segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Projeto que mapeia história das migrações humanas já analisou mais de 400 mil amostras de DNA



Estrutura de dupla hélice do DNA
De onde viemos? Pelo menos do ponto de vista geográfico, essa pergunta pode ser respondida hoje, graças à genética. Quem já desistiu da ideia de montar sua árvore genealógica pode recorrer a iniciativas como o Projeto Genográfico, que cobra US$ 100 (cerca de R$ 177, fora as despesas com o correio) para informar qual o caminho percorrido por seus mais antigos ancestrais maternos e paternos, da África até o continente onde você vive.

O projeto, uma parceria entre a National Geographic e a IBM, conquistou a marca de mais de 400 mil amostras de DNA de gente do mundo inteiro, coletadas desde 2005. A informação é de Ajay Royyuru, pesquisador da IBM que esteve no Brasil esta semana para participar de um colóquio técnico-científico promovido como parte da agenda do centenário da companhia.

“Todo mundo se interessa em saber de onde veio e com a pesquisa genética isso é possível”, comenta. Em papo com o UOL Ciência e Saúde, ele citou como exemplo a pesquisa de sua própria ancestralidade. A ausência de documentos suficientes e a adoção de seu avô paterno limitavam sua busca a duas ou mais gerações. Mas a análise do DNA permitiu ao pesquisador descobrir que ele é membro de uma antiga linhagem (um haplogrupo) batizado de “H”, predominante no sul da Índia e no Sri Lanka.

Royyury explica que mesmo a arqueologia é uma ciência limitada quando se trata de conhecer a história das migrações humanas no planeta, já que estamos falando de mais de 150 mil anos atrás. Mas unindo esforços de todos os lados, arqueólogos, linguistas, antropólogos, geógrafos e biólogos são capazes de delinear os galhos dessa árvore com raízes africanas.

Um dos maiores desafios do projeto foi envolver populações indígenas de diferentes continentes. “Muitos não quiseram participar”, lamenta. Mas a partir da coleta de saliva de grupos diversos, dezenas de estudos científicos vêm sendo publicados nesses últimos seis anos e muitos ainda serão. Todos eles vêm sendo disponibilizados para o público (veja aqui

Participação brasileira

Para Royyury, um dos grandes méritos do projeto foi não apenas trazer mais detalhes sobre a origem de certas populações, mas mostrar a relação entre elas. Ele cita como exemplo um estudo liderado pelo brasileiro Fabrício Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais, publicado no mês passado no "American Journal of Physical Anthropology".

O trabalho descreve o ancestral comum de grupos indígenas do Peru e da Bolívia, que teria vivido há 5.000 anos. Santos conta que os descendentes desse “Adão” sul-americano ocuparam os Andes de norte a sul devido à expansão da agricultura que acompanhou o período. Uma ilustração clara de como história e genética caminham juntas na compreensão do passado que une os povos.

Santos, que é o representante do projeto na América do Sul, relata que as pesquisas atrasaram no Brasil por questões burocráticas e, por isso, vão até 2014. Até agora, já foram reunidas 2.300 amostras de DNA de mais de 60 grupos. “Esperamos ter um detalhamento maior da relação do brasileiro com as populações indígenas”, promete.

Os resultados podem ser úteis para entender, também, por que tribos da Amazônia possuem línguas tão diferentes quanto o português e o chinês. “Nada foi registrado antes de os portugueses e espanhóis chegarem na América do Sul, por isso a genética vai ser importante para colocar a história no papel”, resume.

Adão e Eva

Todos nós somos uma mistura de genes dos nossos pais e de nossas mães. Para a sorte dos pesquisadores, partes do DNA são capazes de passar intactas por gerações, sofrendo mutação apenas de tempos em tempos e dando pistas sobre populações que possuem passado em comum.

O estudo da ancestralidade engloba a análise do cromossomo Y, que passa de pai para filho, e do DNA mitocondrial, que passa de mãe para filha. Como as mulheres não têm o Y, elas só podem descobrir sobre seus ancestrais paternos se pai ou irmão fizerem a análise genética.

Quem compra o kit do Projeto Genográfico recebe uma tira que deve ser esfregada na parte interna da bochecha e enviada pelo correio, de forma anônima. O dono da amostra fica com um número, que depois é usado para consultar os resultados no site do projeto.
UOL Ciência e Saúde

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