularização Ambiental de Imóveis Rurais, denominado "Programa Mais Ambiente". A adesão ao programa suspende a cobrança das multas aplicadas em decorrência de infrações ambientais, além de estender por mais três anos o prazo para regularização de Reservas Legais.

Programa “Mais Ambiente” enfraquece lei florestal brasileira

Ao mesmo tempo em que negocia com muita classe um acordo para uma redução significativa da emissão de gases de efeito estufa em Copenhague, o governo federal brasileiro publica em casa um decreto suspendendo a legislação que pune o desmatamento ilegal ocorrido até 10 de dezembro de 2009.

A suspensão das multas por 3 anos só seria admissível se viesse acompanhada de medidas concretas de implementação do Código Florestal Brasileiro, ou seja, se fosse compreendido como um período de transição para que os produtores rurais se adequassem a uma realidade em que o descumprimento da lei não é mais tolerado. O decreto, no entanto, apesar de dizer que apoiará a regularização ambiental das propriedades rurais, não traz nenhuma medida concreta, recursos ou estrutura administrativa para tirar do papel o programa, ironicamente chamado de “Mais Ambiente”. Algumas das medidas que poderiam efetivamente facilitar a aplicação da lei estão prontas, mas não foram publicadas.

Paralelamente, o governo, cedendo à pressão ruralista, está prestes a enviar ao Congresso Nacional uma proposta que opera mudanças profundas na legislação florestal, enfraquecendo seus principais instrumentos. Esse conjunto de medidas será compreendido não como um estímulo à regularização, mas como mera anistia ao desmatamento e estímulo à derrubada da lei e da floresta! Beneficiar quem desmatou até 2009 é estimular novos desmatamentos, pois ninguém se regulariza com base numa legislação que o próprio governo diz que vai mudar!

O governo brasileiro está cedendo à chantagem de setores atrasados do agronegócio, que têm como objetivo declarado descaracterizar o Código Florestal e enfraquecer a proteção que ele representa aos biomas brasileiros. O agronegócio retrógrado está se organizando para votar essas mudanças nesta semana, quando a maioria dos deputados preocupados com o bem estar do planeta estiver em Copenhague. O próprio presidente Lula já anunciou que, depois da COP15, vai propor um projeto de Lei flexibilizando ainda mais o Código Florestal. A meta de redução de emissões está ameaçada com o enfraquecimento do Código Florestal Brasileiro e pode se tornar mais uma promessa não cumprida.

Menos conversa e mais ação!

Mais ambiente para o Brasil e para o Planeta com medidas concretas!

Assinam:

Amigos da Terra – Amazônia Brasileira

Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente – APEDEMA/RJ

Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida - APREMAVI

Associação Alternativa Terrazul

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - FBOMS

Fundação SOS Mata Atlântica

Grupo Ambientalista da Bahia - GAMBA

Instituto Centro de Vida - ICV

Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon

Instituto de Estudos Socioeconômicos - INESC

Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB

Instituto Socioambiental – ISA

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM

Programa da Terra - PROTER

Rede Brasileira de Ecossocialistas

Rede Grupo de Trabalho Amazônico - GTA

Rede Mata Atlântica - RMA

Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz

(Envolverde/ISA)

URGENTE! Bancada motoserra manobra para flexibilizar o Código Florestal

Ligue para o presidente do DEM, Rodrigo Maia, e peça a ele para não deixar seu partido colocar em votação o projeto de lei 6424, o Floresta Zero, apresentado pelo deputado Marcos Montes (DEM-MG)

O deputado Marcos Montes (DEM-MG), membro da bancada da motosserra na Câmara, manobra para por em votação na Comissão de Meio Ambiente na quarta-feira (15/12) o projeto de lei 6424, apelidado de Floresta Zero, que flexibiliza o Código Florestal e contribui para aumentar o desmatamento no país.

Mas ainda é tempo de fazer algo para impedir esse desastre. Ligue para o deputado Rodrigo Maia, que é presidente do partido do Marcos Montes e se diz contrário ao desmatamento, e diga a ele para não deixar seu partido colocar o PL 6424 em votação.

Os números são:


(61) 3215-5308 - Gabinete do deputado na Câmara
(61) 3311-4305 - Diretório Nacional do Democratas - Presidência
(21) 3269-7260 - Escritório político do deputado Rodrigo Maia

Mande também um e-mail para o deputado: dep.rodrigomaia@camara.gov.br ou democratas25@democratas.org.br ou um tweet para @deprodrigomaia

O que diz o projeto de lei – O texto redigido por Marcos Montes anistia os desmatadores de todos os crimes ambientais até 2001. Ou seja, revoga a legislação florestal, livrando os desmatadores das multas e das obrigações legais de recuperação, compensação ou regeneração das áreas desmatadas.

O projeto de lei também quer reduzir a Amazônia Legal em 1 milhão de quilômetros quadrados. Hoje ela corresponde a 5,2 milhões de quilômetros quadrados. Se o projeto de lei for aprovado, essa área cai para 4,1 milhões de quilômetros quadrados. O que implica dizer que os proprietários que hoje têm de manter uma reserva legal em 35%, com a manobra terão de manter apenas 20%.

Só com essa cartada uma área equivalente a 150 mil quilômetros quadrados – mais de 3 vezes a área do Estado do Rio de Janeiro - fica liberada para desmatamento. O PL prevê também a redução da área de reserva legal na Amazônia de 80% para 50% e libera a plantação de exótica na metade da área a ser recuperada.

“Esse projeto de lei mostra a verdadeira intenção dos setores mais atrasados da bancada ruralista: acabar com as florestas”, diz Márcio Astrini, da campanha de Amazônia do Greenpeace.

Lição de casa – Como o decreto assinado pelo presidente Lula na semana passada, prorrogando em mais dois anos o prazo para os proprietários rurais declararem suas reservas legais e anistia as multas de quem desmatou, o PL 6424 vai na contra-mão do que está sendo discutido na Convenção do Clima, em Copenhague.

“Enquanto o mundo discute o futuro do planeta, a bancada da motosserra mostra que não tem nenhum compromisso com o país nem com as próximas gerações”, afirma Astrini.
Campanha do Greenpeace.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O bom, inimigo do ótimo


Por Neuza Árbocz, para a Envolverde
Tony Blair e Grupo Climático defendem um acordo já, mesmo que com metas menores.

O Times divulgou hoje que negociadores dos países desenvolvidos podem querer usar um trecho do rascunho de acordo proposto (veja tradução em http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=67355&edt=1) para evitar um compromisso imediato mais significativo de redução de emissões. Isto desagradaria os países em desenvolvimento e travaria a possibilidade de um acordo em Copenhague.

O artigo 7 do rascunho propõe revisões periódicas das metas acordadas e o artigo 8 propõe uma primeira revisão geral em 2016.

O IPCC recomenda que os países desenvolvidos abracem metas de reduzir de 25 a 40 por cento suas emissões, em relação aos índices de 1990. Contudo, o Times acredita que os países desenvolvidos só aceitarão um índice menor, em torno de 18%. O que na visão de algumas análises é insuficiente para evitar catástrofes climáticas.

Baseia a análise do Times, declarações do ex-primeiro ministro inglês, Tony Blair, durante o lançamento de um relatório escrito por seu escritório em conjunto com o Grupo Climático - http://www.theclimategroup.org, uma entidade que reúne empresas, ONGs e cientistas de vários países. Na ocasião, Blair disse: "não vamos deixar o ótimo ser inimigo do bom" ao defender que um corte de 18% das emissões até 2020, já provocaria uma mudança muito grande na forma em que a economia trabalha. "Vamos fazer o acordo, colocar ele em prática e aprender no caminho", defendeu Blair.

Ele também alertou para a urgência de se ter regras na mesa. Desta forma, o setor privado ganha as diretrizes para saber como agir.

Veja o artigo do Times: http://www.timesonline.co.uk/tol/news/environment/copenhagen/article6955237.ece.
e o relato da coletiva no site do Grupo Climático: http://www.theclimategroup.org/our-news/news/2009/12/13/breaking-the-climate-deadlock-interview-with-tony-blair/

Material produzido e editado pela Envolverde/Mercado Ético/Carbono Brasil/Rebia/Campanha Tic-Tac/EcoAgência, e distribuído para reprodução livre com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável.

(Agência Envolverde)

Contragolpe no ecossistema, artigo de Thomas Lovejoy

"Para todo lado que se olhe, a natureza vem apresentando reações de ruptura jamais observadas pela ciência"

Thomas Lovejoy ocupa a cadeira de Biodiversidade no Heinz Center e chefia o Painel de Consultoria Científica e Técnica da Global Environment Facility. Artigo publicado em "O Estado de SP":

Dirigentes nacionais e outros líderes reúnem-se em Copenhague para as negociações sobre mudanças climáticas, confrontando um quadro que parece uma nuvem mistificadora de siglas, números e dados. Mas, por importantes que estes possam ser para esboçar um plano de ação, obscurecem o fato de que o planeta funciona ao mesmo tempo como um sistema biológico e um sistema físico.

Esse sistema biofísico (a biosfera e a atmosfera juntas) é a chave para se compreender a urgência das mudanças climáticas e se delinear uma resposta realmente significativa.

Para todo lado que se olhe, no planeta, a natureza está em movimento de uma maneira jamais vista pelas ciências naturais. Espécies estão sofrendo mudanças no ritmo de seus ciclos vitais e algumas já se mudam dos lugares onde existiam. Estamos começando a ver um desacoplamento de vínculos rígidos na natureza em que um elemento é norteado pelo comprimento do dia e outro pela temperatura.

Com a chegada antecipada da primavera, por exemplo, as lebres de pata branca já não ficam camufladas por suas peles de inverno branco-brilhantes porque estão em paisagens sem neve, tornando-se totalmente visíveis para predadores.

Com consequências ainda maiores, começou a ocorrer o colapso de ecossistemas. Cinco por cento da humanidade depende de recifes de coral tropicais e vive a uma distância de cem metros deles. Um aumento da temperatura provoca a ruptura da parceria básica entre corais e algas no recife. Com as variações de temperatura, o coral ejeta a alga e o ecossistema sofre "branqueamento". De vivamente colorido, o recife, com o colapso da diversidade e da produtividade de seus componentes, passa a branco e preto.

Uma quebra semelhante de ecossistema está ocorrendo nas florestas de coníferas da América do Norte, na medida em que invernos mais brandos e verões mais longos inclinam a balança a favor dos besouros de casca nativos. Nos Estados Unidos, as projeções indicam que aproximadamente 9 milhões de hectares serão afetados. Administrar florestas e incêndios torna-se um enorme problema. É difícil projetar qual será o futuro dessas florestas.

As implicações para ecossistemas agrícolas são igualmente preocupantes. A Austrália teve que abandonar o arroz como uma importante cultura de exportação por causa da seca persistente (uma primeira manifestação das mudanças climáticas). O encolhimento de geleiras e o derretimento glacial põem em risco a produtividade agrícola em muitas partes do mundo. Lester Brown, fundador do Earth Policy Institute, projeta uma dificuldade considerável para manter a prática e a produção agrícolas correntes em face da elevação das temperaturas globais.

Por vasta que possa ser, a Amazônia parece perigosamente perto de uma situação limite. Há algum tempo, um dieback (morte gradual de uma planta, de cima para baixo, provocada por doenças e condições climáticas) da floresta no sul e sudeste da Amazônia vem sendo projetado por um dos modelos climáticos - primeiro com um aumento da temperatura global de 2,5°C, mais recentemente, com 2°C. Estudos recentes que incluem os efeitos do desflorestamento e do fogo, bem como de mudanças climáticas, preveem que o início do dieback está perigosamente próximo - a alguns anos, apenas.

Se isso ocorrer, a perda de biodiversidade, o carbono acrescentado à atmosfera e o impacto sobre moradores da região seriam terríveis. A boa notícia é que um reflorestamento agressivo poderia aumentar a margem de segurança e reduzir a iminência da situação limite.
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Clima quente, artigo de Marcelo Leite

"Desde 1992, quando aconteceu no Rio o encontro do clima, é no dinheiro que as tratativas tropeçam"

Marcelo Leite é jornalista. Artigo publicado na "Folha de SP":

A primeira semana da conferência sobre mudança do clima em Copenhague (COP-15) termina em atmosfera funesta. São muitos os sinais de que pode caminhar para um impasse, até sexta-feira. O jogo está pesado na capital dinamarquesa.

Questões espinhosas, como financiamento e protecionismo, se somam ao já complicado problema da repartição no inadiável corte nas emissões mundiais de gases do efeito estufa. À margem de Copenhague, a ciência do clima virou caso de polícia.

Todd Stern, chefe da delegação americana, chegou pisando duro ao Bella Center, onde se reúnem as 15 mil pessoas atraídas pela conferência. É um veterano da negociação do Protocolo de Kyoto (1997), depois denunciado por seu país. Ele foi aplaudido de pé em abril, em Bonn, ao anunciar numa reunião preparatória da COP-15: "Estamos de volta". Segundo o jornal "Valor Econômico", Stern já declarou saber que a cena não se repetirá em Copenhague.

Stern tem a missão ingrata de salvar a cara de Obama enquanto este se encontra de mãos atadas pelo Congresso americano, que adiou para 2010 decisão sobre cortes nas emissões dos EUA. A oposição republicana e a parte da bancada democrata comprometida com a economia dos combustíveis fósseis ainda podem complicar sua vida.

EUA e União Europeia parecem por ora unidos em acuar grandes países emergentes, China à frente. Pressionam para que estes assumam compromissos mais ambiciosos de cortes nas emissões, até agora aquém do que o planeta precisa (como os 4% sobre 1990 dos EUA, de resto). Ameaçam taxar produtos importados com base nas emissões, apelando para o protecionismo verde. E ainda excluem dar dinheiro à China para financiar o crescimento limpo de sua economia.

Desde 1992, quando se negociou no Rio a Conferência da ONU sobre Mudança do Clima, é no dinheiro que as tratativas tropeçam. Até o momento, os governos das nações desenvolvidas só falam em ajuda de curto prazo, da ordem de US$ 10 bilhões por ano. E apenas para ajudar países bem mais pobres que China ou Brasil na preparação para o aquecimento global. A surpresa da semana veio do setor privado.

O magnata George Soros propôs criar um fundo de US$ 100 bilhões com recursos do FMI para combater a mudança do clima nos países em desenvolvimento. Pode não dar em nada, mas sinaliza que empresários de peso começam a fazer pressão sobre governos para que ajam e cedam, em lugar de empurrar com a barriga.

A dificuldade maior é que, na hora em que o aquecimento global entra no radar dos negócios e pesa nos bolsos, a questão também é capturada pela polarização ideológica. Os "céticos" (negacionistas do aquecimento causado pelo homem) lançaram uma ofensiva desesperada em sua guerra santa contra o IPCC com o furto dos e-mails de pesquisadores que, alegam, provariam falsificação de dados.

O IPCC e várias autoridades científicas defendem os cientistas que tiveram o sigilo quebrado. Defendem também a integridade do corpo de estudos experimentais que dá apoio a seu Quarto Relatório de Avaliação (AR4), de 2007.

No outro extremo, o deputado republicano James Sensenbrenner (Wisconsin) está exigindo do IPCC banir de seu próximo relatório todos os cientistas cujos nomes apareçam nos e-mails vazados. Um deles, Tom Wigley, recebeu por e-mail ameaças de morte, que estão em investigação pelo FBI. Em Copenhague, a Arábia Saudita tentou usar o "Climagate" para desacreditar conclusões do IPCC. É nesse clima que começa a COP-15.
(Folha de SP, 13/12)
JCiência

COP-15 - Marina Silva atrai as atenções em Copenhague

Por Reinaldo Canto*, direto de Copenhague para a Envolverde

Logo ao chegar a Copenhague, neste domingo (13/12), Marina Silva já tinha compromisso definido. Ela foi uma das principais estrelas do evento organizado pelo movimento Forum Global dos Partidos Verdes, ao lado do polêmico ativista francês José Bové, hoje deputado do parlamento europeu. Como o local da conferência do clima, o pavilhão Bella Center esteve praticamente fechado no domingo, os “verdes” reuniram-se no espaço do Klimaforum, no centro de Copenhague.

Mesmo falando em português, com apenas uma parte da platéia dos partidos verdes utilizando aparelhos de tradução simultânea, a ex-ministra do meio ambiente brasileira, empolgou a platéia e foi bastante ovacionada.

Veja abaixo algumas das suas principais declarações durante a sua apresentação e na rápida entrevista concedida ainda no interior do Klimaforum.
Metas brasileiras

“A proposta brasileira foi estabelecida a partir da grande pressão da sociedade. Nós trabalhamos muito para que o Brasil não deixasse de ter metas. Temos que adotar compromissos efetivos de redução e isso não de forma genérica ou voluntária”.

Código florestal

“Não podemos permitir que o Código Florestal Brasileiro seja alterado, seja mudado, da maneira como estão tentando fazer no Congresso Nacional. Esse seria um retrocesso inaceitável”.

Modelo de desenvolvimento

“É necessário abandonar esse modelo predatório. Não se pode pensar em crescimento com melhorias na educação, na saúde, no emprego, apenas baseado no uso dos combustíveis fósseis. É preciso pensar e trabalhar por um outro modelo de desenvolvimento”.

Compromisso dos líderes em copenhague

“Os líderes não podem pensar nos interesses políticos e econômicos atuais, sem se comprometer com o futuro. Eles precisam ter a visão de que a humanidade precisa mudar o modo de caminhar, assumindo os desafios do século XXI e sendo capazes de adotar um compromisso de um outro mundo possível”.
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sábado, 12 de dezembro de 2009

No Brasil será mais quente


Gustavo Faleiros

Tabela do relatório "Alterações climática no Brasil" que mostra os aumentos de temperatura na esquerda e redução das chuvas à dir.

O Centro Hadley de Meteorologia do Reino Unido, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) lançou nesta sexta-feira em Copenhague, durante a 15a Conferência do Clima sobre Mudanças Climáticas, novos dados sobre os impactos do aquecimento global em território brasileiro. De acordo com modelo construído com os dados das duas instituições, o aquecimento no Brasil poderá ser 20% maior que a média mundial durante o século XXI. Isso significa, por exemplo, que se o planeta tiver uma alta de 1,8oC na temperatura, a resposta no Brasil será 2oC. Pode parecer pouco, mas basta lembrar que o mundo já se aqueceu 0,7oC nos últimos 50 anos.

A conclusão é assustadora e reforça as previsões de que o país está no mapa das nações vulneráveis à mudança do clima. Um simples aumento de 2oC nos termomêtros afetaria fortemente o regime de chuvas nas principais Bacias Hidrográficas do país. No mesmo relatório - “Alterações climáticas no Brasil: o futuro” - os pesquisadores britânicos e brasileiros mostram que as chuvas seriam reduzidas em 15% na Bacia do São Francisco e 12% na Bacia Amazônica. Por outro lado, haveria um aumento de 2% nas chuvas na Bacia do Prata.

Na imagem ao lado, as projeções mostram um quadro ainda mais dramático, com aumentos de temperatira que podem chegar até 6,6oC, algo que está dentro da gama de possibilidades já levantada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Neste caso a diminuição de chuvas na Amazônia e na calha do São Francisco pode ser de 40% e 47%, respectivamente.

Os impactos destas mudanças devem ser observados, por exemplo, no setor de geração de energia, onde 70% do suprimento são obtidos com hidrelétricas. Mais do que isso, o estudo abre uma grande dúvida sobre o futuro do rio São Francisco. Foi ali que os cientistas previram a maior queda nas chuvas. O rio já está debilidado e parte de suas águas serão retiradas no projeto de transposição.

Richard Betts, pesquisador do Centro Hadley que coordenou o estudo em parceria com Carlos Nobre e José Marengo do INPE, afirma que os resultados mostram um quadro preocupante para o Brasil. “Nosso papel é melhorar o entendimento destas relações”.

Ele reforçou o papel do combate ao desmatamento para garantir mais resistência do Brasil às mudanças do clima. "A cobertura de vegetação tem um papel muito importante no clima. As florestas fazem uma espécie de reciclagem da chuva, devolvendo a a umidade na atmosfera. É a evaporação das árvores, que reforça a cobertura de nuvens e provoca mais chuvas. Se a floresta é desmatada, também vai diminuir o volume de chuvas. A remoção das florestas pode afetar regiões muito grandes", ponderou.
O ECO