sexta-feira, 19 de março de 2010

Brasil, a primeira biocivilização global?

Ignacy Sachs defende "revolução duplamente verde" para criar emprego e combater aquecimento

O Brasil é o país mundial com maior potencial para criar uma verdadeira biocivilização, baseada na exploração sustentável de seus recursos naturais. A afirmação é de Ignacy Sachs, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).

"O Brasil tema maior Biodiversidade do mundo e um conjunto de Climas que favorece a produção agrícola. Podemos utilizar esse potencial para desenvolver o país", diz ele, que na semana passada defendeu o conceito no artigo Brasil 2022: Terra da Boa Esperança?.

Nascido na Polônia, naturalizado francês e autor de mais de 20 livros, Sachs se define como um ecossocioeconomista, que liga os conceitos de crescimento econômico, social e ambiental de forma inseparável.

Em entrevista ao Brasil Econômico, Sachs defende que a exploração do potencial natural brasileiro poderia mudar o país. "Precisamos acabar coma visão de que o campo só produz commodities agrícolas de baixo valor agregado. As novas tecnologias permitem o que chamo de biorrefinarias. São empresas que irão produzir alimentos, produtos farmacêuticos, cosméticos, fibras e materiais de construção usando nossa Biomassa como matéria-prima",prevê.

Segundo o pesquisador, o novo sistema "mataria dois coelhos com uma só cajadada": reduziria o uso de recursos naturais, como a emissão dos gases responsáveis pelo Aquecimento Global, e produziria mais empregos de qualidade no campo. Isso, segundo ele, faria com que o processo atual de migração das áreas rurais para as cidades - há dois anos, pela primeira vez a população urbana mundial ultrapassou a agrícola - fosse suavizado.

"Não acho que os problemas sociais sejam resolvidos através da mudança maciça das populações para as cidades. O fato de alguém virar um refugiado do campo, morando numa favela, não significa que essa pessoa foi urbanizada. Para mim, reurbanizado é quem tem um teto decente, um emprego decente e uma condição decente de exercício da cidadania", enumera.

Verde vezes dois

Para atingir esse patamar, o pesquisador defende a adoção do que chama de "Revolução Duplamente Verde". Ele explica que a primeira revolução verde no campo veio a partir da década de 1950, quando o uso de adubos e defensivos agrícolas multiplicou a capacidade mundial de produção agrícola.

"Mas para comprar esses insumos é preciso muito capital. Essa revolução provocou uma polarização no campo, pois só se tornou acessível para uma minoria de agricultores", relata.

Assim, a nova revolução verde deveria se basear em sistemas viáveis ao pequeno produtor, tal como a agricultura familiar, como forma de tornar o campo mais atrativo. Ele critica os planos de financiamento agrícola para 2010, que preveem R$ 92,5 bilhões para a agricultura de grande escala frente aos R$ 15 bilhões para a agricultura familiar.

Uma das propostas de Sachs para facilitar esse processo é a criação de um imposto sobre as Emissões de carbono, o que ele acredita que incentivaria a adoção de energias alternativas, mais limpas, para os sistemas de produção industrial. "Junto com os royalties da exploração do pré-sal, esses recursos poderiam alimentar fundos soberanos, tais como o Fundo Amazônia, destinados a financiar a transição para uma economia de baixo uso de carbono."
(Marcelo Cabral)
(Brasil Econômico, 18/3)

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