terça-feira, 3 de novembro de 2009

Uma ilha muito além da fantasia


Por Julio Godoy*

Tranebjerg, Dinamarca, 2 de novembro (Terramérica).- Na ilha dinamarquesa de Samsø, exemplo excepcional de autossuficiência energética, até o leite de vaca ajuda a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Samsø, com apenas 114 quilômetros quadrados habitados por pouco mais de quatro mil pessoas, fica na Baía de Kattegat, no Mar do Norte, cerca de 120 quilômetros a oeste de Copenhague. Sua merecida reputação se deve ao fato de gerar toda a energia que consome por meio de turbinas eólicas e painéis solares.

Desde que, em 1997, Samsø ganhou uma competição nacional para ser comunidade-protótipo no uso de fontes de energia renováveis, os samsingers – como se chamam seus habitantes – revolucionaram todos os aspectos de sua vida cotidiana para contribuir com a eficiência ambiental. Esta busca é tal que até mesmo a produção de leite de vaca é parte do sistema de aproveitamento energético. No momento da ordenha, o leite tem temperatura de aproximadamente 38 graus e deve ser esfriado imediatamente até três graus. Alguns produtores de Samsø acoplaram ao tanque coletor um mecanismo de transferência de temperatura para impedir que esse calor se dissipe no ar, o que permite usá-lo na calefação de suas casas.

Apesar de toda a engenhosidade, os pecuaristas ainda não encontraram solução para o metano e outros gases de efeito estufa gerados pela digestão bovina. Mas estudam o sistema aplicado em uma fazenda modelo da península de Jutlandia, que recicla os gases e dejetos da criação de porcos, que são usados como fonte de energia e fertilizante para cultivar tomates. Apesar de a transferência de calor do leite de vaca para a calefação doméstica ser um componente marginal do sistema de geração energética da comunidade de Samsø, ela ilustra os esforços da ilha para melhorar seu equilíbrio com a natureza.

A parte principal do sistema são 11 turbinas de vento, que geram uma média de 28 mil megawatts anuais, suficientes para fornecer eletricidade a toda a comunidade, alimentar todo o serviço de transporte coletivo da ilha e inclusive gerar excedente de 10% para vender a outras regiões dinamarquesas. Os benefícios econômicos dessa venda são reinvestidos no sistema local de energia renovável. Isso não significa que os samsingers tenham aposentado os automóveis e outros meios de transporte tradicionais. Por exemplo, as três barcas que fazem a ligação da ilha com terra firme consomem nove mil litros de petróleo por dia. Mesmo assim, Samsø vende mais energia limpa ao continente do que compra na forma de combustíveis fósseis.

A comunidade está disposta a experimentar os veículos elétricos. “As distâncias aqui são muito curtas, inferiores a 50 quilômetros”, disse ao Terramérica Søren Hermansen, diretor da Academia de Energia da ilha e pioneiro da revolução ambiental local. “Se a bateria de um automóvel elétrico pode acumular energia para, digamos, 120 quilômetros, então se converte em um acumulador, que nos permitiria não vender nossa energia limpa e utilizá-la aqui”, afirmou. Os agricultores adaptaram os motores de tratores e outros veículos para que consumam etanol ou outros combustíveis destilados da vegetação nativa, como a colza.
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