terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Denúncia
Banco Mundial e governos europeus financiam exportação ilegal de madeira

Rowan Moore Gerety, da Mongabay/Wildmadagascar.org*

Se por um lado o atual governo de Madagascar tem atraído críticas severas da comunidade internacional pelo fracasso em evitar a destruição ambiental nos últimos meses; França, Holanda, Marrocos e o Banco Mundial estão todos envolvidos no financiamento de operações de desmatamento ilegal nos parques nacionais do país ao longo do último ano.

Mesmo muitos governos condenando o aumento do desmatamento ilegal, vários, diretamente ou através de instituições que apóiam, são acionistas nos mesmos bancos que tem financiado a exportação de madeira ilegal da região de SAVA em Madagascar.

O Banco da África Madagascar, por exemplo, é em parte propriedade da Proparco, uma subsidiária da Agência Francesa de Desenvolvimento, assim como a Corporação Internacional de Finanças (IFC, sigla em inglês) do Banco Mundial, o banco de desenvolvimento holandês FMO, e o Banco Marroquino do Comércio Exterior. Société Générale e Crédit Lyonnais, ambos parte do governo francês, também forneceram empréstimos para negociadores ilegais de madeira.

O envolvimento de governos ocidentais e instituições internacionais no desmatamento ilegal é ainda mais arrebatador já que a União Européia, França, Estados Unidos, Banco Mundial e a IMF suspenderam um certo nível de financiamento para Madagascar devido a crise política que tirou o poder do ex-presidente Marc Ravalomanana no ano passado. Nenhum governo estrangeiro reconhece a atual administração de Andry Rajoelina e a ajuda foi suspensa em nome da restauração da ordem e da melhoria da governança.

Agora, o que se observa é que os dólares de investimento daqueles mesmos governos, diretamente no caso da França, Holanda e Marrocos, e através de contribuições do Banco Mundial, estão apoiando o desmatamento ilegal, um setor que depende pesadamente da governança corrupta em todos os níveis e que viola diversas leis do país.

A IFC e o FMO possuem cada uma mais de 10% das ações do Banco da África Madagascar, enquanto a Proparco e o governo marroquino possuem ações no grupo do Banco da África, acionista de 40% do Banco da África Madagascar. O governo francês também possui cerca de 4% do Societé Générale através do Caisse des Dépots e da empresa de seguros CNP. O Crédit Lyonnais é subsidiário do Crédit Agricole, cuja maior parte é pública.

O desmatamento intensivo de madeiras nobres ocorria nas áreas protegidas da região ao longo do ano passado, mas os negociadores não conseguiram exportar o jacarandá (rosewood). Reforços esporádicos da proibição da exportação de madeiras nobres fizeram com que os negociadores estocassem grandes quantidades de jacarandá na espera de autorização para exportação. “O valor destas pilhas estocadas é impressionante”, escreveu Erik Patel, biólogo que faz pesquisas na SAVA.

Os pagamentos pelas exportações de tábuas ilegais raramente ultrapassam 50% do valor final de venda, tornando o fluxo de caixa um problema mesmo em um setor tão lucrativo. Com tanto capital trancado nos estoques, os negociadores acabam dependendo dos bancos para financiar as exportações e as contínuas operações de desmatamento.

Manifestações dos cargueiros de portos regionais indicam que o Banco da África Madagascar forneceu empréstimos a 11 dos 15 maiores negociadores de madeira, enquanto o BFV Société Générale ofereceu a dois deles. Um relatório compilado no outono passado pela Agência de Investigação Ambiental e pelo Global Witness a pedido do governo malagase descobriu que o Banco da África Madagascar financiou mais da metade das exportações declaradas da região de SAVA no primeiro semestre de 2009. O Crédit Lyonnais se envolveu em negociações mais recentes.

Apesar dos negociadores de madeira também dependerem de uma rede informal de importadores chineses em Madagascar para recursos financeiros extras, estes bancos continuam a apoiar o desmatamento ilegal e a negociação de madeira sem enfrentar o mesmo protesto público que resultou em campanhas contra empresas de transporte marítimo como a Delmas, sediada na França e que foi a transportadora mais proeminente de jacarandá ao longo do ano passado. Está na hora dos governos que denunciam o desmatamento e outras destruições ambientais em Madagascar olharem mais severamente para o seu próprio envolvimento.

*Traduzido por Fernanda B Muller, CarbonoBrasil
Mercado Ético

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