quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O verde indesejado do Pantanal


Andreia Fanzeres

Um dos nomes mais recorrentes na lista de problemas ecológicos nas áreas protegidas brasileiras se chama braquiária. Este tipo de capim se reproduz a uma rápida velocidade e substitui campos nativos de maneira quase incontrolável. O que pouca gente sabe é que até as áreas úmidas estão sendo acometidas pela propagação de outra espécie exótica e invasora com uma característica que a coloca em grande vantagem para colonizar o Pantanal: a braquiária d’água (Brachiaria subquadripara). Ela é uma das raras plantas que se dão muito bem em ambientes aquáticos, por isso tem silenciosamente impactado este que é tido como o bioma mais preservado do país.

Quem entende de Pantanal não tem dúvidas sobre a gravidade da expansão dessa espécie africana pelas áreas alagadas da planície. Apesar disso, ainda não existe no Brasil nenhum projeto de grande escala que tenha mapeado ou esteja acompanhando a expansão da braquiária d’água na região, que tem forte capacidade competitiva com a flora nativa e dificilmente sofre pressões negativas, como predação e parasitismo. “Hoje ela é considerada a pior planta daninha aquática. Foi encontrada no interior do Parque Nacional do Pantanal (MT), na reserva particular Sesc Pantanal (MT), e lagoa do Jacadigo (MS), ao sul de Corumbá”, lembra o agrônomo Robinson Pitelli, da UNESP de Jaboticabal. A espécie também já foi vista dentro da reserva particular do patrimônio natural Dorochê, administrada pela Fundação Ecotrópica.

Arnildo Pott, pesquisador aposentado da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, acredita que a braquiária d’água tenha chegado nos anos 80 ao Pantanal, embora colonize outras áreas do Brasil há muito mais tempo. Mas ela não atendeu as expectativas protéicas que os produtores tinham. Pitelli detalha. “No Pantanal, alguns fazendeiros viram nesta espécie a possibilidade de viabilizar pastagens em áreas úmidas e introduziram-na voluntariamente. Depois descobriram que este capim é tóxico para o gado, pois causa acúmulo de nitrato e outras substâncias e, então, ela foi abandonada por alguns. Mas se propaga facilmente por fragmentos, vai se quebrando e formando outras plantas”, descreve Pitelli. Nas margens dos rios, elas se desprendem junto com os camalotes (porções de vegetação que descem os rios do Pantanal em época de cheia) e se enroscam, compondo uma teia danosa à vida subaquática. “Ela cresce sobre os aguapés e forma uma manta. Isso os mata os aguapés e o nicho de reprodução dos peixes de couro fica prejudicado”, completa o pesquisador.
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