segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Darwin, 150 anos depois

Se o genoma é uma receita de bolo e os genes, seus ingredientes, a diferença entre homem e macaco pode não ser mais do que uma cereja evolutiva

Herton Escobar escreve para "O Estado de SP":

A evolução da ciência nos últimos 150 anos, desde a publicação de "A Origem das Espécies", permitiu comprovar e detalhar muitas das teorias propostas por Charles Darwin, mas ainda não conseguiu elucidar uma das questões mais inquietantes que derivam de sua obra: O que nos faz humanos? Se homens e chimpanzés pertencem a uma mesma família, como podem ser tão diferentes?

Parte da resposta é que não somos tão diferentes assim. Pesquisas genéticas realizadas nos últimos anos revelam que humanos e chimpanzés são ainda mais próximos do que Darwin poderia imaginar. Quando os genomas das duas espécies são colocados lado a lado, a sequência das letras de seu DNA é praticamente idêntica: quase 99% de semelhança.

Se o genoma é uma receita de bolo e os genes, seus ingredientes, a diferença entre homem e macaco pode não ser mais do que uma cereja evolutiva. Nem ratos e camundongos são tão parecidos (91% de similaridade). É a prova de que Darwin, mesmo sem saber nada de genética - porque não existia genética na sua época-, estava certo em pendurar o homem na árvore genealógica dos primatas.

Ao mesmo tempo que ajudam a responder, porém, as informações genômicas acrescentam um novo grau de complexidade à questão. Se homens e chimpanzés são quase idênticos "por dentro", geneticamente, como podem ser tão diferentes "por fora", em sua anatomia, comportamento e capacidade cognitiva?

O que há de tão especial no 1% que diferencia as duas espécies? Quais foram as mutações essenciais que permitiram ao Homo sapiens desenvolver a destreza e a inteligência necessárias para construir cidades, escrever livros e questionar sua própria evolução?

A resposta completa parece estar pulverizada pelo genoma. A maioria dos cientistas já desistiu de encontrar um ou dois genes "mágicos" da natureza humana - algo como um "gene da inteligência" ou um "gene do bipedalismo".

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