quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Relatório mostra que Brasil lucra se combater desmatamento

Relatório mostra que Brasil lucra se combater desmatamento


Catarina Alencastro escreve para "O Globo"


Um relatório do Ministério da Fazenda estima que o Brasil tem muito a perder com as mudanças climáticas. Porém, pode lucrar se combater o desmatamento. O estudo prevê que a produção de soja no Brasil pode cair 22% se não forem tomadas medidas para conter o aquecimento global. O arroz também perderia 9%; o feijão, 4,3%; o milho, 12%; o café, 8,12% e o girassol, 14%.


As perdas na produção agrícola são previstas em um cenário para 2020, quando o país vivenciaria atraso no início da estação chuvosa, alagamento de regiões litorâneas, entre outras consequências desastrosas para a produção de alimentos. Dependente do sistema hídrico, a produção de energia sofreria com um aumento na evaporação da água dos rios e represas que abastecem as usinas.


Em documento enviado ao Ministério do Meio Ambiente, a área econômica calcula que o Brasil está deixando de ganhar 5 bilhões de euros por ano em créditos de carbono. A conta é feita em cima dos dados do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, que prevê a redução anual de 400 milhões de toneladas de carbono com a redução do desmatamento.


Entre as propostas apresentadas, a área econômica sugere que a comercialização de créditos florestais gerados com a redução do desmatamento seja irrestrita.


Guido Mantega deve integrar negociação climática


A posição fortalece a visão do Ministério do Meio Ambiente, que deseja ver o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) criado e alavancando grandes somas de recursos para o Brasil.


- Eu estou em estado de graça porque a Fazenda é um ministério importantíssimo e que está com a bola cheia porque o Brasil saiu bem da crise financeira. Esse apoio talvez seja o mais importante para as políticas ambientais de governo nos últimos anos - disse o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.


Outra proposta do Ministério da Fazenda é que, a exemplo do que já é feito na Amazônia, todos os produtores rurais que desmatam ilegalmente os demais biomas brasileiros percam o acesso a créditos e financiamentos.


O ministro do Meio Ambiente considera que, com essa iniciativa proativa da Fazenda, Mantega passe a integrar a cúpula ministerial que elabora os termos da negociação climática no governo brasileiro formada pelos ministérios do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia e pelo Itamaraty. Apelidado internamente como G-3, o grupo pode acabar virando um G-4.


- Esse namoro com a Fazenda começou há mais de um ano. Logo que entrei no governo percebi que se a gente não incluísse a questão tributária e financeira no clima estaríamos perdidos - disse Minc.


Para ele, o colega da Fazenda demonstrou estar disposto a contribuir com políticas voltadas para uma economia de baixo carbono quando aceitou reduzir o IPI para tecnologias de energia solar e eólica, previsto na recém-lançada Carta dos Ventos.

(O Globo, 23/9)

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