quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ImPACto na vida indígena


Aldem Bourscheit

O carro-chefe das metas brasileiras para corte de emissões de gases-estufa é a contenção do desmatamento na Amazônia, que, por uma série de fatores, caiu de aproximadamente treze mil para sete mil quilômetros quadrados em um ano. No entanto, grandes projetos de infraestrutura em curso ou planejados para as próximas duas décadas ameaçam terras indígenas e aumentam os impactos sobre a floresta tropical, podendo comprometer os esforços nacionais para cortar a poluição que aquece o planeta.

É o que mostra um atlas lançado hoje, em Brasília, pelos especialistas do Instituto Socioambiental (ISA) Alberto Carneiro e Oswaldo de Souza. Depois de passar mais de quatro meses debruçados sobre dados públicos oficiais dos setores de energia, mineração, transportes, agropecuária, desmatamento, saneamento, petróleo, gás e urbanização, apontam que bacias hidrográficas e populações indígenas terão um futuro conturbado, principalmente ao sul do rio Amazonas.

“Boa parte do esforço brasileiro para redução de emissões depende da saúde da Amazônia, onde as pressões vão para muito além do desmatamento e não estão contabilizadas no plano de metas que o país lançou e apresentará em Copenhague”, ressaltou Carneiro. Usinas hidrelétricas, especialmente em regiões de grande biomassa como a Amazônia, são fontes permanentes de metano. O gás, além de provocar aquecimento do planeta, afeta a Camada de Ozônio.

Na Amazônia operam hoje 83 hidrelétricas, mas há planos para mais 247 barragens, até 2030. Nada menos que 44% do potencial hidrelétrico inventariado para a região pode afetar terras indígenas. Além disso, cálculos dos autores da publicação, sobre apenas 27 projetos, mostram que eles podem afetar diretamente 44 mil pessoas. Conforme o ISA, a Amazônia ainda abriga trezentos mil nativos de 173 povos em 405 terras indígenas, somando cerca de um quinto do território amazônico.
“Os impactos começam antes mesmo das obras, com desmatamento e migrações de populações em busca de desenvolvimento. Tudo isso é reflexo de um Estado que planeja e pensa mal sobre a implantação de infraestrutura na Amazônia”, disse Carneiro. “E tudo isso é ainda mais preocupante para populações ‘rio-dependentes’, como as indígenas, cuja vida está vinculada à pesca, à navegação, à qualidade das águas”, comentou.

As bacias mais visadas pelos projetos hidrelétricos são as dos rios Xingu, Madeira, Tapajós e Caciporé (AP). Também se ressalta uma mudança no perfil da geração energética. Não se alteram os projetos hidrelétricos, apontados pelo governo como fornecedores de “energia limpa”, apesar de seus impactos socioambientais, mas sim sua dimensão. A maioria das barragens planejadas para a Amazônia é de porte reduzido, as chamadas pequenas centrais hidrelétricas (pchs).
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