quinta-feira, 6 de maio de 2010

Marina Silva, a verde!



Na manhã de um domingo de muito calor, um Range Rover blindado se dirigia à Zona Oeste de São Paulo, para a festa de comemoração do aniversário do parque da Água Branca, na qual seria servido um café da manhã preparado com produtos orgânicos. Passava das dez e a dona do carro, a grã-fina Ana Paula Junqueira - cujo marido, um milionário sueco, diz ser dono de uma área na Amazônia equivalente a 200 mil campos de futebol -, conversava com sua carona, a senadora Marina Silva, candidata à Presidência da República pelo Partido Verde.

“Marina, você vai passar por Londres depois de Copenhague?”, perguntou Ana Paula, falando da conferência internacional sobre o clima. A senadora respondeu que deveria ir a Londres e Paris, onde o professor José Eli da Veiga, da Universidade de São Paulo, tentava organizar encontros com eleitores brasileiros. “É que eu queria saber se você gostaria de se encontrar com o Gordon Brown”,disse a socialite. “Ele é muito amigo do meu marido, seria muito fácil arranjar isso aí.”

Antes que a senadora pudesse responder, a outra carona, Patrícia Penna, mulher do presidente do PV José Luiz Penna, começou a falar da Semana de Moda do Design Sustentável, evento que ela inventou e que o marido sustentou, inclusive propondo um projeto de lei, na Câmara de Vereadores, instituindo o Dia do Design Sustentável.

“Marina, seria uma honra muito grande você aparecer lá”, ela disse. “Vai ter muita gente ligada ao desenvolvimento sustentável, acho que seria uma oportunidade incrível.” Ensanduichada entre as duas mulheres, a senadora olhava impassível para a frente. Ainda que não tivesse obtido resposta, Patrícia Penna emendou outro pedido. Queria que Ana Paula Junqueira convencesse a estilista Stella McCartney, sua amiga, a participar da Semana Sustentável no próximo ano. “Ela é vegetariana, sempre trabalhou com material sustentável”, argumentou. “E estou vendo o Al Gore também. Vocês acreditam que ele cobra 200 mil dólares?” Marina Silva continuava imperturbável.

Desde que havia se declarado candidata ao Planalto, em agosto, sua agenda de compromissos quadruplicara. Além do trabalho no Senado, que a obrigava a passar no mínimo três dias em Brasília, o resto da semana era dedicado a viagens pelo Brasil, participando de almoços, jantares, palestras, conferências, mesas-redondas e entrevistas a estações de rádio e televisão.

Segundo as pesquisas eleitorais, Marina Silva entrou no páreo com 12% das intenções de voto, o que a colocava em um possível terceiro lugar. No começo de dezembro, caíra para 6%, com uma surpreendente rejeição: 40% dos eleitores diziam não votar nela “de jeito nenhum”. Ainda assim, sua candidatura continuava a produzir uma aglutinação exótica de grupos de interesses distintos.

À sua volta, passaram a orbitar os até então desconhecidos caciques do PV, os ricos com consciência ecológica, os desgarrados do PT e os radicais anônimos do Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, de olho na vaga de vice. Se as visitas de pastores evangélicos ao seu gabinete no Senado eram usuais, elas se tornaram uma romaria. O assédio dos jornalistas estrangeiros explodiu: em uma semana, ela recebeu oito pedidos de entrevistas de órgãos de imprensa internacionais.

Naquela manhã, Marina cumpria seu nono compromisso desde que chegara a São Paulo, na antevéspera. Teria ainda outros dois até o final do dia. No parque da Água Branca, uma turba de pessoas de camiseta e sandálias de dedo beliscava biscoitinhos de farinha integral, tomava café de grãos orgânicos, provava castanhas, granolas e afins quando ela passou reto pela mesa e foi cercada por desconhecidos que a abraçavam e tiravam fotos no celular.

“Senadora, estamos com você! Vamos mudar o Brasil, você é única!”, disse uma senhora de chapéu, segurando-a pelo braço. A senadora sorriu, agradeceu e foi novamente interrompida por um simpatizante. “Só você para moralizar essa baderna”, disse o homem barbudo. Ela retribuiu com um sorriso tímido. “Marina já”, ouviu-se.

A senadora pegou o microfone e fez um rápido pronunciamento. Exaltou a necessidade de se construir uma “nação de baixo carbono” e comemorou o fato de, na véspera, ter sido divulgado o menor índice de desmatamento da Amazônia. Concluiu dizendo que “é por isso que a derrota e a vitória só se medem na História”.

Aos 51 anos, Marina Silva tem o mesmo peso da juventude, 53 quilos, mantidos por uma dieta compulsória, devido a um histórico de doenças contraídas quando morava num seringal, no Acre. Ela não pode comer, usar, cheirar, encostar em uma lista infindável de coisas: frutos do mar, condimentos, lactose, carne vermelha, álcool, bebidas gasosas, qualquer cosmético, perfume, tinta de
impressora, carpete, poeira. O contato com qualquer um deles lhe causa imediata coceira, falta de ar e, às vezes, taquicardia.

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