segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fundos de pasto e a sobrevivência de comunidades


Cabras e ovelhas criadas em áreas coletivas asseguram o sustento de grupos tradicionais da Caatinga. Mas a dificuldade de reconhecimento fundiário oficial e a falta de políticas públicas adequadas ameaçam o futuro das famílias

Texto e fotos: André Campos*

É cada vez maior a popularização das cisternas no sertão nordestino, solução simples e barata para captar a água da chuva. O sanfoneiro divide espaço com as guitarras de "forró eletrônico" - ou "forró de plástico", na definição dos mais puristas. Usado há séculos como meio de transporte oficial do sertanejo, o jegue é substituído pela infinidade de motos. Não é difícil encontrar animais abandonados perambulando pelas estradas.

Muita coisa mudou e continua mudando na região árida. Determinados modos de vida, entretanto, resistem bravamente. Em meio à secura que dificulta a agricultura, o pastoreio segue como base da subsistência de muita gente. Comunidades que, unidas por laços de compadrio e parentesco, usufruem de áreas sem cercamento de forma compartilhada. Esses pedaços de terra atrás das roças das famílias são chamados de "fundos de pasto".

Nos "fundos de pasto", os animais se alimentam da própria vegetação nativa. São alguns bovinos e ovelhas, mas principalmente cabras e bodes. A resistência às estiagens e a adaptação alimentar aos produtos da Caatinga fazem deles os preferidos. Cotidianamente, são soltos pela manhã e recolhidos ao curral no fim do dia, quando um sino amarrado no pescoço de alguns deles - cuja tonalidade específica cada dono sabe reconhecer - ajuda na tarefa de localizar o rebanho. Cortes ou marcações a ferro quente nas orelhas também diferenciam os bichos de cada um. "Dizemos sempre que não somos nós que criamos o bode, mas que é o bode que cria a gente", brinca Maria Izete Lopes, moradora da comunidade de fundo de pasto de Boa Vista, em Campo Alegre de Lourdes (BA). "Fazemos tão pouco por ele, e ele nos dá tanto de volta..."
Leia mais desta excelente reportagem na RepórterBrasil.

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