segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Geomedicina: sua saúde depende do lugar onde você mora
Incidência de enfartos por 100 mil habitantes nos EUA - fonte: Esri
Pensamos que o nosso risco de doenças está relacionado a dois grandes fatores: a herança genética e o estilo de vida que levamos.
Bill Davenhall teve um enfarte. Sobreviveu e, aproveitando que trabalhava na Esri, uma grande empresa de SIG (Sistema de Informação Geográfica), resolveu investigar se a sua história geográfica havia contribuído para esse desfecho. Até os 19 anos de idade morou em Scranton, no estado americano da Pensilvânia, uma cidade industrial onde o ar carrega altas concentrações de dióxido de enxofre, dióxido de carbono e metano. Em seguida, mudou para Louisville, no Kentucky, onde morou por 25 anos. Deu azar de novo, pois esse era um pólo de produção de tubos de PVC e lá ele respirava benzeno e cloropreno, ambas substâncias insalubres. Finalmente, se mudou para a área metropolitana de Los Angeles, Califórnia, onde o ar tem o maior nível de ozônio dos EUA.
Conclusão: sem perceber, escolheu lugares para morar cujos poluentes não poderiam ter sido mais propícios para gerar um enfarte. Segundo ele, a lição é acrescentar a localização da moradia como o terceiro grande fator que nos afeta. Esquematicamente, a nossa saúde depende de:
Genética + Estilo de vida + Localização
Davenhall defende que os médicos deveriam levar isso em conta. Quando preenchem a nossa ficha, deveriam perguntar: em quais lugares você morou? A resposta poderia influenciar recomendações para evitar futuras doenças.
Veja o mapa acima, quando mais escuro o tom avermelhado, maior a incidência de ataques cardíacos por 100 mil habitantes. É evidente que existe uma correlação entre esse tipo de problema e localização. Pode não ser poluição. Talvez a causa seja algum aspecto cultural do lugar, como os hábitos alimentares ou sedentarismo. Ou quem sabe lá exista uma concentração étnica geneticamente mais propensa a certas doenças. De qualquer forma, a nascente geomedicina, que estuda a associação de lugares com doenças, é uma nova e potente ferramenta para apontar hot spots de problemas de saúde.
Será que um gráfico desse tipo correlacionando freqüência de doenças pulmonares com cidades faria com que os habitantes de lugares mais afetados por poluição do ar, como por exemplo São Paulo capital , se mobilizassem por melhorias?
No Brasil, o estudo pioneiro de geomedicina começou em 2006, feito pelo Instituto Pelé Pequeno Príncipe em associação com parceiros públicos como a Universidade Federal do Paraná e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O trabalho coleta amostras das 736 microbacias hidrográficas do Paraná, levantando os níveis de elementos químicos e agrotóxicos para, em seguida, cruzar os dados com a ocorrência de doenças que os mesmos podem causar, como o câncer de fígado. Por enquanto, os primeiros resultados são sigilosos e só estão disponíveis para os órgãos de saúde.
Abaixo, assista ao relato de Davenhall no vídeo da TED Talks. É em inglês, mas você pode assistir com legendas em várias línguas, inclusive português.
O ECO
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