segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

COP-15 - Indígenas: “Somos um exemplo do que virá”


Por Setephen Leahy, da IPS

Copenhague, 07/12/2009 – Representantes de diferentes povos indígenas mostrarão aos participantes da Conferencia das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que começa hoje em Copenhague, os vídeos documentários que fizeram sobre o impacto imediato do fenômeno em seus territórios e em seu estilo de vida. “Queremos mostrar às autoridades o que uma seca de três anos faz às comunidades de meu país”, disse Stanley Selian Konini, um maasai residente em Oltepesi, no distrito de Kajiado, na província queniana de Rift –Valley.

“Todos nossos animais estão mortos. Até às zebras e os macacos das florestas morreram”, disse Konini à IPS. “Os dirigentes devem mudar suas políticas para nos ajudar”, acrescentou. O vídeo do Quênia mostra como a forte seca acaba com o gado, que é o principal, e às vezes o único, meio de sustento da comunidade massai. A mudança climática “afeta nossa cultura. Não podemos assumir o pagamento do dote porque não temos animais”, explicou Konini, um dos jovens realizadores do vídeo. “Os mais velhos dizem que nunca viram uma seca assim. É algo que foge à compreensão e à experiência do povo maasai”, ressaltou.

O documentário de Konini faz parte da série de vídeos “Conversações com a Terra”, realizados por comunidades indígenas de quatro continentes, com provas e testemunhos dos problemas causados em suas vidas pela mudança climática. A série é uma colaboração entre a organização Land Is Life (A terra é vida), de defesa dos povos indígenas com sede em Boston, o grupo de capacitação em vídeo comunitário InsightShare, da Grã-Bretanha, que forneceu os equipamentos e o treinamento em colaboração com o fotógrafo francês Nicolas Villaume.

Os vídeos comunitários integram uma exposição audiovisual sobre a temática indígena que acontecerá amanhã (08/12), no Museu Nacional de Copenhague, dentro da 15ª Conferencia das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que terminará o próximo dia 18. Os delegados e representantes de governo e de diferentes organizações procurarão delinear um tratado para a redução das emissões de gases que causam o efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, que dê continuidade ao Protocolo de Kyoto, que vence em 2012. Este instrumento, assinado em 1997 e em vigor desde 2005 obriga os 37 paises industriais que o ratificaram a reduzir suas emissões, ate 2012, em 5,2% com relação ao nível de 1990.

Também serão mostrados documentários preparados pela Universidade das Nações Unidas, com sede em Tóquio. “Os filmes mostram a íntima relação que existe entre os povos indígenas e o planeta e sua humildade”, disse à IPS Nick Lunch, diretor de InsightShare. “Eles se culpam por não manterem suas tradições”, destacou o fotógrafo que treinou e equipou os indígenas para que pudessem fazer os vídeos para mostrá-los na capital dinamarquesa e em suas comunidades. Com a mostra esperam abrir os olhos e os corações dos negociadores. “Faltam mais metas para reduzir as emissões, uma mudança interna, um despertar para o que realmente é importante na vida e nos darmos conta de que precisamos da natureza e devemos respeitá-la”, afirmou Lunch.

Essa falta de respeito provocou os deslizamentos de terra que mataram dezenas de indígenas e arrasaram com as casas de milhares de pessoas nas Filipinas, afirmou Keidy Magtoto Transfiguração, uma igorrote da cordilheira do norte da ilha de Luzón. A mudança climática aumentou a quantidade e a força das “super tempestades” que açoitaram as Filipinas nos últimos anos, explicou Transfiguração. Seu vídeo mostra como as operações de mineração em grande escala desviaram rios, destruíram o meio ambiente local e são a causa dos deslizamentos, assegurou. “A terra já não pode absorver as chuvas fortes”, explicou.

Ao contrário da seca que afeta os maasai, onde Transfiguração reside as chuvas são excessivas. “Chove o dobro. Só podemos plantar uma vez por ano, em lugar de duas ou três. Não podemos produzir alimento suficiente”, lamentou. “A incidência dos povos indígenas na mudança climática é mínima. E, entretanto, são os mais afetados pelos efeitos diretos e imediatos do aumento do aquecimento global”, disse Patricia Cochran, a líder inupiat que preside a Cúpula Global sobre Mudança Climática de Povos Indígenas.

A série de vídeos “Conversações com a Terra” permitirá aos indígenas “mostrarem relatos catastróficos de primeira mão sobre sua experiência com a mudança climática”, insistiu Cochran. “Somos um pressagio do que virá, do que o resto do mundo pode esperar. “Porém, os indígenas não têm nenhum papel oficial nas negociações, não têm um lugar à mesa, o que mostra a injustiça climática”, acrescentou.

“As comunidades indígenas e tradicionais dependem de sua relação com um ecossistema saudável e possuem um rico conhecimento, sabedoria e experiência prática para adaptarem-se às mudanças ambientais no longo prazo”, explicou o diretor Brian Keane, da Land Is Life. “Os ricos e os poderosos não podem nos tirar isto. Esta é nossa oportunidade de trabalharmos juntos. Temos muito que aprender com os diferentes estilos de vida dos indígenas com poucas emissões de dióxido de carbono”, afirmou Lunch, ressaltando que “temos de começar a aprender rápido”. Envolverde/IPS

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