domingo, 20 de setembro de 2009

A “ecochatice” nossa de cada dia

Artigo de Armindo dos Santos Teodósio, colunista de Plurale (*)


Estava no supermercado, esforçando-me para não levar nenhuma sacola plástica para casa, o que nem sempre consigo fazer, quando encontrei com uma colega. Militante do movimento de trabalhadores desde longa data, além da surpresa de saber que moramos no mesmo bairro, mais surpreendida ficou em saber que uso sacolas permanentes para as compras. Disse-me que “não tinha paciência para isso” e, de certa forma, ironizou minha “ecochatice”. Apesar de não usar literalmente essa expressão, talvez nem precisasse dizê-la com todas as letras, visto que precisamente subliminar se fez expressar. Para mim, “ecochato” parecia expressão datada, de décadas atrás, quando do início das lutas ambientais em terras tupiniquins, e referência sepultada pela centralidade que os problemas ambientais parecem ganhar no cotidiano da vida nos centros urbanos contemporâneos, midiatizados pela grande imprensa ecologicamente correta.


Infelizmente, esse tipo de postura, não se circunscreve a uma amizade minha. Pouco depois, lembrei-me de outros colegas, ativistas pelos direitos da infância & adolescência, que em uma conversa no intervalo de um encontro de ONGs, reconheceram sua “canseira” com as regras “ecochatas” da reunião e sua impaciência com as lutas sociais de outros campos de políticas públicas. “Narciso não acha belo o que não é espelho” parece ser pouco para explicar essa situação.


Essas duas histórias, longe de se constituírem em situações pontuais, infelizmente, parecem carregar o sentido de uma época na qual a sociedade civil organizada está cada vez mais presente nos “corações e mentes” dos brasileiros. Isso exige um exame bastante crítico desse contexto, ou quem sabe, dessa condição estrutural da sociedade civil e suas lutas, o que busco realizar de forma ligeira nesse ensaio, sob todos os riscos da simplificação que a argumentação rápida dos ensaios imprime à reflexão crítica. Leia mais

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