quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Visibilidade internacional nas mudanças climáticas

Os cientistas dos países em desenvolvimento precisam aumentar sua participação nas publicações científicas sobre clima e adaptação. A afirmação é de Patricia Romero Lankao, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR, na sigla em inglês), dos Estados Unidos.

"A comunidade científica desses países conhece de perto os problemas locais e tem capacidade para contribuir para o conhecimento global do tema. O problema é que o idioma ainda é uma barreira importante. Temos muitas publicações em espanhol, português e francês que acabam não chegando à literatura em inglês e que, por isso, não têm projeção global", disse em entrevista à Agência Fapesp.

A pesquisadora esteve nesta quarta-feira, daí 4, no encontro "Impactos, adaptação e vulnerabilidade: necessidade e prioridades de pesquisa nos países em desenvolvimento", realizado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP).

Patricia defende a criação de grupos de trabalho que se dediquem a diminuir a distância entre a ciência feita nos países em desenvolvimento e os periódicos internacionais indexados.

"Propomos a criação de grupos nos quais os cientistas desses países serão incentivados a apresentar estudos. Outra iniciativa desses grupos está em arregimentar cientistas bilíngues que possam redigir versões em inglês dos trabalhos dos colegas que só publicaram no idioma original", explicou.

O idioma, no entanto, não seria a única barreira à visibilidade internacional. "A maior parte desses países tem poucos recursos e muitas vezes o número de revistas não é muito grande. Isso diminui a visibilidade, sem dúvida. Mas temos certeza de que esses países têm trabalhos muito relevantes", disse.

De acordo com Patricia, um dos principais problemas para o conhecimento relacionado às adaptações às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento é a escassez de dados de base que permitam comparar a situação atual a cenários passados.

"Em muitas áreas não sabemos quais são as condições de base. Muitas cidades dos países em desenvolvimento ainda estão lidando com o que chamamos de vulnerabilidades inerentes", disse.

No México, por exemplo, segundo a pesquisadora, o sistema hídrico já era muito vulnerável antes das mudanças climáticas. O mesmo vale para a poluição atmosférica em Bogotá (Colômbia) e Santiago (Chile), por exemplo.

"Sem dados de base, fica mais difícil saber quais fenômenos se devem às mudanças do clima e quais deles são consequência de uma vulnerabilidade inerente desses países, que é decorrente de déficits de governança e desenvolvimento", indicou.

O workshop realizado em São José dos Campos dá continuidade a dois encontros sobre os temas da adaptação e da mitigação, realizados no início de 2009 em Amsterdã, na Holanda, e no Colorado, nos Estados Unidos, na sede do NCAR. O workshop brasileiro, no entanto, é o primeiro com foco nos países em desenvolvimento.

"Nos encontros anteriores chegamos à conclusão de que os proximos passos deveriam consistir em analisar as lacunas de pesquisa - como o conhecimento sobre condições de base -, agregar análises que captem uma diferenciação espacial mais precisa, trabalhar com múltiplas escalas e criar indicadores qualitativos capazes de captar ações e interações individuais", contou Patricia.

Mais informações sobre o encontro "Impactos, adaptação e vulnerabilidade", que termina nesta sexta-feira, dia 6: www.ess.inpe.br/iavbrazil
(Agência Fapesp, 5/11)

Nenhum comentário:

Postar um comentário