segunda-feira, 19 de julho de 2010
Milênio-Financiamento é a chave
Tito Drago
Madri, 19/7/2010 – Reunido pela primeira vez em Madri, o Grupo de Impulsionadores dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio concluiu que a chave para cumpri-los é conseguir financiamento o mais rápido possível. Esses objetivos definidos em 2000 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), incluem reduzir pela metade a proporção de pessoas que sofrem pobreza e fome, em relação a 1990, garantir educação primária universal, promover a igualdade de gênero, reduzir a mortalidade infantil e materna, combater a aids, a malária e outras doenças, assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento, tudo isto com prazo até 2015.
A Cúpula Mundial sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que acontecerá de 20 a 22 de setembro em Nova York, deverá centrar-se na África, “A grande pendência” para se conseguir essas metas. Foi o que disseram durante o encontro – ocorrido no dia 16, com contatos bilaterais no dia seguinte – fontes governamentais espanholas, acrescentando à IPS que pelo menos um acordo para estabelecer uma nova ferramenta de financiamento para o desenvolvimento deve acontecer na próxima reunião.
Nessa linha, completaram, os assuntos relacionados com a ajuda ao desenvolvimento deverão estar presentes nas grandes cúpulas internacionais, como a do G-20, união entre o Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia), as grandes economias emergentes e a União Europeia.
O ator Antonio Banderas, embaixador da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), insistiu na necessidade de desenvolver atividades de todo tipo, incluindo as artísticas, para conscientizar a sociedade sobre a importância das Metas do Milênio. A ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, destacou que é preciso se esforçar para encontrar novas fontes de financiamento para isso. Entretanto, o ponto mais polêmico da reunião foi a presença do presidente de Ruanda, Paul Kagame.
Em maio, quando o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, criou o Grupo dos Impulsionadores, designou como copresidentes o primeiro-ministro espanhol, José Luiz Roríguez Zapatero, e Kagame. “É inaceitável que um acusado de genocídio perante um tribunal espanhol, com sólidas provas, seja designado para compartilhar a presidência de um organismo internacional com o chefe de governo espanhol”, disse à IPS a eurodeputada socialista Francisca Sauquillo, presidente do Movimento pela Paz, pelo Desenvolvimento e pela Liberdade.
O juiz Fernando Andreu tem em aberto na Audiência Nacional da Espanha um processo contra Kagame pelo assassinato de nove espanhois que foram testemunhas de massacres em Ruanda. E é acusado de crimes de guerra e de lesa humanidade cometidos por militares que atuavam sob suas ordens em 1994, ano do conflito étnico no qual morreram cerca de 800 mil pessoas nesse país africano. Apesar da abertura do processo em 2008, o presidente ruandês não foi processado, graças à imunidade que tem como chefe de Estado. Apesar disso, no auto judicial constam claros indícios de sua implicação nesses crimes, disseram à IPS membros da Promotoria.
Muitas organizações não governamentais (ONGs), entre elas Anistia Internacional e Repórteres Sem Fronteiras, criticaram o fato de Kagame ter sido recebido, destacando que em Ruanda os direitos humanos continuam sendo violados e que também estão ocorrendo “ameaças de agressões físicas e inclusive assassinatos de jornalistas”. Também se pronunciaram nessa linha os Comitês de Solidariedade com a África Negra e a Rede de Entidades para o Desenvolvimento Solidário. O último assassinado noticiado em Ruanda foi a decapitação, na semana passada, do vice-presidente do Partido Democrático Verde, André Kagwa Rwisereka.
Enquanto as duas principais forças políticas da Espanha, o governante Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Partido Popular (PP, de centro-direita), aceitaram a presença de Kagame, todos os demais partidos a criticaram. Uma das posições mais impugnadas pelas ONGs foi a de Ban Ki-moon, que citou Ruanda como exemplo para o resto dos países pobres por seus avanços no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Na reunião realizada no Hotel Ritz em Madri, o chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, representou Zapatero, que depois recebeu todos os participantes, menos Kagame, no Palácio de la Moncloa, sede do governo. Ali estiveram Ban, Bachelet e o ator Banderas, entre outras personalidades, como o conselheiro especial da ONU sobre novos mecanismos de financiamento do desenvolvimento, Philippe Douste Blazy, e o vice-presidente da Aliança para uma Revolução Verde na África, Akin Adesina. Dois dos membros do Grupo faltaram: Muhammad Yunus, de Bangladesh, criador do microcrédito e prêmio Nobel da Paz 2006, e o norte-americano Bill Gates, fundador da Microsoft e filantropo. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)
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