quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Guerrilha verde
Foi uma espécie de milagre da multiplicação das árvores. Um punhado de pessoas decidiu plantar 18 árvores nas áridas, sujas e cinzentas calçadas da Vila Buarque e rapidamente já havia 400 delas no entorno do local. Isso ocorreu porque o governo estadual, obrigado a fazer uma compensação ambiental por causa das obras da marginal do Tietê, percebeu aquele movimento e resolveu aumentar o plantio nas redondezas do bairro, localizado no centro de São Paulo.
Por trás dessa multiplicação está Rebeca Lerer, que decidiu trocar a selva amazônica por uma espécie de guerrilha verde na cidade de São Paulo. Do lugar em que está instalada -um prédio até pouco tempo atrás abandonado-, quase não se nota nenhuma área verde. Nem na vizinha praça Roosevelt, tomada pelo concreto. "Aqui eu me sinto tão envolvida na proteção ambiental quanto estava no meio da selva amazônica."
Militante do SOS Mata Atlântica e do Greenpeace, ela passou boa parte de sua vida metida em questões ambientais. Montou "raves" com temáticas ecológicas, organizou campeonatos de skate com pistas feitas de madeira certificada, promoveu shows cuja iluminação e cujos equipamentos usavam apenas a energia solar. Formada na Fundação Cásper Líbero, ele constatou rapidamente que, embora gostasse de se comunicar, não tinha nada a ver com o jornalismo.
Depois de perambular pelo mundo e por várias cidades brasileiras, Rebeca Lerer, ex-moradora do Bexiga, voltou para São Paulo. "A verdade é que meu habitat é mesmo a cidade de São Paulo."
O cineasta Ricardo Costa convidou-a , no ano passado, para ajudar a construir um novo espaço para exibir arte alternativa ligada à cultura urbana. Conseguiram, então, um prédio abandonado na rua Rego Freitas, que se tornou a sede da Matilha Cultural.
Rebeca transformou o local numa espécie de quartel-general da guerrilha verde.
A Matilha Cultural preparou para este mês um evento batizado de "Setembro Verde" -composto por uma série de shows, debates, mostras de arte e filmes. Entre as ações programadas está a "vaga viga": ocupam-se vagas de estacionamentos para transformá-las em pequenas praças. "É um jeito de as pessoas perceberam como o carro desumaniza a cidade."
O assunto, neste mês, está especialmente em alta. Há uma mobilização em torno do Dia sem Carro, que ocorrerá na próxima semana. Pesquisa divulgada hoje pelo Ibope mostra que 81% dos paulistanos já estão conscientes de que a poluição afeta muito a sua saúde. Esse é, segundo o Ibope, um dos cinco maiores problemas de São Paulo.
Mas não existe sinal de diminuição do número de carros na rua. Muito pelo contrário, as ruas estão cada vez mais congestionadas e o ar está cada vez mais poluído. Ao mesmo tempo, morre-se mais no trânsito do que por violência. Isso só mostra que a tarefa de civilizar a cidade de São Paulo é amazônica e talvez seja uma obra para guerrilheiros, que tentam ganhar cada centímetro como uma pequena vaga de carro.
Gilberto Dimenstein do Aprendiz
(Envolverde)
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