terça-feira, 21 de setembro de 2010

A teia da vida está se desfazendo



Edward Norton*

Se para algo serviu a tragédia do vazamento de petróleo no Golfo do México foi para recordar ao mundo que a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas não são abstratos conceitos científicos. A diversidade biológica e o bom estado dos ecossistemas são a base vital da sociedade humana e devemos defendê-los já dos muitos perigos que os cercam.

A produção de alimentos e energia na terra e no mar, o turismo, a construção e muitas outras indústrias e atividades mostram ser muito destrutivas dos hábitats marinhos e terrestres. E, embora o estreito vínculo entre a variedade de formas de vida vegetal e animal e o bem-estar humano se compreenda melhor agora do que nunca, são sombrias as notícias sobre o insuficiente esforço mundial para preservar a biodiversidade do planeta.

A rede da vida, da qual todos dependemos, se faz em frangalhos a uma velocidade cada vez maior, enquanto as ações para preservá-la ainda são penosamente lentas e inadequadas. Nosso fracasso pode ser atribuído, em parte, à percepção equivocada de que conservar a biodiversidade é antes de tudo um legado para o futuro. Porém, as conclusões da terceira edição da Perspectiva Mundial sobre a Biodiversidade (GB03) jogaram por terra esse mal-entendido.

Publicada em maio e baseada em 120 informes nacionais dos países partes do Convênio sobre a Diversidade Biológica, a GB03 alerta que, sem uma ação coletiva, os ecossistemas enfrentarão situações extremas que exporão as vidas e o sustento humanos a uma degradação e um colapso irreversíveis.

Embora os pobres sejam particularmente vulneráveis, ninguém no planeta está imune aos impactos do desmatamento, da extinção de espécies, da morte dos arrecifes de coral, da perda de lagos e da acidificação dos oceanos. Cerca de um bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento dependem da pesca como fonte primária de alimentação. Mas 80% das zonas pesqueiras estão esgotadas ou excessivamente exploradas.

“A ideia de que o crescimento econômico é independente da saúde ambiental e de que a humanidade pode expandir indefinidamente sua economia é uma falsa e perigosa ilusão”, afirmaram biólogos da Stanford University, da Califórnia. Assim, somente por meio de uma firme conservação dos recursos naturais, as gerações futuras poderão atender suas necessidades de alimentação, saúde, energia e segurança. As principais causas da perda de biodiversidade foram identificadas: alteração dos hábitats, exploração excessiva, contaminação, expansão invasiva de espécies exóticas e mudança climática.

O compromisso e a educação são aliados para lutar contra estas ameaças. Mas somente uma dedicação mundial mais profunda e uma ação concertada de todos os Estados servirão para deter e provavelmente reverter essas intimidantes tendências. Teremos nos próximos dias duas oportunidades importantes para dar uma resposta global a essas ameaças.

No dia 22 deste mês, em observância ao Ano Internacional da Biodiversidade, os governantes mundiais terão uma ocasião única para definir uma nova estratégia em matéria de biodiversidade, como a introdução de novas práticas sustentáveis no uso da terra e dos recursos, a expansão das áreas protegidas e a colocação em prática de planos para conciliar o desenvolvimento com a conservação. Pela primeira vez na Organização das Nações Unidas, chefes de Estado e de governo de 192 nações terão um encontro exclusivamente dedicado à crise da biodiversidade.

E acontecerá, em outubro, na cidade japonesa de Nagoya, a reunião dos 193 Estados-partes do Convênio sobre a Diversidade Biológica, na qual adotarão um novo plano estratégico para o período 2011-2020, com objetivos renovados e uma nova perspectiva da biodiversidade para 2050. Conseguir um resultado significativo deste esforço exigirá total compromisso de todas as nações. Neste aspecto, os Estados Unidos não estão à altura das circunstâncias, pois no momento continuam sendo um dos três países do mundo que não ratificaram sua adesão ao Convênio.

O presidente Barack Obama expressou energicamente seu compromisso para enfrentar a crise ambiental. Na Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, realizada em dezembro de 2009 na Dinamarca, falou de “nossa responsabilidade de deixarmos para nossos filhos e netos um planeta mais limpo e mais seguro”. Por ser o mais amplo tratado sobre biodiversidade aprovado até hoje, o Convênio proporcionará uma oportunidade única a Obama para que assuma essas responsabilidades e estimule uma renovada dedicação da comunidade internacional.

Esperamos com ansiedade o momento em que os Estados Unidos se unam aos campeões da biodiversidade e se convertam formalmente em uma nação empenhada em preservar e proteger a vida no planeta.

* Edward Norton é astro do cinema norte-americano e Embaixador de Boa Vontade das Nações Unidas para a Biodiversidade. Direitos exclusivos IPS.

Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

(Envolverde/Terramérica)

2 comentários:

  1. Olá Liete

    Gostei do artigo do Edward Norton. Vou divulgar lá no blogue.
    Obrigada e beijinhos

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  2. Olá Manuela querida, grata pela visita. Ando meio sumida e dando pouca atenção por aqui e na Net de maneira geral, é que estou no sufoco com atividades demais. Mas destá que vou tentar retomar com fôlego novo.
    Beijinhos

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