segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Guarde este nome: GoodGuide!


Goodguide, uma revolução no consumo consciente
Por Ricardo Voltolini (*)


Está a caminho uma revolução no consumo consciente.

E ela atende pelo prosaico nome de GoodGuide ou Guia do Bem em tradução livre e não autorizada. Guarde bem este nome porque provavelmente ouvirá falar muito dele nos próximos anos, antes talvez de virar notícia no Jornal Nacional. Trata-se de uma ferramenta útil para quem deseja, no momento de fazer compras, obter informações rápidas e confiáveis sobre os impactos socioambientais de um determinado produto ou marca.

Essa experiência de associação entre tecnologia e consumo responsável começou a tomar corpo recentemente nos Estados Unidos. Com um aplicativo instalado no iPhone, desses que lê códigos de barra, um consumidor norte-americano pode, enquanto passeia entre as gôndolas de um supermercado, enviar informações para um banco de dados que, em segundos, revela por exemplo, a existência de substâncias tóxicas em um produto, se houve ou não exploração de trabalhadores em sua produção ou mesmo o quanto a empresa fabricante está preocupada com a conservação do meio ambiente. Simples e prático, ajuda o consumidor mais engajado a fazer uma escolha consciente, sem grande esforço para desvendar rótulos que, quando existem, parecem elaborados para desinformar.

O GoodGuide reúne hoje dados de 75 mil produtos, que vão desde os de limpeza para casa até alimentos, cuidados pessoais e brinquedos. Com ele, é possível comparar itens similares e concorrentes, acessar um ranking com atribuição de notas e até mesmo criar uma lista de favoritos usando critérios cruzados de saúde, segurança e compromisso socioambiental. A ferramenta nasceu em 2007 de um insigth doméstico de Dara O´Rourke, professor do Departamento de Ciência Política e Gestão Ambiental Universidade de Berkeley. Antes de sair de casa para passear com a filha de cinco anos, ao ler o rótulo do protetor solar, ele teve dúvidas quanto à composição química do produto.

Pesquisando depois, descobriu a existência de uma substância tóxica potencialmente danosa á saúde humana. Ocorreu-lhe que muitos outros pais e mães também deviam ter as mesmas dúvidas em relação às matérias-primas de produtos utilizados por seus filhos. E que milhares de consumidores não têm a mais remota ideia do que contém produtos de consumo aparentemente inofensivos nem de como – e sob que condições -- as empresas o produzem.

Empreendedor, O´Rourke abriu uma organização sem fins lucrativos e buscou o apoio de cientistas, especialistas em comportamento do consumidor e profissionais de indústria. Também associou-se à Universidade da Califórnia, ao Massachusetts Institute of Technology, Google, Amazon, eBay e PayPal. O uso do GoodGuide cresce a cada dia na esteira da expansão do movimento Cultural Creatives, formado hoje por uma turma de 70 milhões de norte-americanos menos egocêntricos e mais preocupados com o outro, com a qualidade de vida e com a saúde do planeta.

Analisando sob o aspecto da evolução do consumo consciente, o GoodGuide pode fazer mais diferença do que qualquer regulação específica. Não que criar normas não seja necessário. Pelo contrário, elas funcionam como mecanismo de pressão para mudança de práticas. É que o engajamento de consumidores cidadãos, e a consequente pressão advinda disso, acabarão por mudar mais rapidamente as empresas do que eventuais sanções por descumprimento de regras que estão sendo e serão criadas para proteger consumidores. Ao tornar acessíveis informações úteis sobre impactos que, mantidas na penumbra, antes desequilibravam a relação entre quem produz e quem compra, a ferramenta naturalmente empodera o consumidor nesses tempos de crescente interesse pelas questões socioambientais e de saúde.

O GoodGuide elimina, de partida, um obstáculo importante no processo de mudança de comportamento do consumidor. Na medida em que disponibiliza instantaneamente informações úteis, possibilitando a comparação, ele preenche um vácuo deixado pela ausência de indicadores claros e compreensíveis. Mais do que isso, rompe com a chamada “inércia cognitiva”, simplificando muito o processo de tomada de decisão. Sabe-se que a mente humana, diante de muitas alternativas de produtos, do dispêndio de energia mental para avaliar as informações de rótulos/embalagens e do tempo necessário para tal tarefa, procura sempre a opção mais rápida/satisfatória, nem sempre a ideal.

Ao conferir poder ao consumidor, o GoodGuide veio para ficar nessa era de transparência radical. Bom para consumidores e empresas. Com ele, os consumidores poderão fazer do ato de consumo um instrumento de efetiva cidadania; e mais do que isso, um exercício de altruísmo em nome de um mundo melhor e mais saudável. As empresas, por sua vez, terão de mudar processos e práticas na direção da sustentabilidade se não quiserem perder sintonia (e, por tabela pontos de market share) com seus cada vez mais bem informados e exigentes clientes.

Bem-vindo seja o GoodGuide. Aviso aos navegantes brasileiros: como muitos produtos são vendidos globalmente, uma passeada pelo site GoodGuide pode ser um bom primeiro exercício para avaliar quão sustentáveis são itens que você eventualmente compra aqui no Brasil.

* Ricardo Voltolini é publisher da revista Ideia Socioambiental e diretor da consultoria Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade
(Envolverde/Idéia Socioambiental)

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