segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Contragolpe no ecossistema, artigo de Thomas Lovejoy

"Para todo lado que se olhe, a natureza vem apresentando reações de ruptura jamais observadas pela ciência"

Thomas Lovejoy ocupa a cadeira de Biodiversidade no Heinz Center e chefia o Painel de Consultoria Científica e Técnica da Global Environment Facility. Artigo publicado em "O Estado de SP":

Dirigentes nacionais e outros líderes reúnem-se em Copenhague para as negociações sobre mudanças climáticas, confrontando um quadro que parece uma nuvem mistificadora de siglas, números e dados. Mas, por importantes que estes possam ser para esboçar um plano de ação, obscurecem o fato de que o planeta funciona ao mesmo tempo como um sistema biológico e um sistema físico.

Esse sistema biofísico (a biosfera e a atmosfera juntas) é a chave para se compreender a urgência das mudanças climáticas e se delinear uma resposta realmente significativa.

Para todo lado que se olhe, no planeta, a natureza está em movimento de uma maneira jamais vista pelas ciências naturais. Espécies estão sofrendo mudanças no ritmo de seus ciclos vitais e algumas já se mudam dos lugares onde existiam. Estamos começando a ver um desacoplamento de vínculos rígidos na natureza em que um elemento é norteado pelo comprimento do dia e outro pela temperatura.

Com a chegada antecipada da primavera, por exemplo, as lebres de pata branca já não ficam camufladas por suas peles de inverno branco-brilhantes porque estão em paisagens sem neve, tornando-se totalmente visíveis para predadores.

Com consequências ainda maiores, começou a ocorrer o colapso de ecossistemas. Cinco por cento da humanidade depende de recifes de coral tropicais e vive a uma distância de cem metros deles. Um aumento da temperatura provoca a ruptura da parceria básica entre corais e algas no recife. Com as variações de temperatura, o coral ejeta a alga e o ecossistema sofre "branqueamento". De vivamente colorido, o recife, com o colapso da diversidade e da produtividade de seus componentes, passa a branco e preto.

Uma quebra semelhante de ecossistema está ocorrendo nas florestas de coníferas da América do Norte, na medida em que invernos mais brandos e verões mais longos inclinam a balança a favor dos besouros de casca nativos. Nos Estados Unidos, as projeções indicam que aproximadamente 9 milhões de hectares serão afetados. Administrar florestas e incêndios torna-se um enorme problema. É difícil projetar qual será o futuro dessas florestas.

As implicações para ecossistemas agrícolas são igualmente preocupantes. A Austrália teve que abandonar o arroz como uma importante cultura de exportação por causa da seca persistente (uma primeira manifestação das mudanças climáticas). O encolhimento de geleiras e o derretimento glacial põem em risco a produtividade agrícola em muitas partes do mundo. Lester Brown, fundador do Earth Policy Institute, projeta uma dificuldade considerável para manter a prática e a produção agrícolas correntes em face da elevação das temperaturas globais.

Por vasta que possa ser, a Amazônia parece perigosamente perto de uma situação limite. Há algum tempo, um dieback (morte gradual de uma planta, de cima para baixo, provocada por doenças e condições climáticas) da floresta no sul e sudeste da Amazônia vem sendo projetado por um dos modelos climáticos - primeiro com um aumento da temperatura global de 2,5°C, mais recentemente, com 2°C. Estudos recentes que incluem os efeitos do desflorestamento e do fogo, bem como de mudanças climáticas, preveem que o início do dieback está perigosamente próximo - a alguns anos, apenas.

Se isso ocorrer, a perda de biodiversidade, o carbono acrescentado à atmosfera e o impacto sobre moradores da região seriam terríveis. A boa notícia é que um reflorestamento agressivo poderia aumentar a margem de segurança e reduzir a iminência da situação limite.
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